Consumo de vídeos de formato curto foi relacionado a impactos negativos na cognição e na saúde mental
Quanto mais você rola a tela, pior fica sua atenção. Um amplo estudo de 2025, publicado na revista científica Psychological Bulletin, da American Psychological Association, analisou 71 estudos com quase 100.000 pessoas para verificar como vídeos de formato curto, como TikTok, Reels e Shorts, afetam o cérebro1, especificamente a cognição2 e a saúde3 mental. Esta é a maior síntese de evidências até o momento.
As descobertas apontam que vídeos curtos foram associados a pior foco, menor autocontrole e habilidades de raciocínio mais deficientes. Esses efeitos apareceram tanto em adolescentes quanto em adultos em todas as principais plataformas.
Em mais detalhes:
- Relação negativa moderada com a capacidade de raciocínio geral
- Ligação negativa moderada a forte com a capacidade de atenção
- Ligação negativa moderada a forte com o autocontrole
Esses resultados foram consistentes para TikTok, Instagram Reels, YouTube Shorts e Douyin. E o uso mais frequente resultou em uma função cerebral mensuravelmente pior.
A saúde3 mental também foi afetada. Pessoas que assistiam vídeos curtos com mais frequência relataram níveis mais altos de estresse e ansiedade.
Em mais detalhes:
- Fraca relação negativa com a saúde3 mental geral
- Ligação negativa moderada com os níveis de estresse
- Ligação negativa moderada com ansiedade
Essas descobertas também foram consistentes em todas as faixas etárias e plataformas, com maior uso associado a piores resultados de saúde3 mental.
Leia sobre "Concentração mental", "Impulsividade", "Ansiedade normal e patológica" e "Estresse".
Mas, surpreendentemente, vídeos curtos não foram associados a problemas de imagem corporal ou autoestima, diferentemente do que ocorre com os as redes sociais tradicionais. Isso pode refletir a diversidade de conteúdo e criadores nessas plataformas.
Portanto, o dano é cognitivo4 e emocional, não focado na aparência.
E por que isso acontece? Esses aplicativos são construídos com rolagem infinita, reprodução5 automática e vídeos rápidos e altamente estimulantes, que maximizam o engajamento. Esse design promove o uso habitual, a fragmentação da atenção e a desregulação emocional, afetando a forma como o cérebro1 processa informações.
O próprio design da plataforma cria o problema. O cérebro1 é condicionado a pular de uma dose de dopamina6 para a próxima, o que torna mais difícil manter o foco na vida real.
As descobertas não implicam necessariamente que se deva parar totalmente de consumir esse tipo de conteúdo, mas destacam que o cérebro1 precisa de limites. Passar a parte da manhã sem telas, evitar rolar o feed antes de dormir e fazer pausas no conteúdo rápido são algumas formas de proteger a atenção e a mente.
Confira a seguir o resumo do artigo publicado.
Feeds, sentimentos e foco: uma revisão sistemática e metanálise examinando7 os correlatos cognitivos8 e de saúde3 mental do uso de vídeos de formato curto
O ressurgimento dos vídeos de formato curto (VFCs), popularizados pelo TikTok e Douyin, transformou as plataformas de rede social, com recursos como Instagram Reels e YouTube Shorts fomentando sua ampla adoção. Embora inicialmente voltados para o entretenimento, os VFCs são cada vez mais usados na educação, em campanhas políticas, na publicidade e no consumismo, mas seu design, caracterizado por interfaces de rolagem infinita, levantou preocupações sobre vício e implicações negativas para a saúde3.
Dado o recente aumento de estudos sobre aplicativos de VFC, uma síntese abrangente é necessária para esclarecer como o uso de VFCs se relaciona a diferentes indicadores de saúde3. Esta revisão sistemática e investigação metanalítica compreendeu dados de 98.299 participantes em 71 estudos.
O uso aumentado de VFCs foi associado a um pior desempenho cognitivo9 (tamanho médio do efeito moderado, r = -0,34), com a atenção (r = -0,38) e o controle inibitório (r = -0,41) apresentando as associações mais fortes.
Da mesma forma, o uso aumentado de VFCs foi associado a uma pior saúde3 mental (tamanho médio do efeito fraco, r = -0,21), com o estresse (r = -0,34) e a ansiedade (r = -0,33) apresentando as associações mais fortes.
Esses achados foram consistentes entre amostras de jovens e adultos e entre diferentes plataformas de VFCs. Relativamente poucos estudos examinaram domínios cognitivos8 além da atenção e do controle inibitório (por exemplo, memória, raciocínio), destacando direções críticas para pesquisas futuras.
Curiosamente, o uso de VFCs não foi associado à imagem corporal ou à autoestima, o que pode refletir a diversidade de conteúdo e criadores presentes nessas plataformas. Portanto, são necessárias mais pesquisas para esclarecer como diferentes tipos de exposição ao conteúdo podem moldar essas associações.
Em geral, essas descobertas destacam a importância de compreender as implicações mais amplas do uso de VFCs para a saúde3, dado seu papel onipresente no cotidiano e seu potencial para impactar a saúde3, o comportamento e o bem-estar.
Ao sintetizar as evidências atuais, este estudo fornece uma base fundamental para pesquisas futuras que explorem domínios da saúde3 pouco estudados (como saúde3 cognitiva10 e saúde3 física) e oferece insights para orientar o debate público e o desenvolvimento de abordagens baseadas em pesquisa para promover um engajamento mais equilibrado com esses produtos.
Veja também sobre "Brain rot: impacto dos conteúdos rápidos na saúde3 mental", "Nomofobia - a dependência do aparelho celular" e "Síndrome11 FOMO".
Fonte: Psychological Bulletin, Vol. 151, Nº 9, em setembro de 2025.















