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Sensor que pode ser engolido se desenrola no estômago para monitorar a saúde gastrointestinal

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Um sensor que pode ser engolido pode se desenrolar no estômago1, registrando de forma não invasiva sinais2 do sistema nervoso3 para decifrar a digestão4 e a saúde5 intestinal de uma pessoa. A fita de eletrodos poderia, por exemplo, se aninhar no intestino para ajudar a diagnosticar doenças gastrointestinais ligadas à doença de Parkinson6, de acordo com um novo estudo publicado na revista Nature Electronics.

A cápsula do tamanho de um comprimido contém um sensor longo e fino que se expande para se alinhar com a parede interna do estômago1. Num experimento com porcos, o dispositivo mediu com precisão a atividade elétrica das células7 do estômago1 que controlam as contrações dos músculos8 lisos para digerir os alimentos. Em última análise, este dispositivo pode ajudar a diagnosticar distúrbios gastrointestinais, como gastroparesia9 ou paralisia10 do estômago1 e indigestão crônica.

“Temos ferramentas que são muito boas para medir o nosso coração11, mas não temos ótimas ferramentas para medir o trato gastrointestinal”, diz Giovanni Traverso, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Ele compara a inovação a um eletrocardiograma12, que monitora a atividade elétrica do coração11.

Não existe equivalente de eletrocardiograma12 para o intestino, por isso os médicos devem implantar eletrodos por meio de cirurgia ou inserir eletrodos endoscopicamente através da abertura do corpo de um paciente sedado, diz Adam Gierlach, também do MIT e parte da equipe de pesquisa.

Leia sobre "O processo de digestão4 e absorção de alimentos" e "Videoendoscopia por cápsula".

Traverso e seus colegas desenvolveram o dispositivo ingerível “MiGUT” para monitorar o sistema nervoso3 do intestino, que consiste em centenas de milhões de neurônios13, sem cirurgia invasiva. O sensor em forma de fita de 25 centímetros de comprimento do dispositivo contém uma linha de eletrodos de ouro e está alojado dentro de uma cápsula de resina impressa em 3D. Um adesivo solúvel em água cobre um orifício na cápsula. Quando o adesivo entra em contato com o fluido gástrico do estômago1, ele se dissolve e o sensor se desenrola.

“Sempre gosto de pensar em como um dia poderíamos simplesmente enviar para você pelo correio no mesmo dia – essa pílula que você toma – e você nem precisa ir ao hospital”, diz Gierlach.

A pílula MiGUT ainda não está nesse estágio. Os pesquisadores sedaram porcos vivos para inserir endoscopicamente o MiGUT para posicionamento preciso no estômago1. Este teste inicial mostrou que a cápsula e a fita desdobrada poderiam passar pelo sistema gastrointestinal dos porcos sem causar qualquer bloqueio.

A equipe também prendeu o dispositivo na parede do estômago1 de um porco por vários dias. Lá, o MiGUT monitorou com sucesso a atividade elétrica do estômago1 durante os períodos de sono e vigília, juntamente com as refeições.

Eventualmente, o dispositivo futurista poderá fornecer tratamentos para doenças intestinais através de estimulação elétrica a partir de eletrodos adicionais embutidos no sensor, diz Traverso. A sua equipe do MIT recebeu recentemente mais de 65 milhões de dólares em financiamento do governo dos EUA para desenvolver terapias médicas fornecidas por dispositivos ingeríveis.

O potencial do dispositivo versátil “representa um avanço significativo tanto no diagnóstico14 como no tratamento de distúrbios gastrointestinais”, diz Bozhi Tian, da Universidade de Chicago.

Também poderá um dia ajudar no estudo de doenças neurodegenerativas como o Parkinson, observa o artigo. Alterações na função intestinal podem aparecer cerca de 10 anos antes do surgimento de outros sintomas15.

No artigo publicado, os pesquisadores descrevem o desenvolvimento de um dispositivo ingerível para eletrofisiologia gástrica.

Eles contextualizam que o sistema nervoso3 entérico (SNE) contém milhões de neurônios13 e células7 eletricamente ativas associadas que regulam a motilidade e a secreção hormonal no trato gastrointestinal (GI).

A disfunção na sinalização elétrica está associada a uma ampla gama de distúrbios gastrointestinais debilitantes. Estes incluem gastroparesia9, que pode surgir de forma idiopática16 ou como complicação de diabetes17, e dispepsia18 funcional, que tem uma prevalência19 mundial estimada de 10–30%.

Há também evidências crescentes de uma disfunção do eixo intestino-cérebro20 em muitos distúrbios neurológicos; relata-se que pacientes que desenvolvem Parkinson apresentam problemas precoces de motilidade gastrointestinal e problemas gastrointestinais são generalizados em pessoas com transtorno do espectro do autismo.

A capacidade de registrar dados eletrofisiológicos de alta qualidade do trato gastrointestinal e do sistema nervoso3 entérico, portanto, seria útil na compreensão de uma variedade de distúrbios e na melhoria dos cuidados de saúde5 por meio do diagnóstico14 precoce. No entanto, tais medições continuam a ser um desafio porque os eletrodos devem ser implantados cirurgicamente ou usados na pele21, o que resulta num desequilíbrio entre a qualidade do sinal22 e a invasividade.

Neste estudo, relata-se um dispositivo ingerível para eletrofisiologia gástrica. O sistema não invasivo, denominado eletrofisiologia multimodal via rastreamento ingerível, gástrico e sem amarras (MiGUT), consiste em componentes eletrônicos encapsulados e uma fita de eletrodo de detecção que se desenrola no estômago1 após a entrega para fazer contato com a mucosa23. O dispositivo então grava e transmite sinais2 biopotenciais sem fio para um receptor externo.

Mostrou-se que o dispositivo pode registrar sinais2 elétricos – incluindo ondas lentas gástricas, sinais2 de respiração e sinais2 cardíacos – em um modelo animal grande e pode monitorar a atividade de ondas lentas em animais que se movem e se alimentam livremente.

Veja também sobre "Gastroparesia9", "digestão4" e "As relações entre intestino e cérebro20".

 

Fontes:
Nature Electronics, publicação em 06 de maio de 2024.
New Scientist, notícia publicada em 06 de maio de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Sensor que pode ser engolido se desenrola no estômago para monitorar a saúde gastrointestinal. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1469702/sensor-que-pode-ser-engolido-se-desenrola-no-estomago-para-monitorar-a-saude-gastrointestinal.htm>. Acesso em: 24 abr. 2025.

Complementos

1 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
2 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
3 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
4 Digestão: Dá-se este nome a todo o conjunto de processos enzimáticos, motores e de transporte através dos quais os alimentos são degradados a compostos mais simples para permitir sua melhor absorção.
5 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
6 Doença de Parkinson: Doença degenerativa que afeta uma região específica do cérebro (gânglios da base), e caracteriza-se por tremores em repouso, rigidez ao realizar movimentos, falta de expressão facial e, em casos avançados, demência. Os sintomas podem ser aliviados por medicamentos adequados, mas ainda não se conhece, até o momento, uma cura definitiva.
7 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
8 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
9 Gastroparesia: Tipo de neuropatia que afeta o estômago. A digestão dos alimentos pode ser incompleta ou retardada, resultando em náuseas, vômitos ou sensação de plenitude gástrica, tornando o controle glicêmico difícil.
10 Paralisia: Perda total da força muscular que produz incapacidade para realizar movimentos nos setores afetados. Pode ser produzida por doença neurológica, muscular, tóxica, metabólica ou ser uma combinação das mesmas.
11 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
12 Eletrocardiograma: Registro da atividade elétrica produzida pelo coração através da captação e amplificação dos pequenos potenciais gerados por este durante o ciclo cardíaco.
13 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
14 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
15 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
16 Idiopática: 1. Relativo a idiopatia; que se forma ou se manifesta espontaneamente ou a partir de causas obscuras ou desconhecidas; não associado a outra doença. 2. Peculiar a um indivíduo.
17 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
18 Dispepsia: Dor ou mal-estar localizado no abdome superior. O mal-estar pode caracterizar-se por saciedade precoce, sensação de plenitude, distensão ou náuseas. A dispepsia pode ser intermitente ou contínua, podendo estar relacionada com os alimentos.
19 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
20 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
21 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
22 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
23 Mucosa: Tipo de membrana, umidificada por secreções glandulares, que recobre cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
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