Pacientes com cirrose e peritonite bacteriana espontânea não devem usar bloqueadores beta não seletivos, de acordo com publicação da Gastroenterology
Bloqueadores beta não seletivos (BBNSs) reduzem a pressão no sistema porta1 e o risco de hemorragia2 por varizes3 em pacientes com cirrose4. No entanto, o desenvolvimento de peritonite5 bacteriana espontânea (PBE) nesses pacientes pode impedir o tratamento com BBNSs por causa de seus efeitos sobre a reserva circulatória. Foram investigados os efeitos dos BBNSs em pacientes com cirrose4 e ascite6 com e sem PBE.
Foi realizada uma análise retrospectiva de dados de 607 pacientes com cirrose4 que fizeram a primeira paracentese7 na Medical University of Vienna entre 2006 e 2011. Modelos de Cox foram calculados para investigar o efeito da BBNSs no tempo de sobrevida8 livre de transplante e ajustados para a classificação de Child-Pugh e a presença de varizes3.
Os BBNSs aumentaram a sobrevida8 livre de transplante em pacientes sem PBE (taxa de risco=0,75; intervalo de confiança de 95%: 0,581-0,968; p=0,027) e reduziram os dias de internação de urgência9 (19,4 dias/ano para pacientes10 em uso de BBNSs versus 23,9 dias/ano para os doentes que não usaram BBNSs). Os BBNSs tiveram apenas efeitos moderados sobre a hemodinâmica11 sistêmica na primeira paracentese7 dos pacientes. No entanto, ao primeiro diagnóstico12 da PBE, a proporção de pacientes hemodinamicamente comprometidos, com pressão arterial sistólica13 (PAS)<100 mmHg, foi maior entre aqueles que receberam BBNSs (38% vs 18% daqueles que não tomavam BBNSs, p=0,002), assim como a proporção de pacientes com pressão arterial14 <82 mmHg (64% daqueles que tomavam BBNSs vs 44% daqueles que não tomavam BBNSs, p=0,006). Entre os pacientes com PBE, os BBNSs reduziram a sobrevida8 livre de transplante (taxa de risco=1,58; intervalo de confiança de 95%: 1,098-2,274, p=0,014) e aumentaram os dias de internação de urgência9 (29,6 dias/pessoa-ano em pacientes em uso de BBNSs vs 23,7 dia/pessoa-ano entre aqueles que não tomavam BBNSs). Uma maior proporção de pacientes em uso BBNSs tinha síndrome15 hepatorrenal (24% vs 11% naqueles que não tomavam BBNSs, p=0,027) e lesão16 renal17 aguda grau C (20% vs 8% para aqueles que não tomavam BBNSs, p=0,021).
Entre os pacientes com cirrose4 e PBE, os BBNSs aumentaram a proporção dos que estão hemodinamicamente comprometidos, o tempo de internação e o risco para a síndrome15 hepatorrenal e para a lesão16 renal17 aguda. Eles também reduziram a sobrevida8 livre de transplante. Pacientes com cirrose4 e PBE não devem receber BBNSs.
Fonte: Gastroenterology, volume 146, número 7, de junho de 2014