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The Lancet: radioterapia sobre o pâncreas na infância pode aumentar risco de diabetes mellitus

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Estudo de coorte1, retrospectivo2, publicado pelo The Lancet Oncology, mostrou que crianças e adultos jovens tratados com radioterapia3 corporal total ou abdominal têm um risco aumentado de resistência à insulina4 e diabetes mellitus5.

Pouco se sabe sobre o efeito da irradiação do pâncreas6 no risco de diabetes mellitus5. Foi avaliada a relação entre a exposição à radiação e a ocorrência de diabetes7 em um grande grupo de sobreviventes de câncer8 infantil.

O estudo foi baseado na coleta de informações através de um questionário enviado para 3.468 sobreviventes de um câncer8 na infância, tratados em oito centros da França e do Reino Unido, entre 1946 e 1985, dos quais 2.520 foram devolvidos. Cada autodeclaração de diabetes7 foi confirmada, através de contato com os médicos dos pacientes. Estimou-se a dose de radiação recebida pela cauda, cabeça9 e corpo do pâncreas6 e 185 outros sítios anatômicos em cada curso de radioterapia3. Foi investigada a relação entre a dose da radiação para o pâncreas6 e o risco de um diagnóstico10 de diabetes mellitus5 subsequente.

Foram validados 65 casos de diabetes7. O risco de diabetes7 aumentou fortemente com a dose de radiação para a cauda do pâncreas6, onde as ilhotas de Langerhans11 estão concentradas. As doses de radiação para as outras partes do pâncreas6 não tiveram um efeito significativo. Em comparação com os doentes que não receberam radioterapia3, o risco relativo de diabetes7 foi de 11,5 em pacientes que receberam 10 Gy (Gray12) ou mais para a cauda do pâncreas6. Os resultados foram inalterados após ajustes para o índice de massa corporal13, apesar de seu forte efeito independente (p <0, 0001) e foram semelhantes entre os dois sexos. Crianças menores de dois anos na época da radioterapia3 foram mais sensíveis à radiação do que os pacientes mais velhos. Para os 511 pacientes que receberam mais de 10 Gy de radiação para a cauda do pâncreas6, a incidência14 cumulativa de diabetes7 foi de 16%.

O estudo fornece evidências de uma relação dose-resposta entre a exposição à radiação do pâncreas6 e o consequente risco de diabetes7. Por causa dos riscos observados e da frequência de diabetes7 na população em geral, este achado levanta importantes questões de saúde15 pública. O pâncreas6 deve ser considerado como um órgão crítico ao planejar a terapia de radiação, particularmente em crianças. O acompanhamento de pacientes que receberam irradiação abdominal deve incluir exames preventivos para o diabetes7.

Fonte: The Lancet Oncology, publicação online de 23 de agosto de 2012 

NEWS.MED.BR, 2012. The Lancet: radioterapia sobre o pâncreas na infância pode aumentar risco de diabetes mellitus. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/314765/the-lancet-radioterapia-sobre-o-pancreas-na-infancia-pode-aumentar-risco-de-diabetes-mellitus.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.

Complementos

1 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
2 Retrospectivo: Relativo a fatos passados, que se volta para o passado.
3 Radioterapia: Método que utiliza diversos tipos de radiação ionizante para tratamento de doenças oncológicas.
4 Resistência à insulina: Inabilidade do corpo para responder e usar a insulina produzida. A resistência à insulina pode estar relacionada à obesidade, hipertensão e altos níveis de colesterol no sangue.
5 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
6 Pâncreas: Órgão nodular (no ABDOME) que abriga GLÂNDULAS ENDÓCRINAS e GLÂNDULAS EXÓCRINAS. A pequena porção endócrina é composta pelas ILHOTAS DE LANGERHANS, que secretam vários hormônios na corrente sangüínea. A grande porção exócrina (PÂNCREAS EXÓCRINO) é uma glândula acinar composta, que secreta várias enzimas digestivas no sistema de ductos pancreáticos (que desemboca no DUODENO).
7 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
8 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
9 Cabeça:
10 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
11 Ilhotas de Langerhans: Estruturas microscópicas irregulares constituídas por cordões de células endócrinas espalhadas pelo PÂNCREAS entre os ácinos exócrinos. Cada ilhota é circundada por fibras de tecido conjuntivo e penetrada por uma rede de capilares. Há quatro tipos principais de células. As células beta, mais abundantes (50-80 por cento) secretam INSULINA. As células alfa (5-20 por cento) secretam GLUCAGON. As células PP (10-35 por cento) secretam o POLIPEPTÍDEO PANCREÁTICO. As células delta (aproximadamente 5 por cento) secretam SOMATOSTATINA.
12 Gray: Em radioterapia, a dose absorvida é medida em rad (do inglês radiation absorbed dose) e significa a energia (dose) realmente absorvida por um corpo específico. 1 rad equivale a 0,01 joules por kg. Atualmente usa-se o gray (Gy) para expressar dose absorvida no sistema internacional (SI), que corresponde a 100 rad (1 joule de energia para 1 kg de massa).
13 Índice de massa corporal: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
14 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
15 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
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