Acidente vascular cerebral: quatro artigos de revisão publicados pelo periódico The Lancet
As principais considerações dos artigos de revisão publicados pelo The Lancet são:
Nutrição1 e AVC
Ao longo das últimas décadas, o aumento global na incidência2 de AVC tem relação com mudanças no estilo de vida, que precisam ser combatidas se quisermos reduzir a ocorrência desta patologia3. Evidências ligando aspectos da nutrição1 ao acidente vascular cerebral4 foram objeto de uma revisão abrangente realizada por Graeme Hankey. Existem relações claras entre a má nutrição5 e o aumento no risco de derrame6.
Subnutrição no útero7 materno, má nutrição5 no primeiro ano da vida, na infância e na idade adulta predispõem ao AVC na vida adulta. O mecanismo que explica este maior risco ainda não está claro. A supernutrição também aumenta o risco de derrame6, provavelmente por acelerar o desenvolvimento da obesidade8, hipertensão arterial9, hiperlipidemia10 e diabetes mellitus11.
Evidências confiáveis sugerem que a suplementação12 dietética com vitaminas antioxidantes, vitaminas do complexo B e cálcio não reduz o risco de AVC. Evidências menos confiáveis sugerem que o AVC pode ser prevenido por dietas como a Dieta Mediterrânea13 ou a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), as quais são pobres em sal e açúcares, ricas em potássio e não excedem calorias14. Ensaios em andamento estão examinando15 os efeitos da suplementação12 de vitamina16 D e do ômega-3 sobre a incidência2 de derrame6.
Um exemplo de uma estratégia potencial de prevenção na população em geral é a redução do consumo de sal, o que parece reduzir o número anual de novos casos de AVC. No entanto, evidências mais contundentes são necessárias para entender os efeitos específicos de vários nutrientes, alimentos e padrões dietéticos sobre o risco de AVC, de modo a preparar intervenções apropriadas para a redução do risco da doença.
Risco de AVC em mulheres: o papel da menopausa17 e da terapia hormonal
Lisabeth Lynda Cheryl Bushnell e colaboradores revisaram os efeitos da menopausa17 e da terapia de reposição hormonal sobre o risco de acidente vascular cerebral4.
Embora as mulheres tenham um menor risco de acidente vascular cerebral4 durante a meia idade, quando comparadas aos homens, a menopausa17 é um período em que muitas delas desenvolvem fatores de risco cardiovasculares. Além disso, durante os dez anos após a menopausa17, o risco de AVC praticamente dobra em mulheres. O declínio de cerca de 60% nas concentrações do estrógeno18 endógeno durante este período, levando a um excesso relativo de andrógenos19, poderia contribuir para o aumento dos fatores de risco cardiovasculares. O início mais precoce da menopausa17 pode afetar o risco de derrame6, mas os dados ainda não são claros.
Por causa do risco de AVC associado à terapia hormonal, ela é recomendada apenas para o tratamento de sintomas20 vasomotores e algumas formulações podem ser mais seguras do que outras. Novas pesquisas são necessárias para entender quais as mulheres que estão em maior risco de AVC durante a meia-idade e identificar os hormônios mais seguros, a dose e a duração ideais da terapia hormonal para cada mulher.
Enxaqueca21 e AVC: uma associação complexa, com implicações clínicas
Marie-Germaine Bousser e colegas revisaram a complexa relação entre enxaqueca21, risco de acidente vascular cerebral4 isquêmico22 e suas implicações diagnósticas e terapêuticas. Como ressaltam os autores, se a enxaqueca21 com aura está relacionada a um aumento no risco de AVC, seu mecanismo fisiopatológico ainda continua a ser estudado e precisa ser determinado.
Enxaqueca21 e AVC são duas doenças comuns com relações neurovasculares heterogêneas e complexas. Os dados não mostram associação entre derrame6 e enxaqueca21 sem aura, de longe o tipo mais comum de enxaqueca21, mas mostram uma duplicação de risco de AVC isquêmico22 em pessoas que têm enxaqueca21 com aura. A aura pode ser desencadeada por vários fatores, incluindo doenças específicas que podem, por si só, aumentar o risco de AVC isquêmico22.
Complicações da hemorragia23 intracerebral
Joyce Balami e Alastair Buchan avaliaram as abordagens de gestão na revisão que fizeram sobre a hemorragia23 intracerebral, o tipo mais grave de AVC. As estratégias basicamente procuram minimizar os danos do AVC e evitar as complicações, como pressão intracraniana elevada, convulsões e infecções24. Em contraste com os avanços no tratamento do AVC isquêmico22, muitos dos procedimentos ou estratégias de tratamento para o AVC hemorrágico25 ainda não foram testados em ensaios clínicos26 randomizados e evidências mais robustas são necessárias para fundamentar recomendações mais confiáveis.
Estes artigos de revisão publicados pelo The Lancet apontam tanto avanços no estudo do AVC quanto a necessidade de evidências mais fortes a serem alcançadas através de investigações epidemiológicas e ensaios clínicos26 sobre intervenções terapêuticas.