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Nova imunoterapia proporcionou remissão e sobrevida a longo prazo em pacientes com mieloma múltiplo

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Um grupo de 97 pacientes sofria de mieloma1 múltiplo de longa data, um câncer2 hematológico comum que os médicos consideram incurável, e encaravam uma morte certa e extremamente dolorosa em cerca de um ano.

Eles passaram por uma série de tratamentos, cada um controlando a doença por um tempo. Mas então ela voltou, como sempre acontece. Eles chegaram ao ponto em que não tinham mais opções e estavam em cuidados paliativos3.

Todos receberam imunoterapia, em um estudo que foi um último esforço.

Um terço respondeu tão bem que obteve o que parece ser uma remissão surpreendente. A imunoterapia desenvolvida pela Legend Biotech, uma empresa fundada na China, parece ter feito o câncer2 desaparecer. E depois de cinco anos, ele ainda não retornou nesses pacientes, um resultado nunca antes visto nesta doença.

Esses resultados, em pacientes cuja situação parecia desesperadora, levaram alguns oncologistas americanos, exaustos pela batalha, a ousarem dizer as palavras “cura potencial”.

“Nos meus 30 anos em oncologia, não falamos sobre a cura do mieloma”, disse o Dr. Norman Sharpless, ex-diretor do Instituto Nacional do Câncer2 e agora professor de política e inovação em câncer2 na Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte. “Esta é a primeira vez que estamos realmente falando seriamente sobre a cura de uma das piores doenças malignas imagináveis.”

O novo estudo, divulgado na conferência anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica e publicado no Journal of Clinical Oncology, foi financiado pela Johnson & Johnson, que possui um acordo de licenciamento exclusivo com a Legend Biotech.

Leia sobre "Imunoterapia" e "Mieloma1 múltiplo".

Os 36.000 americanos que desenvolvem mieloma1 múltiplo a cada ano enfrentam uma doença que corrói os ossos, dando a impressão de que buracos foram perfurados neles, disse o Dr. Carl June, da Universidade da Pensilvânia. Os ossos entram em colapso4. O Dr. June já viu pacientes que perderam 15 centímetros de altura.

“É uma morte horrível, horrível”, disse o Dr. June. “Neste momento, o mieloma1 avançado é uma sentença de morte.”

Houve avanços no tratamento que aumentaram a sobrevida5 média de dois para 10 anos nas últimas duas décadas. Mas não há cura.

O Dr. Peter Voorhees, do Atrium Health Levine Cancer2 Institute, na Carolina do Norte, e da Faculdade de Medicina da Universidade Wake Forest, pesquisador principal do estudo recém-publicado, disse que os pacientes geralmente passam por tratamento após tratamento até que, por fim, o câncer2 prevaleça, desenvolvendo resistência a todas as classes de medicamentos. Eles acabam sem nada mais para tentar.

A imunoterapia da Legend é um tipo conhecido como CAR-T. Ela é administrada como uma infusão dos próprios glóbulos brancos do paciente, que foram removidos e modificados para atacar o câncer2. O tratamento revolucionou as perspectivas para pacientes6 com outros tipos de câncer2 no sangue7, como a leucemia8.

Produzir células9 CAR-T, no entanto, é uma arte, com tantas variáveis possíveis que pode ser difícil encontrar uma que funcione. E pode ter efeitos colaterais10 graves, incluindo febre11 alta, dificuldade para respirar e infecções12. Os pacientes podem ficar hospitalizados por semanas após o tratamento. Mas a Legend conseguiu desenvolver uma que funciona no mieloma1 múltiplo, desafiando os céticos.

Um estudo anterior havia testado o tratamento em pacientes cujo mieloma1 havia superado pelo menos um tratamento padrão. Em comparação com os pacientes que receberam o tratamento padrão, aqueles que receberam a imunoterapia viveram mais tempo sem progressão da doença.

A imunoterapia então recebeu aprovação regulatória nesse cenário limitado e é vendida sob a marca Carvykti. O estudo em questão não determinou se esse tratamento difícil salvou vidas.

O novo estudo assumiu um desafio diferente: ajudar pacientes no fim da linha após anos de tratamentos. Seus sistemas imunológicos estavam debilitados. Eles foram, como disseram os oncologistas, “fortemente pré-tratados”. Portanto, embora a CAR-T tenha sido projetada para estimular seus sistemas imunológicos a combater o câncer2, não estava claro se seus sistemas imunológicos estavam à altura.

Oncologistas afirmam que, embora a maioria dos pacientes não tenha eliminado o câncer2, ter um terço que o fez foi notável.

Para ver qual seria a expectativa de vida13 desses pacientes sem a imunoterapia, a Johnson & Johnson analisou dados de pacientes em um registro que eram semelhantes aos do estudo, e eles falharam em todos os tratamentos, vivendo cerca de um ano.

Para Anne Stovell, de Nova York, uma das pacientes do estudo cujo câncer2 desapareceu, o resultado é quase bom demais para ser verdade. Ela diz que tomou nove medicamentos para controlar o câncer2 após o diagnóstico14 em 2010, alguns dos quais tiveram efeitos colaterais10 terríveis. Todos acabaram falhando.

Tomar a terapia CAR-T da Legend foi difícil: ela disse que passou quase três semanas no hospital. Mas, desde aquele tratamento, seis anos atrás, ela não apresenta nenhum sinal15 de câncer2. Ela disse que ainda era difícil acreditar que seu mieloma1 havia desaparecido. Uma nova dor, ou uma antiga, pode trazer o medo.

“Existe aquela pequena semente de dúvida”, disse ela. Mas, em teste após teste, o câncer2 não reapareceu. "É um alívio para mim fazer uma biópsia16 de medula óssea17 todos os anos", disse ela.

Veja também sobre "Sistema imunológico18", "Tumores ósseos: o que são" e "Como evitar o câncer2".

Confira a seguir o resumo do artigo publicado.

Remissão e sobrevida5 a longo prazo (≥5 anos) após tratamento com ciltacabtagene autoleucel em pacientes com mieloma1 múltiplo recidivante19/refratário do CARTITUDE-1

O estudo CARTITUDE-1 avaliou o ciltacabtagene autoleucel (cilta-cel) em pacientes com mieloma1 múltiplo recidivante19/refratário (MMRR) intensamente pré-tratado. Descreveu-se a sobrevida5 global (SG), os desfechos livres de progressão em ≥5 anos, os biomarcadores associados e a segurança, com um acompanhamento mediano do estudo de 61,3 meses.

Para os 97 pacientes tratados, a SG mediana foi de 60,7 meses (IC 95%, 41,9 a não estimável). Um terço (32/97) dos pacientes permanece vivo e livre de progressão por ≥5 anos após uma única infusão de cilta-cel, sem tratamento de manutenção.

Doze desses pacientes tratados em um único centro foram submetidos a avaliações seriadas de doença residual mínima (DRM) e tomografia por emissão de pósitrons, e todos (100%) foram negativos para DRM (limiar de 10-5 pelo menos) e negativos para imagem no ano 5 ou mais tarde após cilta-cel.

As características basais, incluindo a presença de citogenética de alto risco e doença extramedular, foram geralmente comparáveis para os 32 pacientes que estavam livres de progressão por ≥5 anos versus pacientes que tinham doença progressiva no ano 5.

Uma tendência de menor carga tumoral basal, maior fração de células9 T virgens no medicamento cilta-cel, maior razão célula20 T/neutrófilo, hemoglobina21 e plaquetas22 mais elevadas no início do estudo e maior razão efetor/alvo foram associadas ao estado livre de progressão por ≥5 anos.

O perfil de segurança do cilta-cel permaneceu consistente com relatos anteriores. Até onde se sabe, os dados fornecem a primeira evidência de que o cilta-cel é potencialmente curativo em pacientes com MMRR.

 

Fontes:
Journal of Clinical Oncology, publicação em 03 de junho de 2025.
The New York Times, notícia publicada em 03 de junho de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Nova imunoterapia proporcionou remissão e sobrevida a longo prazo em pacientes com mieloma múltiplo. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1491435/nova-imunoterapia-proporcionou-remissao-e-sobrevida-a-longo-prazo-em-pacientes-com-mieloma-multiplo.htm>. Acesso em: 1 jul. 2025.

Complementos

1 Mieloma: Variedade de câncer que afeta os linfócitos tipo B, encarregados de produzir imunoglobulinas. Caracteriza-se pelo surgimento de dores ósseas, freqüentemente a nível vertebral, anemia, insuficiência renal e um estado de imunodeficiência crônica.
2 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
3 Paliativos: 1. Que ou o que tem a qualidade de acalmar, de abrandar temporariamente um mal (diz-se de medicamento ou tratamento); anódino. 2. Que serve para atenuar um mal ou protelar uma crise (diz-se de meio, iniciativa etc.).
4 Colapso: 1. Em patologia, é um estado semelhante ao choque, caracterizado por prostração extrema, grande perda de líquido, acompanhado geralmente de insuficiência cardíaca. 2. Em medicina, é o achatamento conjunto das paredes de uma estrutura. 3. No sentido figurado, é uma diminuição súbita de eficiência, de poder. Derrocada, desmoronamento, ruína. 4. Em botânica, é a perda da turgescência de tecido vegetal.
5 Sobrevida: Prolongamento da vida além de certo limite; prolongamento da existência além da morte, vida futura.
6 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
7 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
8 Leucemia: Doença maligna caracterizada pela proliferação anormal de elementos celulares que originam os glóbulos brancos (leucócitos). Como resultado, produz-se a substituição do tecido normal por células cancerosas, com conseqüente diminuição da capacidade imunológica, anemia, distúrbios da função plaquetária, etc.
9 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
10 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
11 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
12 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
13 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
14 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
15 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
16 Biópsia: 1. Retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinação de um diagnóstico. 2. Exame histológico e histoquímico. 3. Por metonímia, é o próprio material retirado para exame.
17 Medula Óssea: Tecido mole que preenche as cavidades dos ossos. A medula óssea apresenta-se de dois tipos, amarela e vermelha. A medula amarela é encontrada em cavidades grandes de ossos grandes e consiste em sua grande maioria de células adiposas e umas poucas células sangüíneas primitivas. A medula vermelha é um tecido hematopoiético e é o sítio de produção de eritrócitos e leucócitos granulares. A medula óssea é constituída de um rede, em forma de treliça, de tecido conjuntivo, contendo fibras ramificadas e preenchida por células medulares.
18 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
19 Recidivante: Característica da doença que recidiva, que acontece de forma recorrente ou repetitiva.
20 Célula: Unidade funcional básica de todo tecido, capaz de se duplicar (porém algumas células muito especializadas, como os neurônios, não conseguem se duplicar), trocar substâncias com o meio externo à célula, etc. Possui subestruturas (organelas) distintas como núcleo, parede celular, membrana celular, mitocôndrias, etc. que são as responsáveis pela sobrevivência da mesma.
21 Hemoglobina: Proteína encarregada de transportar o oxigênio desde os pulmões até os tecidos do corpo. Encontra-se em altas concentrações nos glóbulos vermelhos.
22 Plaquetas: Elemento do sangue (não é uma célula porque não apresenta núcleo) produzido na medula óssea, cuja principal função é participar da coagulação do sangue através da formação de conglomerados que tamponam o escape do sangue por uma lesão em um vaso sangüíneo.
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