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Células CAR-T modificadas para exibir habilidades semelhantes às de células-tronco têm sua capacidade de combater o câncer aumentada

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Já foi demonstrado que células1 imunológicas produzidas por bioengenharia, as conhecidas células1 CAR-T, atacam e até curam o câncer2, mas elas tendem a ficar exaustas se a luta durar muito tempo.

Agora, duas equipes de pesquisa distintas descobriram uma maneira de rejuvenescer essas células1: torná-las mais parecidas com células-tronco3. Nos estudos, ambos publicados na revista Nature, mostrou-se que as células1 CAR-T duram mais e funcionam melhor se injetadas com uma grande dose de uma proteína que as torna semelhantes às células-tronco3.

Confira a seguir os resumos dos estudos.

Leia sobre "Imunoterapia" e "Células-tronco3: conceito, tipos e uso na Medicina".

FOXO1 é um regulador mestre de programação de memória em células1 CAR-T

Uma limitação importante das terapias com células1 T com receptor de antígeno4 quimérico (CAR) é a fraca persistência dessas células1 in vivo. A expressão de genes associados à memória nas células1 CAR-T está ligada à sua persistência a longo prazo nos pacientes e à eficácia clínica, sugerindo que os programas de memória podem sustentar a função durável das células1 CAR-T.

Neste estudo, mostrou-se que o fator de transcrição FOXO1 é responsável por promover a memória e restringir a exaustão em células1 CAR-T humanas. A inibição farmacológica ou edição genética do FOXO1 endógeno diminuiu a expressão de genes associados à memória, promoveu um fenótipo5 semelhante à exaustão e prejudicou a atividade antitumoral das células1 CAR-T.

A super expressão de FOXO1 induziu um programa de expressão gênica consistente com a memória das células1 T e aumentou a acessibilidade da cromatina6 nos segmentos de ligação ao FOXO1. As células1 CAR-T que super expressaram FOXO1 mantiveram sua função, potencial de memória e aptidão metabólica em ambientes de estimulação crônica e exibiram maior persistência e controle tumoral in vivo.

Em contraste, a super expressão de TCF1 (codificado pelo gene TCF7) não impôs programas de memória canônica nem aumentou a potência das células1 CAR-T.

Notavelmente, a atividade do FOXO1 correlacionou-se com resultados clínicos positivos de pacientes tratados com células1 CAR-T ou linfócitos infiltrantes de tumores, ressaltando a relevância clínica do FOXO1 na imunoterapia contra o câncer2.

Esses resultados mostram que a super expressão de FOXO1 pode aumentar a atividade antitumoral das células1 CAR-T humanas e destacam a reprogramação da memória como uma abordagem amplamente aplicável para otimizar os estados terapêuticos das células1 T.

FOXO1 aumenta a semelhança com células-tronco3 das células1 CAR-T, a aptidão metabólica e a eficácia

A terapia com células1 T com receptor de antígeno4 quimérico (CAR) transformou o tratamento de doenças malignas hematológicas, como leucemia7 linfoblástica aguda, linfoma8 de células1 B e mieloma9 múltiplo, mas a eficácia da terapia com células1 CAR-T em tumores sólidos tem sido limitada. Isto se deve a uma série de fatores, incluindo o microambiente tumoral imunossupressor10 que dá origem a células1 T pouco persistentes e metabolicamente disfuncionais11.

A análise de células1 CAR-T anti-CD19 utilizadas clinicamente mostrou que os resultados positivos do tratamento estão associados a um fenótipo5 mais “semelhante ao de células1-tronco” e ao aumento da massa mitocondrial. Portanto, procurou-se identificar fatores de transcrição que pudessem melhorar a aptidão e a eficácia das células1 CAR-T contra tumores sólidos.

Neste estudo, mostrou-se que a super expressão de FOXO1 promove um fenótipo5 semelhante ao de células-tronco3 em células1 CAR-T derivadas de doadores humanos saudáveis ou de pacientes, o que se correlaciona com melhor aptidão mitocondrial, persistência e eficácia terapêutica12 in vivo.

Este trabalho revela assim uma abordagem de engenharia para reforçar geneticamente um fenótipo5 metabólico favorável que tem alto potencial de tradução para melhorar a eficácia das células1 CAR-T contra tumores sólidos.

Veja também sobre "Câncer2 - informações importantes" e "Edição genética - o que é e para que serve".

 

Fontes:
Estudo 1: Nature, publicação em 10 de abril de 2024.
Estudo 2: Nature, publicação em 10 de abril de 2024.
Nature, notícia publicada em 10 de abril de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Células CAR-T modificadas para exibir habilidades semelhantes às de células-tronco têm sua capacidade de combater o câncer aumentada. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1469012/celulas-car-t-modificadas-para-exibir-habilidades-semelhantes-as-de-celulas-tronco-tem-sua-capacidade-de-combater-o-cancer-aumentada.htm>. Acesso em: 21 mai. 2024.

Complementos

1 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
2 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
3 Células-tronco: São células primárias encontradas em todos os organismos multicelulares que retêm a habilidade de se renovar por meio da divisão celular mitótica e podem se diferenciar em uma vasta gama de tipos de células especializadas.
4 Antígeno: 1. Partícula ou molécula capaz de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substância que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpo.
5 Fenótipo: Características apresentadas por um indivíduo sejam elas morfológicas, fisiológicas ou comportamentais. Também fazem parte do fenótipo as características microscópicas e de natureza bioquímica, que necessitam de testes especiais para a sua identificação, como, por exemplo, o tipo sanguíneo do indivíduo.
6 Cromatina: Também conhecida como cariotina. É a substância constituinte do cromossomo da célula eucarionte e composta de ADN, ARN e proteínas.
7 Leucemia: Doença maligna caracterizada pela proliferação anormal de elementos celulares que originam os glóbulos brancos (leucócitos). Como resultado, produz-se a substituição do tecido normal por células cancerosas, com conseqüente diminuição da capacidade imunológica, anemia, distúrbios da função plaquetária, etc.
8 Linfoma: Doença maligna que se caracteriza pela proliferação descontrolada de linfócitos ou seus precursores. A pessoa com linfoma pode apresentar um aumento de tamanho dos gânglios linfáticos, do baço, do fígado e desenvolver febre, perda de peso e debilidade geral.
9 Mieloma: Variedade de câncer que afeta os linfócitos tipo B, encarregados de produzir imunoglobulinas. Caracteriza-se pelo surgimento de dores ósseas, freqüentemente a nível vertebral, anemia, insuficiência renal e um estado de imunodeficiência crônica.
10 Imunossupressor: Medicamento que suprime a resposta imune natural do organismo. Os imunossupressores são dados aos pacientes transplantados para evitar a rejeição de órgãos ou para pacientes com doenças autoimunes.
11 Disfuncionais: 1. Funcionamento anormal ou prejudicado. 2. Em patologia, distúrbio da função de um órgão.
12 Terapêutica: Terapia, tratamento de doentes.
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