Exposição à dengue pode proteger contra a microcefalia causada pelo zika vírus
A pesquisa da Fiocruz que estudou a relação entre a exposição ao vírus1 da dengue2 (DENV) e uma possível proteção contra a microcefalia3 causada pelo zika vírus1 (ZIKV) foi publicada na Scientific Reports, uma revista do grupo Nature, e contou com a colaboração de Marilia Sá Carvalho, orientadora do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde4 Pública da Escola Nacional de Saúde4 Pública (Ensp/Fiocruz) e da doutoranda do programa, Laís Freitas, dentre outros colaboradores.
O estudo analisou a interação entre as epidemias de dengue2 de 2001 a 2014 e a de microcefalia3 entre 2015 e 2016, e tem como hipótese que a diferença cinco vezes maior na taxa de neonatos5 microcefálicos no Nordeste, entre 2015 e 2016, em comparação com a taxa das regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, é parcialmente um efeito da imunidade6 anterior da população dessas últimas regiões contra o vírus1 da Dengue2 (DENV), que reage de maneira cruzada com o ZIKV.
Neste estudo ecológico, que tomou como base dados do DataSUS, foi analisada a interação entre as epidemias de dengue2 de 2001 a 2014 e a epidemia de microcefalia3 2015/2016 em 400 microrregiões no Brasil, usando modelos de efeitos aleatórios sob uma abordagem bayesiana. O efeito estimado do intervalo de tempo entre a grande epidemia de dengue2 mais recente (>400/100.000 habitantes) e a epidemia de microcefalia3 variou de proteção (exposição ao vírus1 da dengue2 por período igual ou inferior a seis anos) a um risco aumentado (intervalo de exposição de 7 a 12 anos).
Essa janela de proteção sustentada, maior que a descrita em estudos longitudinais anteriores, é possivelmente um efeito da “imunidade de rebanho” e de múltiplas exposições ao DENV que poderiam aumentar a imunidade6.
Estudos anteriores in vitro já apontaram que anticorpos7 contra o vírus1 da dengue2 podem ter efeito contraditório, dependendo do nível de anticorpos7 presentes.
Leia também sobre "Como combater a dengue2", "Zika vírus1" e "O zika vírus1, a microcefalia3 e a síndrome8 de Guillain-Barré".
Fontes:
Agência Fiocruz de Notícias, em 14 de fevereiro de 2020.
Nature - Scientific Reports, volume 10, de 4 de fevereiro de 2020.