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Risco de suicídio 8 vezes maior após diagnóstico de um distúrbio reprodutivo comum

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O suicídio foi substancialmente maior entre mulheres diagnosticadas com síndrome1 dos ovários2 policísticos (SOP), de acordo com um estudo de coorte3 de base populacional de Taiwan, publicado no Annals of Internal Medicine.

Pacientes com diagnóstico4 de SOP tiveram um risco 8,47 vezes maior de tentativa de suicídio em comparação com mulheres sem SOP, descobriram Mu-Hong Chen, MD, PhD, do Hospital Geral de Veteranos de Taipei, em Taiwan, e colegas.

A incidência5 de tentativas de suicídio em mulheres com SOP foi de 3,0%, em comparação com 0,3% entre controles correspondentes.

“Essas descobertas enfatizam a importância da vigilância clínica no monitoramento do bem-estar mental e do risco de suicídio de pacientes diagnosticadas com SOP”, escreveu o grupo de Chen, apontando que a SOP afeta cerca de 6% a 10% das mulheres em idade reprodutiva. Eles aconselharam que as mulheres com SOP com alto risco de suicídio fossem encaminhadas a um psicólogo, psiquiatra ou assistente social.

Leia sobre "Entendendo os ovários2 policísticos", "Suicídio" e "Prevenção ao suicídio".

O risco elevado observado no estudo permaneceu significativo em todas as faixas etárias, mas foi especialmente elevado para mulheres adultas jovens com SOP:

  • Adolescentes: HR 5,38
  • Adultas com menos de 40 anos: HR 9,15
  • Adultas com 40 anos ou mais: HR 3,75

Flutuações comuns nos níveis hormonais típicas da SOP podem ser um fator determinante do risco de suicídio significativamente maior, explicaram os pesquisadores. Essas mulheres provavelmente também terão que lidar com outros problemas, como ganho de peso, acne6 e crescimento excessivo de pelos, o que pode prejudicar sua imagem corporal e autoconfiança.

Mas, particularmente para a faixa etária jovem e adulta, os pesquisadores sugeriram que o suicídio “pode estar relacionado à persistência de sofrimento psicológico, insatisfação corporal e preocupações reprodutivas nessa faixa etária”, além de todos os outros desafios que essas mulheres podem ter maior probabilidade de enfrentar, como desemprego, dificuldades financeiras e problemas de relacionamento.

O fato de a magnitude desse risco excessivo ter sido atenuada com a idade pode refletir a resolução parcial do hiperandrogenismo em mulheres mais velhas com SOP devido ao envelhecimento ovariano e adrenal e à redução da produção de andrógenos7, explicou o grupo de Chen. “A melhora nos níveis hormonais e nos sintomas8 clínicos pode explicar parcialmente o menor risco de suicídio observado em adultas mais velhas com SOP do que em pacientes mais jovens com SOP”.

No artigo, os pesquisadores relatam que existem evidências limitadas sobre o risco de suicídio em pessoas com síndrome1 dos ovários2 policísticos (SOP). Nesse contexto, o objetivo do estudo foi avaliar o risco de suicídio em pessoas com SOP, considerando comorbidades9 psiquiátricas e faixa etária.

Foi realizado um estudo de coorte3 utilizando dados do banco de dados nacional de Taiwan de 1997 a 2012.

Uma coorte10 de 18.960 pacientes com diagnóstico4 de SOP, cada uma pareada com participantes controle em uma proporção de 1:10 com base na idade, comorbidades9 psiquiátricas, nível de urbanização e renda. As tentativas de suicídio foram avaliadas por meio de modelos de regressão de Cox. Foram medidas as taxas de risco (HR) para risco de suicídio.

As participantes com SOP tiveram um aumento notável de 8,47 vezes no risco de tentativa de suicídio em comparação com o grupo controle (HR, 8,47 [IC 95%, 7,54 a 9,51]), após ajuste para características demográficas, comorbidades9 psiquiátricas, pontuações do Índice de Comorbidade11 de Charlson, e frequência de consultas clínicas por todas as causas.

O risco elevado foi evidente entre os grupos de adolescentes (HR, 5,38 [IC, 3,93 a 7,37]), adultas jovens (<40 anos; HR, 9,15 [IC, 8,03 a 10,42]) e adultas mais velhas (HR, 3,75 [IC, 2,23 a 6,28]). As análises de sensibilidade envolvendo a exclusão de dados do primeiro ano ou dos primeiros 3 anos de observação produziram resultados consistentes.

Limitações do estudo incluem potencial subestimação da prevalência12 de SOP e de transtornos mentais devido ao uso de dados de reinvindicações administrativas; falta de dados clínicos, como índice de massa corporal13 e sintomas8 depressivos; e nenhuma avaliação de um efeito de confusão da exposição ao ácido valproico.

Este estudo ressalta o risco elevado de tentativa de suicídio que as pessoas com SOP enfrentam, mesmo após ajuste para dados demográficos, comorbidades9 psiquiátricas, condições físicas e consultas clínicas por todas as causas. Isto sugere a importância do monitoramento rotineiro da saúde14 mental e do risco de suicídio em pessoas com diagnóstico4 de SOP.

Veja também sobre "Depressões", "Tentativas de suicídio" e "Urgências em Psiquiatria".

 

Fontes:
Annals of Internal Medicine, publicação em 06 de fevereiro de 2024.
MedPage Today, notícia publicada em 05 de fevereiro de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Risco de suicídio 8 vezes maior após diagnóstico de um distúrbio reprodutivo comum. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1466607/risco-de-suicidio-8-vezes-maior-apos-diagnostico-de-um-disturbio-reprodutivo-comum.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Ovários: São órgãos pares com aproximadamente 3cm de comprimento, 2cm de largura e 1,5cm de espessura cada um. Eles estão presos ao útero e à cavidade pelvina por meio de ligamentos. Na puberdade, os ovários começam a secretar os hormônios sexuais, estrógeno e progesterona. As células dos folículos maduros secretam estrógeno, enquanto o corpo lúteo produz grandes quantidades de progesterona e pouco estrógeno.
3 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
4 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
5 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
6 Acne: Doença de predisposição genética cujas manifestações dependem da presença dos hormônios sexuais. As lesões começam a surgir na puberdade, atingindo a maioria dos jovens de ambos os sexos. Os cravos e espinhas ocorrem devido ao aumento da secreção sebácea associada ao estreitamento e obstrução da abertura do folículo pilosebáceo, dando origem aos comedões abertos (cravos pretos) e fechados (cravos brancos). Estas condições favorecem a proliferação de microorganismos que provocam a inflamação característica das espinhas, sendo o Propionibacterium acnes o agente infeccioso mais comumente envolvido.
7 Andrógenos: Termo genérico para qualquer composto natural ou sintético, geralmente um hormônio esteróide, que estimula ou controla o desenvolvimento e manutenção das características masculinas em vertebrados ao ligar-se a receptores andrógenos. Isso inclui a atividade dos órgãos sexuais masculinos acessórios e o desenvolvimento de características sexuais secundárias masculinas. Também são os esteróides anabólicos originais. São precursores de todos os estrógenos, os hormônios sexuais femininos. São exemplos de andrógenos: testosterona, dehidroepiandrosterona (DHEA), androstenediona (Andro), androstenediol, androsterona e dihidrotestosterona (DHT).
8 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
9 Comorbidades: Coexistência de transtornos ou doenças.
10 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
11 Comorbidade: Coexistência de transtornos ou doenças.
12 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
13 Índice de massa corporal: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
14 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
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