A genética, e não a falta de oxigênio, causa paralisia cerebral em um quarto dos casos
O maior estudo mundial sobre genética da paralisia1 cerebral (PC) descobriu que os defeitos genéticos são provavelmente responsáveis por mais de um quarto dos casos em crianças chinesas, em vez da falta de oxigênio no nascimento, como se pensava anteriormente.
O estudo, publicado na revista científica Nature Medicine, utilizou sequenciamento genômico2 moderno e descobriu que havia significativamente mais mutações em casos de PC com asfixia3 ao nascer, indicando que a falta de oxigênio poderia ser secundária ao defeito genético subjacente. Os resultados são consistentes com estudos menores em todo o mundo.
Mais de 1.500 crianças chinesas com PC estiveram envolvidas neste projeto de pesquisa, que foi um esforço colaborativo entre a Universidade de Adelaide, na Austrália, e as Universidades Fudan de Xangai e Zhengzhou, em Zhengzhou, e associados.
A equipe australiana foi liderada pelo obstetra e professor emérito da Universidade de Adelaide, Alastair MacLennan, e pelo geneticista humano, professor Jozef Gecz.
Leia sobre "Paralisia1 cerebral infantil", "Genética - conceitos básicos" e "Asfixia3".
“24,5 por cento das crianças chinesas no estudo tinham variações genéticas raras ligadas à paralisia1 cerebral. Esta revelação reflete nossas descobertas anteriores na nossa coorte4 australiana de paralisia1 cerebral, onde até um terço dos casos têm causas genéticas”, disse o professor Gecz, que é o Chefe de Neurogenética da Universidade de Adelaide na Adelaide Medical School e no Robinson Research Institute.
“Nossa pesquisa mostra que pelo menos alguns bebês5 que sofrem asfixia3 ao nascer e são diagnosticados com PC podem ter um desenvolvimento cerebral inadequado como resultado das variantes genéticas subjacentes, e não da falta de oxigênio.
“Crucialmente, tratamentos clinicamente acionáveis foram encontrados em 8,5 por cento dos casos com causa genética. É emocionante ver como as vias genéticas para a paralisia1 cerebral informam tratamentos personalizados para esses indivíduos”.
A paralisia1 cerebral afeta o movimento e a postura e é a deficiência motora mais comum em crianças. A doença é diagnosticada em até 2 em cada 1.000 crianças em todo o mundo e está por vezes associada à epilepsia6, autismo e dificuldades intelectuais. Os sintomas7 geralmente surgem durante a primeira infância e podem variar de leves a graves.
A equipe de pesquisa identificou 81 genes com mutações causais nas crianças com PC. Sabe-se que esses genes desempenham papéis importantes no desenvolvimento neural e embrionário e podem afetar as vias moleculares responsáveis pela respiração.
“A falta de oxigênio no nascimento é frequentemente considerada a causa da PC em litígios médicos após um diagnóstico8 e isso levou à presunção de que a condição é evitável com melhores trabalhos de obstetrícia ou de parteiras. Este simplesmente não é o caso”, disse o professor MacLennan, que passou os últimos 30 anos defendendo que há poucas evidências científicas para apoiar o mito de que a paralisia1 cerebral se deve a trauma ou falta de oxigênio no nascimento.
O professor MacLennan disse que litígios frequentes têm sido associados a um grande aumento no número de cesarianas “defensivas” e a altos valores de seguro para obstetras.
“Estes resultados destacam a necessidade de testes genéticos precoces em crianças com paralisia1 cerebral, especialmente aquelas com fatores de risco como asfixia3 ao nascer, para garantir que recebam cuidados médicos e tratamento adequados.
“Todas as crianças com paralisia1 cerebral merecem um rastreio genético moderno, pois intervenções precoces e personalizadas podem realmente fazer a diferença e melhorar os seus resultados a longo prazo”, disse ele.
A pesquisa genética em andamento também está investigando outros tipos de variação genética que contribuem para a causa da PC e, como resultado, os pesquisadores esperam que a taxa geral de diagnóstico8 genético provavelmente aumente.
No artigo publicado, os pesquisadores relatam que o sequenciamento do exoma9 revela heterogeneidade genética e achados clinicamente acionáveis em crianças com paralisia1 cerebral.
Eles contextualizam que a paralisia1 cerebral (PC) é a deficiência motora mais comum em crianças. Para determinar o papel das principais variantes genéticas na etiologia10 da PC, conduziu-se o sequenciamento do exoma9 em uma coorte4 em larga escala com manifestações clínicas da PC.
A coorte4 do estudo compreendeu 505 meninas e 1.073 meninos. Utilizando o atual padrão ouro em diagnóstico8 genético, 387 dessas 1.578 crianças (24,5%) receberam diagnóstico8 genético.
Identificou-se 412 variantes patogênicas e provavelmente patogênicas (P/PP) em 219 genes associados a distúrbios do neurodesenvolvimento e 59 variantes P/PP do número de cópias. A taxa de diagnóstico8 genético de crianças com PC marcada ao nascimento com asfixia3 perinatal foi maior do que a taxa em crianças sem asfixia3 (P = 0,0033).
Além disso, 33 crianças com manifestações de PC (8,5%, 33 de 387) apresentaram resultados clinicamente acionáveis.
Estes resultados destacam a necessidade de testes genéticos precoces em crianças com PC, especialmente aquelas com fatores de risco como asfixia3 perinatal, para permitir a tomada de decisões médicas baseadas em evidências.
Veja também sobre "Mutações genéticas", "Atrasos do desenvolvimento" e "Hipóxia11 cerebral".
Fontes:
Nature Medicine, publicação em 01 de maio de 2024.
Science Daily, notícia publicada em 07 de maio de 2024.