As infecções pós-operatórias podem ser causadas principalmente por bactérias da pele dos pacientes
Um novo estudo que utilizou testes genéticos de microbiomas pré-operatórios de pacientes mostra que a maioria das infecções1 de sítio cirúrgico que surgem após uma grande cirurgia da coluna vertebral2 provêm de bactérias que já se encontravam no corpo dos pacientes antes deles entrarem no hospital.
As descobertas, publicadas na revista Science Translational Medicine, ampliam as de estudos mais antigos e mais limitados e contrariam o pensamento convencional sobre a origem das infecções1 cirúrgicas.
Pesquisadores de vários departamentos da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington se uniram no estudo. Usando testes genéticos, eles descobriram que 86% das infecções1 em pacientes que tiveram implantes cirúrgicos instalados na coluna começaram a partir de cepas3 de bactérias transportadas pelo paciente antes da cirurgia. A maioria dessas bactérias (59%) era resistente ao antibiótico administrado durante o procedimento.
“Isso realmente revela o fato de que não temos clareza nesta área, especialmente para um evento que tem um impacto tão grande nos resultados dos pacientes”, disse o Dr. Dustin Long, anestesista e médico intensivista do Harborview Medical Center e autor principal do artigo. “Se você observar onde atualmente concentramos nossos esforços e muitas das diretrizes e produtos comerciais que estão por aí, verá que está muito focado na esterilidade4 do ambiente hospitalar. Certamente não é centrado no paciente ou individualizado de forma significativa.”
Os hospitais tendem a ter padrões de higiene rigorosos, incluindo a esterilização de vestuário e equipamento cirúrgico, para evitar problemas de infecções1, mas um estudo realizado nos EUA concluiu que 3% das pessoas que são operadas são afetadas.
Agora o novo estudo aponta que, em vez de virem do ambiente hospitalar, muitas infecções1 pós-operatórias podem resultar do microbioma5 da pele6 de um indivíduo.
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Em contraste com a redução de outras complicações, a infecção7 continua sendo o principal evento adverso após uma cirurgia. Isso tem grande peso nas medidas de qualidade utilizadas para relatórios públicos e reembolso de seguros. Apesar da adesão dos sistemas de saúde8 às melhores práticas, as taxas de infecção7 de sítio cirúrgico melhoraram pouco nas últimas décadas.
“A infecção7 agora desempenha um papel enorme nos resultados dos pacientes após a cirurgia”, disse Long. “É um problema grande e persistente com potencial para ser exacerbado pelo aumento da resistência aos antibióticos. Parte da razão pela qual persiste é porque não sabemos realmente para onde direcionar os nossos esforços. Para muitos procedimentos cirúrgicos, há simplesmente uma falta de ciência boa e fundamental sobre a origem das infecções1, como elas entram na ferida e como escapam de todas as coisas normais que fazemos para tentar detê-las.”
Long e seus colegas optaram por estudar a cirurgia da coluna vertebral2 por vários motivos, incluindo sua complexidade e sua natureza de muitos recursos. A cirurgia da coluna também é realizada em números semelhantes de homens e mulheres e ao longo da vida, tornando assim os resultados aplicáveis a populações maiores. São também procedimentos relativamente limpos, com pouca contaminação cruzada de outros sistemas corporais.
A infecção7 de sítio cirúrgico ocorre em cerca de 1 em cada 30 procedimentos.
“Não estamos falando de um evento realmente raro”, disse Long. “Evitar a infecção7 97% das vezes pode parecer bom, mas de outra perspectiva, se uma em cada 30 unidades que estavam na linha de produção explodisse sem explicação, isso seria um grande problema. Tem um grande impacto naquele paciente e no sistema de saúde8.”
Os pesquisadores usaram múltiplas formas de análise genômica para obter uma visão9 muito mais detalhada dos microbiomas dos pacientes do que era possível anteriormente. A equipe de pesquisa examinou amostras de pele6, nasais e retais de mais de 200 pacientes cujos procedimentos envolveram a implantação de dispositivos e amostras de infecções1 de feridas de um grupo de 1.400 pacientes submetidos a diversas cirurgias de coluna.
A equipe também conseguiu mapear áreas do corpo onde certas bactérias tendem a se reunir na pele6. Staphylococci, por exemplo, tendem a ser mais densos no pescoço10 e na parte superior das costas11, enquanto outras bactérias como a E. coli são mais provavelmente encontradas na parte inferior das costas11.
“Nunca tivemos um ‘mapa’ como este de como as bactérias que vivem em nossa pele6 podem desempenhar um papel em uma infecção7 em sítio cirúrgico”, acrescentou o Dr. John Lynch, diretor médico do Programa de Prevenção e Controle de Infecções1 de Harborview e um co-autor do estudo. “Agora podemos pensar em como agir para prevenir infecções1 no nível individual do paciente, com base em suas bactérias específicas ou no nível da cirurgia da coluna”.
“Além de esclarecer a origem real dessas infecções1, este estudo mostra como os princípios da ‘medicina personalizada’ podem ser estendidos ao microbioma5 do próprio paciente”, disse o Dr. Stephen Salipante, patologista12 clínico e diretor de serviços de sequenciamento do Microbial Interactions & Microbiome Center da University of Washington Medicine, que foi o autor sênior13 do estudo.
Long disse que as descobertas não isentam os hospitais de assumir a responsabilidade pela prevenção de infecções1. Em vez disso, mostram a necessidade de adotar modelos de prevenção de infecções1 centrados no paciente.
“Incluímos uma declaração no artigo indicando que a equipe de autoria não vê esses resultados como uma ‘saída’ para os hospitais”, disse Long. “Isso deve nos desafiar a assumir a responsabilidade de proteger melhor os pacientes deles mesmos quando entram em um estado vulnerável de cirurgia”.
No artigo publicado, os pesquisadores descrevem a contribuição do microbioma5 do paciente para a infecção7 de sítio cirúrgico e a falha na profilaxia antibiótica em cirurgias de coluna.
Eles relatam que, apesar das modernas técnicas antissépticas, a infecção7 de sítio cirúrgico (ISC) continua sendo uma das principais complicações da cirurgia. No entanto, as origens da ISC e as altas taxas de resistência antimicrobiana observadas nestas infecções1 são pouco compreendidas.
Usando cirurgia instrumentada da coluna como modelo de incisão14 cutânea15 limpa (classe I), amostrou-se prospectivamente microbiomas pré-operatórios e isolados de ISC pós-operatória em uma coorte16 de 204 pacientes. Combinando múltiplas formas de análise genômica, correlacionou-se a identidade, distribuição anatômica e perfis de resistência antimicrobiana de patógenos de ISC com aqueles de cepas3 pré-operatórias obtidas do microbioma5 da pele6 do paciente.
Descobriu-se que 86% das ISC, compreendendo uma ampla gama de espécies bacterianas, originaram-se endogenamente17 de cepas3 pré-operatórias, sem evidência de infecção7 de fonte comum entre um superconjunto de 1.610 pacientes.
A maioria dos isolados de ISC (59%) foram resistentes ao antibiótico profilático administrado durante a cirurgia, e seus fenótipos de resistência correlacionaram-se com o resistoma pré-operatório do paciente (P = 0,0002).
Esses achados indicam a necessidade de estratégias de prevenção de infecções1 de sítio cirúrgico adaptadas ao microbioma5 pré-operatório e ao resistoma presente em pacientes individuais.
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Fontes:
Science Translational Medicine, Vol. 16, Nº 742, em abril de 2024.
UW Medicine, notícia publicada em 09 de abril de 2024.