Apneia do sono pode desempenhar um papel no risco de doenças cardiovasculares
Em uma nova pesquisa apresentada na Reunião Anual de 2022 da Associated Professional Sleep Societies (SLEEP), os pesquisadores fornecem uma visão1 geral do impacto da apneia obstrutiva do sono2 (AOS) e da sonolência diurna no aumento do risco de doença cardiovascular aterosclerótica, sugerindo que a apneia3 do sono pode prever um risco aumentado de eventos cardiovasculares adversos maiores futuros.
Liderado por uma equipe de pesquisadores do Brasil e dos EUA, os resultados do estudo fornecem evidências que detalham uma ligação biológica entre pacientes excessivamente sonolentos e maior risco de doenças e eventos cardiovasculares.
Leia sobre "Apneia3 do sono" e "Doenças cardiovasculares4".
Os investigadores, liderados por Érique José Farias Peixoto de Miranda, PhD, da divisão de ensaios clínicos5 do Instituto Butantan em São Paulo, analisaram o papel da AOS e características clínicas associadas na prevalência6, incidência7 e progressão para doença do cálcio arterial coronariano (CAC) em uma coorte8 de participantes do Estudo Longitudinal Brasileiro de Saúde9 do Adulto (ELSA-Brasil) de 2008 a 2013.
“Evidências recentes sugerem que pacientes sintomáticos com AOS são suscetíveis a eventos cardiovasculares”, escreveram eles. “O desenvolvimento da aterosclerose10 é um mecanismo plausível, mas o impacto da AOS na aterosclerose10 não é claro”.
Participantes consecutivos do ELSA-Brasil foram submetidos a avaliações do sono, incluindo questionários, actigrafia11 e estudos domiciliares do sono. Todos os participantes tiveram escores de CAC medidos usando uma tomografia computadorizada12 com multidetectores de 64 cortes.
A aterosclerose10 subclínica prevalente foi definida como um escore de CAC >0 na linha de base. A aterosclerose10 subclínica incidente13 foi definida como CAC inicial = 0 seguido por CAC >0 em uma consulta de acompanhamento de 5 anos. A progressão do CAC foi definida como CAC inicial >0 seguido por um aumento nos escores no acompanhamento.
A associação entre AOS (índice de apneia-hipopneia14 ≥15 eventos/h) e prevalência6, incidência7 e progressão da aterosclerose10 subclínica foi avaliada por meio de regressão logística, ajustada por fatores de risco cardiovascular relevantes. Análises estratificadas com base na sonolência diurna excessiva (SDE) foram realizadas.
Analisou-se 1.956 participantes com escores de CAC disponíveis no início do estudo (idade: 49±8 anos; 57,9% mulheres; 28,2% com AOS).
Foi encontrada maior prevalência6 de aterosclerose10 subclínica em pacientes com AOS (31,3%) em comparação com aqueles sem AOS (19,0%; p <0,001).
Em análises longitudinais (n = 1.247, acompanhamento médio: 5,1±0,9 anos), foi encontrada uma associação significativa entre AOS e incidência7 de aterosclerose10 subclínica entre aqueles que relataram SDE após ajuste para covariáveis (OR=1,97; IC 95%: 1,09-3,55; p = 0,024).
Além disso, a análise da progressão do CAC (n = 319) demonstrou que tanto AOS (β = 1,08; IC 95%: 0,03-2,14; p = 0,043) quanto AOS com SDE (β = 1,66; IC 95%: 0,23-3,04; p = 0,019) foram significativamente associadas à progressão da aterosclerose10.
O estudo concluiu que a apneia obstrutiva do sono2, particularmente com sonolência diurna excessiva, prediz a incidência7 e progressão da aterosclerose10 subclínica, um marcador validado de eventos cardiovasculares futuros.
Esses resultados forneceram plausibilidade biológica para o maior risco cardiovascular observado em pacientes excessivamente sonolentos.
Veja também sobre "Como é o sono e quais os principais transtornos do sono" e "Aterosclerose10".
Fontes:
SLEEP 2022, apresentação em 07 de junho de 2022.
Practical Cardiology, notícia publicada em 11 de junho de 2022.