Estudo sugere que a dieta mediterrânea pode ser estratégia eficaz para proteger o endotélio de pacientes com doença coronariana
A disfunção endotelial é uma etapa crucial no desenvolvimento da aterosclerose1, e sua gravidade é determinante para o risco de recorrência2 cardiovascular. A dieta pode ser uma estratégia eficaz para proteger o endotélio3, embora não haja consenso sobre o melhor modelo alimentar.
O estudo CORonary Diet Intervention with Olive oil and cardiovascular PREVention (CORDIOPREV) é um estudo prospectivo4, randomizado5, simples-cego, controlado, em andamento em 1.002 pacientes com doença cardíaca coronariana (DCC), cujo objetivo principal é comparar o efeito de 2 padrões alimentares saudáveis (dieta com baixo teor de gordura6 versus dieta mediterrânea7) sobre a incidência8 de eventos cardiovasculares.
Nessa pesquisa, publicada no PLOS Medicine, relata-se os resultados de um desfecho secundário do estudo CORDIOPREV: avaliar o efeito dessas dietas sobre a função endotelial, avaliada por dilatação mediada por fluxo (DMF) da artéria9 braquial.
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Do total de participantes que fizeram parte do estudo CORDIOPREV, 805 completaram a avaliação da função endotelial no início da pesquisa e foram randomizados para seguir uma dieta mediterrânea7 (35% de gordura6, 22% de ácidos graxos monoinsaturados [AGMIs] e <50% de carboidratos) ou uma dieta de baixo teor de gordura6 (28% de gordura6, 12% de AGMIs e >55% de carboidratos), com medição da função endotelial repetida após 1 ano.
Como objetivos secundários e para explorar diferentes mecanismos subjacentes na modulação da função endotelial, quantificou-se micropartículas endoteliais (MPEs) e células11 progenitoras endoteliais (CPEs) e avaliou-se, em 24 pacientes pré-selecionados, processos celulares in vitro relacionados ao dano endotelial (espécies reativas de oxigênio, apoptose12 e senescência) e reparo endotelial (proliferação celular e angiogênese13), bem como outros moduladores (micro-RNAs [miRNAs] e proteínas14).
Pacientes que seguiram a dieta mediterrânea7 tiveram maior DMF (3,83%; intervalo de confiança [IC] de 95%: 2,91–4,23) em comparação com aqueles na dieta com baixo teor de gordura6 (1,16%; IC 95%: 0,80-1,98) com uma diferença entre dietas de 2,63% (IC 95%: 1,89–3,40, p = 0,011), mesmo em pacientes com disfunção endotelial grave.
Observou-se níveis de CPE mais altos (diferença de grupo: 1,64%; IC 95%: 0,79-2,13, p = 0,028) e MPEs mais baixas (diferença de grupo: −755 MPEs/μl; IC 95%: −1,010 a −567, p = 0,015 ) após a dieta mediterrânea7 em comparação à dieta com baixo teor de gordura6 em todos os pacientes.
Também observou-se menor produção intracelular de espécies reativas de oxigênio (ERO) (diferença de grupo: 11,1; IC 95%: 2,5 a 19,6, p = 0,010), apoptose12 celular (diferença de grupo: −20,2; IC 95%: −26,7 a −5,11, p = 0,013) e senescência (18,0; IC 95%: 3,57 a 25,1, p = 0,031), e maior proliferação celular (diferença de grupo: 11,3; IC 95%: 4,51 a 13,5, p = 0,011) e angiogênese13 (comprimento total dos segmentos principais, diferença de grupo: 549; IC 95%: 110 a 670, p = 0,022) após a dieta mediterrânea7 em comparação à dieta com baixo teor de gordura6.
Cada intervenção dietética foi associada a mudanças distintas nos fatores epigenéticos e proteômicos15 que modulam o processo biológico associado à disfunção endotelial. A avaliação da função endotelial é um sub estudo da pesquisa CORDIOPREV. Como em qualquer sub estudo, esses resultados devem ser tratados com cautela, como o potencial para falsos positivos devido à natureza exploratória das análises.
Os resultados sugerem que a dieta mediterrânea7 modula melhor a função endotelial em comparação à dieta com baixo teor de gordura6, e está associada a um melhor equilíbrio da homeostase vascular16 em pacientes com doença cardíaca coronariana, mesmo naqueles com disfunção endotelial grave.
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Fonte: PLOS Medicine, publicação em 9 de setembro de 2020.