Comer à noite está relacionado a maior ingestão de calorias e menor qualidade da dieta
Comer muito à noite aumenta a ingestão energética diária geral e está associado a uma dieta de baixa qualidade em um novo estudo que explorou o conteúdo calórico e o valor nutricional dos alimentos em relação à hora do dia em que são consumidos.
O estudo, apresentado durante o Congresso Europeu e Internacional sobre Obesidade1 deste ano, realizado de modo virtual (European and International Congress on Obesity - ECOICO 2020), foi liderado por Judith Baird, uma estudante de doutorado no Centro de Inovação em Nutrição2 para Alimentos e Saúde3 (NICHE), Universidade de Ulster, Irlanda do Norte.
“Se você comer a maior parte de sua ingestão de calorias4 no início do dia, isso pode ajudar a reduzir sua ingestão geral de calorias”, disse Baird ao Medscape Medical News. Nosso trabalho “sugere que pode ser útil considerar a hora do dia ao desenvolver intervenções nutricionais [para perda de peso e para saúde3] porque ajuda a reduzir a ingestão geral de energia.”
Laura Johnson, PhD, é epidemiologista nutricional da Universidade de Bristol, no Reino Unido. Ela acolheu com prazer as descobertas por esclarecerem como o momento em que comemos pode afetar a saúde3. “Muitos estudos mostraram que comer o café da manhã está normalmente associado a dietas mais saudáveis e esta pesquisa demonstra o outro lado dessa gangorra.”
“O café da manhã é notoriamente a refeição mais rica em nutrientes para a maioria das pessoas e se você comer uma porcentagem maior de suas calorias4 depois das 18 horas, é muito provável que esteja perdendo o café da manhã”, observou Johnson.
Ela acrescentou: “Uma questão notável e importante levantada por este trabalho é se o tempo de alimentação por ele mesmo causa uma dieta mais pobre ou se é simplesmente um reflexo das fortes tradições culturais em torno do tipo de comida que comemos normalmente em diferentes momentos do dia.”
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Em média, as pessoas comem 40% das calorias4 à noite
Para investigar a associação entre comer à noite na ingestão energética diária total e qualidade da dieta, Baird e colegas basearam-se em dados de 1.177 adultos da Pesquisa Nacional de Dieta e Nutrição2 do Reino Unido, que coleta informações detalhadas sobre o consumo de alimentos, ingestão de nutrientes e estado nutricional da população geral do Reino Unido. Os participantes tinham entre 19 e 64 anos.
As categorias foram elaboradas de acordo com a proporção da ingestão energética diária dos participantes consumida após as 18 horas. Os quatro grupos foram o quartil 1, no qual o consumo noturno foi responsável por < 31,4% do consumo total de energia; quartil 2, > 31,4% até 40,4%; quartil 3, > 40,4% até 48,6%; e quartil 4, > 48,6%.
A qualidade da dieta foi avaliada pontuando os diários alimentares mantidos pelos participantes usando o Índice de Alimentos Ricos em Nutrientes, que classifica e ranqueia os alimentos de acordo com a proporção de nutrientes importantes que eles contêm em relação ao seu conteúdo energético. Os pesquisadores não fizeram controle para energia gasta durante a atividade física.
Os resultados mostraram que a proporção média geral de energia consumida à noite foi de quase 40% da ingestão energética total (39,8% ± 13,6%).
“Como vivemos em uma sociedade ocidental e nossas agendas funcionam 24 horas, eu esperava que consumiríamos a maior parte de nossas calorias4 à noite, mas 40% foi bastante alto", observou Baird.
Aqueles que comiam mais à noite tinham dietas de qualidade inferior
Além disso, aqueles com a menor proporção de ingestão de energia à noite (quartil 1, aproximadamente 8.437 kJ/dia ou aproximadamente 2.000 calorias4) tiveram uma ingestão total de energia significativamente menor do que o quartil 2 (aproximadamente 9.284 kJ/dia; P <0,001), quartil 3 (9.108 kJ/dia; P = 0,002) e quartil 4 (9.156 kJ/dia; P = 0,001).
Em termos de qualidade da dieta, aqueles que comeram mais à noite também consumiram uma dieta nutricionalmente mais pobre do que os outros participantes (P = 0,001 para aqueles no quartil 4 vs quartil 1). Indivíduos no quartil 4 tiveram uma pontuação significativamente menor no Índice de Alimentos Ricos em Nutrientes (438) do que aqueles no quartil 1 (459; P = 0,027), quartil 2 (465; P = 0,002) e quartil 3 (463; P = 0, 005).
Baird chamou essas descobertas de “interessantes”.
A porcentagem de ingestão de energia advinda de carboidratos e açúcares totais após as 18 horas pareceu diminuir à medida que a ingestão de energia à noite aumentou do quartil 1 para o quartil 4, enquanto a porcentagem de ingestão de energia advinda de gordura6 e álcool após as 18 horas aumentou.
“A seguir, queremos ver os tipos de alimentos e as circunstâncias alimentares. Por exemplo, [as pessoas] estão comendo em companhia ou sozinhas em frente à televisão? Pode ser que o ambiente em que as pessoas comem impulsione o consumo de alimentos com alta densidade energética... As pessoas costumam ser mais sedentárias à noite e isso pode afetar a escolha dos alimentos”, concluiu Baird.
Baird declarou não haver conflitos de interesse. Johnson relatou financiamento institucional da Kellogg Europe e possui bolsas de pesquisa do National Institutes for Health Research, do Medical Research Council e do World Cancer7 Research Fund.
ECO-ICO 2020. Apresentado de 1º a 4 de setembro de 2020. Resumo 1065, LBA-056.
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Fonte: Medscape, notícia publicada em 14 de setembro de 2020.