Apneia do sono moderada a grave dobrou a incidência de microhemorragias cerebrais
Um estudo de coorte1 longitudinal realizado na Coreia e publicado no JAMA Network Open demonstrou que a apneia obstrutiva do sono2 (AOS) moderada a grave correlacionou-se independentemente com o desenvolvimento de microhemorragias cerebrais observadas em ressonância magnética3 cerebral, as quais estão associadas ao risco de acidente vascular cerebral4 (AVC) e demência5.
A incidência6 cumulativa atingiu 4,66% em 4 anos e 7,25% em 8 anos entre pessoas com pelo menos 15 eventos de apneia7-hipopneia por hora, relataram Chol Shin, MD, PhD, do Instituto de Estudos Genômicos Humanos da Universidade da Coreia, em Seul, e seus colegas.
Após ajuste multivariável, a AOS moderada a grave apresentou um risco 2,14 vezes maior de desenvolver microhemorragias cerebrais no oitavo ano em comparação com a ausência de AOS (P = 0,02).
“Considerando que a apneia obstrutiva do sono2 é um fator de risco8 modificável, esta descoberta sugere que a AOS moderada a grave deve ser um alvo potencial para diagnóstico9 e tratamento precoces, a fim de prevenir microhemorragias cerebrais e, potencialmente, futuros AVCs e demência em populações idosas”, concluíram os pesquisadores.
As microhemorragias cerebrais são lesões10 ovoides hipointensas que aparecem como manchas escuras em exames de imagem, devido a produtos da degradação do sangue11 deixados para trás no parênquima12 cerebral. Elas constituem um dos marcadores precoces de vasculopatia cerebral e estão associadas a um risco aumentado de desenvolver AVC sintomático13 e demência5, escreveu o grupo de Shin.
A AOS também está ligada a AVC, doença de pequenos vasos cerebrais e outras doenças cardiocerebrovasculares.
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“Um mecanismo comum pode ser a hipertensão15, que também está associada à AOS, resultante de episódios repetidos de hipóxia16 durante o sono e da sensibilização do corpo carotídeo17 associada”, escreveram Shin e seus colegas. “A apneia7 do sono também está associada a picos de pressão arterial18, que podem ser particularmente prejudiciais. No entanto, mesmo com o ajuste para hipertensão15 em nossos modelos estatísticos, o risco aumentado de microhemorragias cerebrais associado à apneia obstrutiva do sono2 moderada a grave permaneceu.”
Outros mecanismos potenciais que ligam microhemorragias cerebrais e apneia obstrutiva do sono2 podem ser a hipóxia16 crônica, que desencadeia estresse oxidativo, levando à produção de radicais livres que danificam a vasculatura cerebral e a respostas inflamatórias, “o que, por sua vez, leva à disfunção endotelial e ao aumento da permeabilidade19 vascular20, tornando os vasos mais suscetíveis a sangramentos”, acrescentaram.
No artigo publicado os pesquisadores relatam que a associação entre apneia obstrutiva do sono2 (AOS) e o risco de microhemorragias cerebrais (MHCs) incidentes21 é desconhecida. O objetivo do estudo, portanto, foi investigar a associação entre a gravidade da AOS e o risco de MHCs incidentes21 na população geral de meia-idade avançada.
Este estudo de coorte1 incluiu participantes elegíveis de um estudo de coorte1 longitudinal em andamento de uma comunidade coreana de adultos que tinham dados de polissonografia22 domiciliar noturna e ressonância magnética3 cerebral realizados na linha de base (2011-2014) e em acompanhamentos de 4 anos (primeiro acompanhamento, 2015-2018, e segundo acompanhamento, 2019-2022). Os dados foram analisados de março de 2024 a janeiro de 2025.
A gravidade da AOS foi categorizada pelos níveis do índice de apneia-hipopneia23 como sem AOS (0-4,9 eventos/h), AOS leve (5,0-14,9 eventos/h) e AOS moderada a grave (≥15,0 eventos/h).
As microhemorragias cerebrais foram definidas como áreas focais bem definidas (<10 mm de diâmetro) de intensidade de sinal24 muito baixa em imagens ponderadas em T2* com eco de gradiente. A regressão de Poisson modificada (variância de erro robusta) foi usada para estimar o risco relativo (RR), com ICs de 95%, de MHCs incidentes21 por grupo de AOS; o ajuste foi feito para idade, sexo, nível de escolaridade, índice de massa corporal25, nível de atividade física, tabagismo e consumo de álcool, nível de colesterol26 total e de lipoproteína de baixa densidade, hipertensão15, diabetes27, alterações da substância branca relacionadas à idade, alteração no nível do índice de apneia-hipopneia23, alteração no índice de massa corporal25 e pressão arterial18 média do acompanhamento correspondente.
Dos 1441 participantes do estudo (idade média [DP], 57,75 [5,53] anos; 759 mulheres [52,67%]), 436 participantes (30,25%) e 193 participantes (13,39%) apresentavam AOS leve e moderada a grave na linha de base, respectivamente; 812 participantes não apresentavam AOS.
A taxa de incidência6 cumulativa de MHCs nos grupos sem AOS, com AOS leve e com AOS moderada a grave foi de 15 participantes (1,85%), 7 participantes (1,61%) e 9 participantes (4,66%), respectivamente, aos 4 anos, e de 27 participantes (3,33%), 14 participantes (3,21%) e 14 participantes (7,25%), respectivamente, aos 8 anos.
Em modelos multivariáveis de Poisson modificados, os participantes com AOS moderada a grave, em comparação com o grupo sem AOS, apresentaram um risco aumentado de desenvolver MHCs aos 8 anos (RR, 2,14; IC 95%, 1,08-4,23; P = 0,02).
Esses resultados não foram afetados pela presença ou ausência do status de portador do alelo28 APOE-ε4. Não foram observados riscos significativamente aumentados aos 4 anos ou no grupo com AOS leve em nenhum momento.
Neste estudo, a apneia obstrutiva do sono2 moderada a grave foi associada de forma independente a um risco aumentado de microhemorragias cerebrais incidentes21 durante um acompanhamento de 8 anos. Esses resultados reforçam a importância da apneia7 do sono para a saúde29 cerebral.
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Fontes:
JAMA Network Open, publicação em 28 de outubro de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 04 de novembro de 2025.










