Injeções mensais podem substituir comprimidos diários de corticosteroides para casos graves de asma
Em casos graves de asma1, comprimidos diários de corticosteroides são frequentemente necessários, mas aumentam o risco de diversas complicações sérias, como diabetes2, infecções3 e problemas ósseos.
Agora, em um estudo publicado no The Lancet Respiratory Medicine, cientistas demonstraram que uma injeção4 mensal de anticorpos5 pode eliminar a necessidade desses comprimidos, se mostrando uma alternativa mais segura.
A asma1 que não é controlada por inaladores pode ser tratada com comprimidos de corticoides, que são eficazes na redução da inflamação6 nas vias aéreas, diminuindo os sintomas7 e o risco de uma crise de asma1, mas apresentam efeitos colaterais8 graves. “Gostaríamos de reduzir ao máximo o uso de esteroides orais pelas pessoas”, diz Fan Chung, do Imperial College London, que não participou do estudo.
Ensaios anteriores mostraram que o tezepelumabe, uma injeção4 mensal de anticorpos5, reduz os sintomas7 da asma1 grave melhor do que uma injeção4 de placebo9. Isso levou à sua aprovação em dezenas de países, incluindo Brasil, Reino Unido e Estados Unidos, nos últimos anos. Mas não estava claro se o medicamento poderia reduzir, ou mesmo eliminar, a necessidade de comprimidos de corticosteroides.
Para explorar essa questão, David Jackson, do hospital Guy’s and St Thomas’ em Londres, e seus colegas recrutaram 298 pessoas com asma1 grave, com idades entre 18 e 80 anos, de 11 países. Os participantes, que usavam inaladores e comprimidos de corticosteroides diariamente, foram solicitados a também tomar tezepelumabe por um ano. Um grupo de controle não foi necessário porque os estudos já demonstraram que as injeções trazem benefícios além do efeito placebo9, afirma Chung.
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Os pesquisadores descobriram que as doses de corticoides orais dos participantes foram gradualmente reduzidas ao longo do estudo, sob a supervisão de seus médicos.
Ao final do ano, cerca de metade dos participantes não precisava mais de comprimidos de corticosteroides e 40% deles conseguiram reduzir a dosagem a um nível em que “os efeitos colaterais8 seriam mínimos”, diz Chung. “É um resultado muito positivo”, afirma ele. “O estudo confirma que o tezepelumabe é um tratamento útil para pacientes10 com asma1 grave, reduzindo a necessidade de comprimidos diários.”
Efeitos colaterais8, como o agravamento dos sintomas7 da asma1, foram observados em 9% dos participantes, mas não está claro se esses efeitos foram causados pelas injeções ou se ocorreriam de qualquer forma, afirma Chung. Seja como for, é uma proporção razoável, considerando os benefícios potenciais da suspensão do uso de comprimidos de corticosteroides, acrescenta ele.
No artigo publicado, os pesquisadores avaliaram a redução e descontinuação de corticosteroides orais em adultos com asma1 grave e não controlada, dependente de corticosteroides, tratados com tezepelumabe.
Eles relatam que o estudo de fase 3 SOURCE, que avaliou a redução do uso de corticosteroides orais (CSO) com tezepelumabe, indicou um efeito de redução de CSO em comparação com placebo9 em pacientes com asma1 dependente de CSO e contagem basal de eosinófilos11 no sangue12 de pelo menos 150 células13 por μL. O estudo WAYFINDER teve como objetivo avaliar ainda mais a capacidade do tezepelumabe de reduzir ou descontinuar o uso de CSO em uma coorte14 maior de pacientes com asma1 grave e não controlada, dependente de CSO.
O WAYFINDER foi um estudo de fase 3b, multicêntrico, de braço único, aberto, que avaliou a redução do uso de CSO. Adultos (com idades entre 18 e 80 anos) com asma1 grave e não controlada, que recebiam uma dose de manutenção de CSO de 5 a 40 mg por dia (ou equivalente) de prednisona ou prednisolona, foram recrutados em 68 centros clínicos em 11 países (Argentina, Bélgica, Bulgária, França, Alemanha, Letônia, México, Polônia, Espanha, Reino Unido e EUA).
Os participantes receberam tezepelumabe 210 mg por via subcutânea15 uma vez a cada 4 semanas, por até 52 semanas. Os desfechos co-primários, avaliados nas semanas 28 e 52, foram a proporção de participantes que reduziram a dose de manutenção prescrita de CSO para 5 mg por dia ou menos, sem perda do controle da asma1, e a proporção de participantes que descontinuaram o CSO sem perda do controle da asma1. As reduções da dose de CSO para menos de 5 mg por dia estavam condicionadas à demonstração de função adrenal preservada pelos participantes.
O estudo WAYFINDER foi conduzido entre 17 de maio de 2022 e 9 de setembro de 2024. No total, 382 participantes foram inscritos e 298 participantes (206 mulheres [69,1%]) receberam tezepelumabe e foram incluídos nas análises de eficácia e segurança.
A dose média basal de manutenção de corticosteroides orais foi de 10,8 (DP 6,5) mg por dia. A proporção de participantes que mantiveram uma dose CSO de 5 mg por dia ou menos, sem perda do controle da asma1, foi de 265 em 298 (88,9% [IC 95% 84,8-92,3]) na semana 28 e de 268 em 298 (89,9% [85,9-93,1]) na semana 52.
A proporção de participantes que descontinuaram o uso de CSO sem perda do controle da asma1 foi de 96 em 298 (32,2% [26,9-37,8]) na semana 28 e de 150 em 298 (50,3% [44,5-56,2]) na semana 52.
A redução e a descontinuação do uso de CSO foram alcançadas em subgrupos pré-especificados com base na contagem basal de eosinófilos11 no sangue12, no nível da fração exalada de óxido nítrico ou no histórico de alergias.
Eventos adversos graves foram relatados em 28 (9,4%) dos 298 participantes (asma1 [13 participantes] e pneumonia16 [3 participantes] foram os mais comuns), e quatro participantes (1,3%) apresentaram eventos adversos que levaram à descontinuação do tezepelumabe. Dois participantes faleceram durante o estudo, mas nenhuma das mortes foi considerada causalmente relacionada ao tratamento com tezepelumabe.
O estudo concluiu que, após 52 semanas de tratamento aberto com tezepelumabe, quase 90% dos pacientes com asma1 grave e não controlada dependente de corticosteroides orais apresentavam uma dose de manutenção de CSO de 5 mg por dia ou menos, e mais de 50% descontinuaram completamente o uso de CSO, mantendo o controle da asma1.
Esses achados indicam que o tratamento com tezepelumabe pode ajudar pacientes com asma1 grave a reduzir o uso de CSO e o ônus associado, com ampla aplicabilidade em diversos fenótipos de pacientes.
Veja também: "Conhecendo melhor os corticoides" e "Antígenos17 e anticorpos5 - o que são".
Fontes:
The Lancet Respiratory Medicine, publicação em 26 de novembro de 2025.
New Scientist, notícia publicada em 26 de novembro de 2025.










