Aspirina em baixas doses diárias pode reduzir a incidência de diabetes tipo 2 em idosos
A inflamação1 tem sido implicada na patogênese2 do diabetes3. Este estudo, publicado no The Lancet Diabetes3 & Endocrinology, investigou o efeito do tratamento randomizado4 de aspirina em baixas doses no diabetes tipo 25 incidente6 e nas concentrações de glicose7 plasmática em jejum (GPJ) entre idosos.
ASPREE foi um ensaio duplo-cego, controlado por placebo8, de aspirina oral diária em baixas doses. A população do estudo incluiu indivíduos residentes na comunidade com 70 anos ou mais (≥65 anos para grupos étnicos minoritários dos EUA) nos EUA e na Austrália que estavam livres de doenças cardiovasculares9, deficiência física limitante da independência ou demência10. Para a análise post-hoc, foram excluídos participantes com diabetes3 no início do estudo ou com dados incompletos ou ausentes de diabetes3 incidente6 durante o acompanhamento.
Os participantes foram distribuídos aleatoriamente na proporção de 1:1 para receber 100 mg diários de aspirina com revestimento entérico por via oral ou placebo8. O diabetes3 incidente6 foi definido como diabetes3 autorrelatado, início de medicação para redução da glicose7 ou uma concentração de GPJ de 7,0 mmol/L11 ou mais avaliada em consultas anuais de acompanhamento entre participantes sem diabetes3 no início do estudo.
Utilizou-se modelos de riscos proporcionais de Cox e medidas repetidas de modelo misto para avaliar o efeito da aspirina no diabetes3 incidente6 e nas concentrações de GPJ na população com intenção de tratar. Avaliou-se sangramento maior em participantes que tomaram pelo menos uma dose da medicação do estudo.
Entre 10 de março de 2010 e 24 de dezembro de 2014, um total de 16.209 participantes foram incluídos (8.086 [49,9%] designados aleatoriamente para aspirina e 8.123 [50,1%] designados aleatoriamente para placebo8). Durante um acompanhamento médio de 4,7 anos (IQR 3,6-5,7), foram registrados 995 (em 6,1% dos indivíduos) casos incidentes12 de diabetes tipo 25 (459 no grupo aspirina e 536 no grupo placebo8).
Leia sobre "Diabetes tipo 25", "O que é inflamação1" e "Como medir a glicose7 no sangue13".
Em comparação com o placebo8, o grupo da aspirina teve uma redução de 15% no risco de diabetes3 incidente6 (taxa de risco 0,85 [IC 95% 0,75 a 0,97]; p = 0,013) e uma taxa mais lenta de aumento da concentração de GPJ no ano 5 (estimativa de diferença entre grupos -0,048 mmol/L11 [IC 95% -0,079 a -0,018]; p = 0,0017).
Sangramento maior (sangramento gastrointestinal maior, sangramento intracraniano e sangramento clinicamente significativo em outros locais) ocorreu em 510 (3,2%) de 16.104 participantes (300 [3,7%] no grupo de aspirina e 210 [2,6%] no grupo placebo8). Em comparação com o placebo8, o grupo da aspirina teve um aumento de 44% no risco de sangramento maior (taxa de risco 1,44 [IC 95% 1,21 a 1,72]; p <0,0001).
O estudo concluiu que o tratamento com aspirina reduziu a incidência14 de diabetes tipo 25 e retardou o aumento na concentração de glicose7 plasmática em jejum, mas aumentou o sangramento maior entre os idosos residentes na comunidade.
Dada a crescente prevalência15 de diabetes tipo 25 entre idosos, o potencial dos agentes anti-inflamatórios, como a aspirina, para prevenir o diabetes tipo 25 ou melhorar os níveis de glicose7 justifica um estudo mais aprofundado com uma avaliação abrangente de todos os potenciais eventos de segurança de interesse.
Fonte: The Lancet Diabetes3 & Endocrinology, Vol. 12, Nº 2, em fevereiro de 2024.