OMS declara pandemia de COVID-19 e The Lancet publica fatores de risco para mortalidade de adultos internados com o novo coronavírus
Durante coletiva de imprensa em 11/03/2020, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde1 (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou que há hoje 118 mil casos de COVID-19 em 114 países, e que 4.291 pessoas perderam a vida por causa da doença. Disse também que estamos todos juntos para fazer as coisas certas com calma e proteger os cidadãos em todo o mundo. E que isso é factível.
Uma pandemia2 ocorre quando uma doença contagiosa3 se alastra em grandes proporções, por um ou mais continentes ou pelo mundo, causando inúmeras mortes e, eventualmente, destruindo cidades ou regiões inteiras. Ela ocorre devido ao aparecimento de uma doença nova para a qual a população não tenha resistência ou quando o agente infeccioso se espalha facilmente. A AIDS e a gripe4 espanhola são exemplos de pandemias. Já o câncer5 é uma doença espalhada por todo o mundo, responsável por inúmeras mortes, mas que não é considerada uma pandemia2 porque não é uma doença contagiosa3.
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Apesar de ser uma doença com baixa letalidade, a COVID-19 é altamente contagiosa3, o que é um perigo para pacientes6 já debilitados por outras condições médicas que afetem suas defesas naturais, e até mesmo para pessoas com idade mais avançada.
Com o objetivo de pesquisar quais são esses fatores de risco que podem contribuir para o aumento da letalidade em adultos internados com o novo coronavírus, um artigo de pesquisadores chineses foi publicado pelo periódico The Lancet.
Em um estudo de coorte7 retrospectivo8, multicêntrico, os pesquisadores incluíram todos os pacientes adultos (≥18 anos de idade) internados pelo Hospital Jinyintan e Hospital Pulmonar Wuhan (Wuhan, China) com COVID-19 confirmado em laboratório que tinham tido alta ou morrido até 31 de janeiro de 2020. Dados demográficos, clínicos, de tratamento e laboratoriais, incluindo amostras em série para detecção de RNA viral, foram extraídos de registros médicos eletrônicos e comparados entre sobreviventes e não sobreviventes. Foram utilizados métodos de regressão logística univariados e multivariados para explorar os fatores de risco associados à morte intra-hospitalar.
191 pacientes (135 do Hospital Jinyintan e 56 do Hospital Pulmonar Wuhan) foram incluídos neste estudo, dos quais 137 tiveram alta e 54 faleceram no hospital. Descobriu-se que 91 (48%) pacientes apresentaram comorbidade9, sendo a hipertensão arterial10 a mais comum (58 [30%] pacientes), seguida por diabetes11 (36 [19%] pacientes) e doença coronariana12 (15 [8%] pacientes).
A regressão multivariável mostrou aumento das chances de morte hospitalar associada à idade avançada (odds ratio 1,10; IC 95% 1,03-1,17, por ano a mais; p=0-0043), pontuação mais alta na Avaliação Sequencial de Falência de Órgãos (SOFA) (5,65; 2,61-12,23; p<0-0001) e d-dímero maior que 1 μg/L (18,42; 2,64-128,55; p=0-0033) na admissão.
A duração média da disseminação viral foi de 20,0 dias (IQR 17,0-24,0) em sobreviventes, mas a síndrome13 respiratória aguda do coronavírus 2 (SARS-CoV-2) foi detectável até a morte em não sobreviventes. A duração mais longa observada de disseminação viral nos sobreviventes foi de 37 dias.
Concluiu-se que os fatores de risco potenciais de idade avançada, escore SOFA elevado e d-dímero superior a 1 μg/L poderiam ajudar os clínicos a identificar pacientes com prognóstico14 ruim em uma fase inicial. A disseminação prolongada do vírus15 fornece a lógica para uma estratégia de isolamento de pacientes infectados e intervenções antivirais ideais no futuro.
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Fonte: The Lancet, em 11 de março de 2020.