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Nova perspectiva científica propõe teoria da “metainflamação” para explicar origem e evolução da obesidade

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A obesidade1 é uma condição multifatorial e altamente prevalente, cuja origem tem sido amplamente estudada sob diferentes perspectivas. Modelos como a hipótese do genótipo2 econômico, a hipótese Drifty e a capacidade termogênica fornecem explicações evolutivas para a predisposição genética à obesidade1. No entanto, um estudo recente publicado na revista Endocrine Reviews propõe um novo paradigma: a teoria da metainflamação.

Desenvolvida pelo médico e pesquisador Dr. Mario Saad, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em colaboração com o biólogo Andrey Santos, essa hipótese integra conceitos da evolução darwiniana com os avanços da biologia molecular e da microbiota3 para explicar o aumento da obesidade1 na sociedade contemporânea.

Seleção natural e obesidade1: a herança das epidemias

A teoria da metainflamação sugere que genes selecionados ao longo da evolução, especialmente aqueles relacionados à resposta imune robusta durante epidemias, poderiam, hoje, predispor os indivíduos à obesidade1. Em períodos de grande mortalidade4 por doenças infecciosas, os indivíduos com maior capacidade de montar uma resposta inflamatória eficaz tiveram maior sobrevivência5 e transmitiram essa característica genética às gerações seguintes.

Entretanto, esse mesmo mecanismo, vantajoso no passado, pode ser um fator de risco6 na sociedade atual. O ambiente obesogênico moderno, caracterizado por dieta hipercalórica, sedentarismo7 e disfunções na microbiota3 intestinal, favorece a ativação desses genes, levando ao acúmulo de gordura8 e à inflamação9 crônica subclínica.

A conexão entre sistema imune10 e metabolismo11 energético é um dos pilares dessa teoria. Estudos experimentais indicam que processos inflamatórios em tecidos como o hipotálamo12 e o tecido adiposo13 marrom podem favorecer a ingestão excessiva de calorias14 e a redução da termogênese, facilitando o acúmulo de peso.

Leia sobre "Genética - conceitos básicos", "Microbioma15 intestinal" e "Conhecendo o sistema imunológico16".

O papel da microbiota3 e o genótipo2 estendido

Além do componente genético humano, a hipótese da metainflamação também enfatiza o papel da microbiota3 intestinal na obesidade1. Pesquisas mostram que genes bacterianos presentes no intestino influenciam a homeostase energética, a inflamação9 sistêmica e até mesmo a regulação da glicemia17. A obesidade1, portanto, não seria apenas um fenômeno poligênico humano, mas uma interação complexa entre genes do hospedeiro e genes microbianos, formando um genótipo2 estendido.

Esse conceito amplia nossa compreensão sobre a obesidade1, demonstrando que a genética da microbiota3 pode ser um fator crítico na predisposição ao acúmulo de gordura8 e nas respostas metabólicas individuais à dieta e ao ambiente.

Implicações clínicas e novos caminhos terapêuticos

Compreender a obesidade1 sob a ótica da metainflamação pode trazer implicações diretas para a prática médica. Se o processo inflamatório for confirmado como um fator relevante para o surgimento da obesidade1 e suas complicações, isso pode abrir caminho para novas abordagens terapêuticas. O próprio Dr. Mario Saad menciona que medicamentos com efeito anti-inflamatório têm demonstrado impacto significativo no tratamento da obesidade1.

O reconhecimento da obesidade1 como uma condição complexa e não exclusivamente relacionada ao comportamento individual reforça a necessidade de abordagens médicas integradas e baseadas em ciência de precisão.

Confira a seguir o resumo do artigo publicado.

A microbiota3 e a evolução da obesidade1

Pontos essenciais

  • Várias hipóteses foram sugeridas para as origens evolutivas da obesidade1.
  • A metainflamação sugere que genes de defesa de patógenos podem levar à obesidade1 moderna.
  • Genes imunes podem influenciar a obesidade1 por meio de interações do sistema imunológico16 e de armazenamento de energia.
  • A genética da microbiota3 intestinal aumenta a complexidade poligênica da obesidade1.
  • As origens da obesidade1 exigem considerar a história, a genética e a microbiota3 intestinal.

Resumo

A obesidade1 é uma grande preocupação global e geralmente é atribuída a uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Várias hipóteses foram propostas para explicar as origens evolutivas da epidemia de obesidade1, incluindo genótipos econômicos e desviados e mudanças na termogênese.

Neste estudo, apresentou-se a hipótese da metainflamação, que propõe que, devido às intensas pressões de seleção exercidas por patógenos ambientais, genes específicos que ajudam a desenvolver um mecanismo de defesa robusto contra doenças infecciosas tiveram vantagens evolutivas e que isso pode contribuir para a obesidade1 nos tempos modernos devido às conexões entre os sistemas imunológico e de armazenamento de energia.

De fato, incorporar as variações genéticas da microbiota3 intestinal na complexa estrutura genética da obesidade1 a torna mais poligênica do que se acreditava anteriormente.

Assim, descobrir as origens evolutivas da obesidade1 requer uma abordagem multifacetada que considere a complexidade da história humana, a composição genética única de diferentes populações e a influência do microbioma15 intestinal na genética do hospedeiro.

Veja também sobre "O que é inflamação9" e "Metabolismo11: como influencia na perda e ganho de peso".

 

Fontes:
Endocrine Reviews, publicação em 13 de dezembro de 2024.
Medscape, notícia publicada em 30 de janeiro de 2025.

 

NEWS.MED.BR, 2025. Nova perspectiva científica propõe teoria da “metainflamação” para explicar origem e evolução da obesidade. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1481360/nova-perspectiva-cientifica-propoe-teoria-da-metainflamacao-para-explicar-origem-e-evolucao-da-obesidade.htm>. Acesso em: 27 fev. 2025.

Complementos

1 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
2 Genótipo: Composição genética de um indivíduo, ou seja, os genes que ele tem.
3 Microbiota: Em ecologia, chama-se microbiota ao conjunto dos microrganismos que habitam um ecossistema, principalmente bactérias, protozoários e outros microrganismos que têm funções importantes na decomposição da matéria orgânica e, portanto, na reciclagem dos nutrientes. Fazem parte da microbiota humana uma quantidade enorme de bactérias que vivem em harmonia no organismo e auxiliam a ação do sistema imunológico e a nutrição, por exemplo.
4 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
5 Sobrevivência: 1. Ato ou efeito de sobreviver, de continuar a viver ou a existir. 2. Característica, condição ou virtude daquele ou daquilo que subsiste a um outro. Condição ou qualidade de quem ainda vive após a morte de outra pessoa. 3. Sequência ininterrupta de algo; o que subsiste de (alguma coisa remota no tempo); continuidade, persistência, duração.
6 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
7 Sedentarismo: Qualidade de quem ou do que é sedentário, ou de quem tem vida e/ou hábitos sedentários. Sedentário é aquele que se exercita pouco, que não se movimenta muito.
8 Gordura: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Os alimentos que fornecem gordura são: manteiga, margarina, óleos, nozes, carnes vermelhas, peixes, frango e alguns derivados do leite. O excesso de calorias é estocado no organismo na forma de gordura, fornecendo uma reserva de energia ao organismo.
9 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
10 Sistema imune: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
11 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
12 Hipotálamo: Parte ventral do diencéfalo extendendo-se da região do quiasma óptico à borda caudal dos corpos mamilares, formando as paredes lateral e inferior do terceiro ventrículo.
13 Tecido Adiposo: Tecido conjuntivo especializado composto por células gordurosas (ADIPÓCITOS). É o local de armazenamento de GORDURAS, geralmente na forma de TRIGLICERÍDEOS. Em mamíferos, existem dois tipos de tecido adiposo, a GORDURA BRANCA e a GORDURA MARROM. Suas distribuições relativas variam em diferentes espécies sendo que a maioria do tecido adiposo compreende o do tipo branco.
14 Calorias: Dizemos que um alimento tem “x“ calorias, para nos referirmos à quantidade de energia que ele pode fornecer ao organismo, ou seja, à energia que será utilizada para o corpo realizar suas funções de respiração, digestão, prática de atividades físicas, etc.
15 Microbioma: Comunidade ecológica de microrganismos comensais, simbióticos e patogênicos que compartilham nosso espaço corporal. Microbioma humano é o conjunto de microrganismos que reside no corpo do Homo sapiens, mantendo uma relação simbiótica com o hospedeiro. O conceito vai além do termo microbiota, incluindo também a relação entre as células microbianas e as células e sistemas humanos, por meio de seus genomas, transcriptomas, proteomas e metabolomas.
16 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
17 Glicemia: Valor de concentração da glicose do sangue. Seus valores normais oscilam entre 70 e 110 miligramas por decilitro de sangue (mg/dl).

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