Vacina em comprimido contra o norovírus mostra-se promissora para prevenir gastroenterite viral
Um ensaio clínico inicial de uma vacina1 em comprimido contra o norovírus, publicado na revista Science Translational Medicine, mostrou resultados promissores na prevenção da gastroenterite2 aguda causada por esse patógeno, e pesquisadores afirmam que ela poderá estar disponível para uso em alguns anos.
O norovírus é altamente contagioso, infectando o estômago3 e os intestinos4 e causando vômitos5 e diarreia6. A maioria das pessoas se recupera em poucos dias, mas crianças muito pequenas e idosos correm um risco especialmente alto de precisar de hospitalização, o que gera custos significativos para o sistema de saúde7. “Só nos EUA, é um problema de 10 bilhões de dólares por ano”, afirma Sean Tucker, da empresa de biotecnologia Vaxart, em São Francisco, Califórnia, EUA.
Isso motivou cientistas a desenvolverem uma vacina1, mas até agora, os esforços falharam. Isso se deve, em parte, ao fato de que as tentativas anteriores se concentraram no desenvolvimento de vacinas injetáveis, que são menos eficazes na geração de anticorpos8 protetores no intestino, onde o vírus9 se replica, explica Tucker.
Para solucionar esse problema, Tucker e seus colegas desenvolveram anteriormente uma vacina1 oral contra o norovírus que libera uma proteína da variante GI.1 do norovírus diretamente no intestino. Um estudo inicial com adultos com menos de 50 anos descobriu que o comprimido podia gerar anticorpos8 específicos para o norovírus no intestino, mas pessoas nessa faixa etária provavelmente não seriam prioridade para uma vacina1, visto que geralmente se recuperam facilmente do vírus9.
Saiba mais sobre "Norovirose", "Gastroenterite2" e "Diarreia6 aguda".
Agora, os pesquisadores testaram a vacina1 em pessoas nos EUA com idades entre 55 e 80 anos. A equipe administrou o comprimido a 11 delas, enquanto outras 22 tomaram um placebo10. Cerca de um mês depois, os pesquisadores coletaram amostras de sangue11 e saliva dos participantes.
Eles descobriram que as pessoas que tomaram a vacina1 apresentaram níveis mais altos de anticorpos8 IgA, que podem bloquear a entrada do norovírus nas células12. Esses anticorpos8 aumentaram mais de 10 vezes no sangue11 e cerca de sete vezes na saliva, em comparação com as amostras coletadas pouco antes da vacinação. Em contraste, o grupo placebo10 apresentou pouca alteração nos níveis de anticorpos8.
É importante ressaltar que os anticorpos8 ainda estavam presentes seis meses depois nas pessoas que tomaram o comprimido, embora em níveis mais baixos, sugerindo que ele poderia oferecer imunidade13 duradoura. “O fato de terem apresentado essa resposta robusta de anticorpos8 me dá esperança de que a vacina1 possa oferecer proteção contra a infecção”, diz Sarah Caddy, da Universidade Cornell, em Nova York. “Em particular, a resposta de anticorpos8 na saliva é uma forma de obtermos um panorama do que está acontecendo no intestino, já que as respostas imunológicas ali são semelhantes”, afirma.
Mas pesquisas futuras devem explorar se a vacina1 realmente previne a infecção14 ou reduz a disseminação do norovírus, acrescenta. A equipe espera investigar isso.
Além disso, o estudo se concentrou em apenas uma variante do norovírus. “Na vida real, existem dezenas de cepas15 diferentes que você pode encontrar, e a vacina1 pode não proteger contra todas elas”, diz Caddy. Em um estudo ainda não publicado, os pesquisadores descobriram que uma versão da vacina1 contendo as variantes GI.1 e GII.4 do norovírus, esta última atualmente em ascensão no Reino Unido, gerou anticorpos8 contra múltiplas variantes, afirma Tucker.
Isso sugere que poderemos ter uma vacina1 contra o norovírus em breve, conclui Tucker. “Se tudo correr bem, sem problemas de financiamento, uma vacina1 poderá estar disponível dentro de alguns anos”, afirma.
No artigo publicado, os pesquisadores relatam o desenvolvimento de uma vacina1 oral em forma de comprimido contra norovírus, que se mostrou segura e induziu imunidade13 mucosa16 em idosos em um ensaio clínico de fase 1b.
Eles contextualizam que o norovírus é uma das principais causas de gastroenterite2 aguda em todo o mundo, sendo que as infecções17 em idosos estão associadas a maior gravidade e risco de mortalidade18. Atualmente, não existem vacinas licenciadas para prevenir a infecção14 por norovírus.
Desenvolveu-se então um comprimido vacinal de administração oral (VXA-G1.1-NN) que libera um vetor adenoviral não replicante expressando a proteína VP1 do capsídeo principal do norovírus GI.1 no intestino delgado19.
Neste estudo, relatou-se os resultados de segurança e imunogenicidade de um ensaio clínico randomizado20, duplo-cego e controlado por placebo10 que investigou a administração oral de VXA-G1.1-NN em dois grupos de idosos saudáveis com idades entre 55 e 65 anos e entre 66 e 80 anos.
O VXA-G1.1-NN foi administrado por via oral em três níveis de dose, com 28 dias de intervalo entre as doses de imunização21 primária e de reforço. A imunização21 foi bem tolerada, independentemente da dose, com relatos de sintomas22 leves a moderados e sem eventos adversos graves ou de grau 3.
A administração oral de VXA-G1.1-NN induziu a produção de imunoglobulinas23 G (IgG) e IgA específicas para VP1 no soro24, bem como anticorpos8 funcionais, de forma dose-dependente, 28 dias após a vacinação, mantendo-se acima dos níveis basais por 210 dias.
Além disso, células12 circulantes secretoras de anticorpos8 IgA específicos para VP1 foram detectadas uma semana após a vacinação, juntamente com plasmablastos IgA+ expressando o marcador de direcionamento mucoso α4β7. Os níveis de IgA específica para VP1 aumentaram na saliva e no fluido da mucosa16 nasal 28 dias após a vacinação em ambos os grupos etários e permaneceram acima das concentrações basais até 210 dias depois, demonstrando respostas mucosas25 duradouras.
Este ensaio clínico estabeleceu que a administração oral de VXA-G1.1-NN é segura, bem tolerada e induz respostas imunes sistêmicas e mucosas25 robustas em adultos de até 80 anos de idade.
Leia sobre "Vacinas - como funcionam", "Antígenos26 e anticorpos8 - o que são" e "Náuseas27 e vômitos5".
Fontes:
Science Translational Medicine, Vol. 17, N° 788, em março de 2025.
New Scientist, notícia publicada em 05 de março de 2025.










