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Mesmo com a patologia de Alzheimer, estilos de vida saudáveis podem preservar a cognição

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A função cognitiva1 foi melhor para idosos com estilos de vida saudáveis, mesmo que tivessem Alzheimer2 ou outras patologias relacionadas à demência3, mostraram dados de autópsia4.

Um aumento de 1 ponto na pontuação de estilo de vida saudável foi associado a um melhor desempenho cognitivo5 próximo à morte, relataram Klodian Dhana, MD, PhD, do Rush University Medical Center em Chicago, e co-autores.

Após o ajuste para a carga de beta-amiloide, as pontuações de estilo de vida saudável permaneceram independentemente associadas à cognição6, relataram os pesquisadores no artigo publicado no JAMA Neurology.

Da mesma forma, as pontuações foram independentemente associados à cognição6 após ajuste para patologia7 de emaranhado de tau fosforilada ou patologia7 global da doença de Alzheimer8. As pontuações de estilo de vida variaram de 0 a 5 pontos, sendo que pontuações mais altas indicam um estilo de vida mais saudável.

Leia sobre "Demência3", "Alzheimer2" e "Envelhecimento cerebral normal ou patológico".

“Existem muitos estudos epidemiológicos, incluindo o nosso, que apoiam o papel do estilo de vida no risco de demência3”, disse Dhana. “No entanto, à medida que os indivíduos envelhecem, há um acúmulo progressivo de patologias cerebrais relacionadas à demência3, como a beta-amiloide, o que levanta a questão de saber se o estilo de vida está associado à cognição6, independentemente das patologias cerebrais relacionadas à demência”.

Em 2020, a Lancet Commission informou que até 40% dos casos de demência3 podem ser evitados ou adiados pela modificação de 12 fatores de risco, mas se um estilo de vida saudável pode aumentar a “reserva cognitiva” – a capacidade de preservar a cognição6 apesar da patologia7 cerebral – não está claro.

Este estudo pode ajudar os pesquisadores a entender melhor como os fatores de risco modificáveis estão associados à demência3, observaram Yue Leng, PhD, e Kristine Yaffe, MD, ambos da Universidade da Califórnia em São Francisco, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

“Na última década, estudos identificaram um número crescente de novos fatores de risco para demência3 e começaram a descobrir os mecanismos através dos quais esses fatores de risco modificáveis poderiam impactar o envelhecimento cognitivo9 e desencadear intervenções em múltiplos domínios”, escreveram Leng e Yaffe. “Apesar deste progresso contínuo, ainda há questões críticas a serem abordadas em relação aos caminhos mecanísticos que ligam os fatores de risco modificáveis e o envelhecimento cognitivo9 e a direcionalidade desta ligação”.

Este estudo “é um dos primeiros a aproveitar a patologia7 cerebral para investigar estes mecanismos e é um passo crucial na abordagem destas importantes questões”, salientaram os editorialistas. “Há uma necessidade urgente de ensaios clínicos10 randomizados mais bem concebidos para preparar o caminho para a redução do risco de demência3 na era da medicina de precisão”.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que um estilo de vida saudável está associado a um melhor funcionamento cognitivo9 em idosos, mas é incerto se esta associação é independente do acúmulo de patologias relacionadas à demência3 no cérebro11.

Nesse contexto, o objetivo do estudo foi determinar o papel da patologia7 cerebral post-mortem, incluindo carga β-amiloide, emaranhados de tau fosforilada, patologia7 cerebrovascular e outras patologias cerebrais, na associação entre estilo de vida e cognição6 próxima à morte.

Este estudo de coorte12 utilizou dados do Rush Memory and Aging Project, um estudo clínico-patológico longitudinal com dados de autópsia4 de 1997 a 2022 e até 24 anos de acompanhamento. Os participantes incluíram 754 indivíduos falecidos com dados sobre fatores de estilo de vida, testes cognitivos13 próximos à morte e uma avaliação neuropatológica completa no momento dessas análises. Os dados foram analisados de janeiro de 2023 a junho de 2023.

Uma pontuação de estilo de vida saudável foi desenvolvida com base em fatores autorrelatados, incluindo não apresentar tabagismo atual, pelo menos 150 minutos de atividade física por semana, limitação do consumo de álcool, pontuação de dieta da Intervenção Mediterrânea-DASH para Retardo Neurodegenerativo (MIND) superior a 7,5 e uma pontuação de atividade cognitiva1 na idade avançada superior a 3,2. A pontuação do estilo de vida varia de 0 a 5, com pontuações mais altas refletindo um estilo de vida mais saudável.

A pontuação cognitiva1 global foi derivada de uma bateria de dezenove testes padronizados. As medidas de patologia7 cerebral incluíram carga β-amiloide, emaranhados de tau fosforilada, patologia7 global da doença de Alzheimer8, patologias cerebrais vasculares14, corpo de Lewy, esclerose15 hipocampal e proteína 43 de ligação DNA TAR.

Dos 586 falecidos incluídos, 415 (70,8%) eram do sexo feminino, 171 (29,2%) eram do sexo masculino e a idade média (DP) ao óbito16 foi de 90,9 (6,0) anos. Uma pontuação mais alta no estilo de vida foi associada a um melhor funcionamento cognitivo9 global próximo à morte.

No modelo ajustado multivariável, um aumento de 1 ponto na pontuação do estilo de vida foi associado a 0,216 (EP = 0,036, P <0,001) unidades mais altas nas pontuações cognitivas globais.

Nem a força nem o significado da associação mudaram substancialmente quando patologias cerebrais comuns relacionadas à demência3 foram incluídas nos modelos ajustados por múltiplas variáveis.

A estimativa de β após o controle da carga de β-amiloide foi de 0,191 (EP = 0,035; P <0,001). Uma pontuação de estilo de vida mais alta foi associada a menor carga de β-amiloide no cérebro11 (β = -0,120; EP = 0,041; P = 0,003), e 11,6% da associação estilo de vida-cognição6 foi estimada através da carga de β-amiloide.

Este estudo descobriu que, em idosos, um estilo de vida saudável pode proporcionar uma reserva cognitiva1 para manter as capacidades cognitivas independentemente das neuropatologias comuns da demência3.

Veja também sobre "Distúrbio neurocognitivo" e "Doenças nervosas degenerativas17".

 

Fontes:
JAMA Neurology, publicação em 05 de fevereiro de 2024.
MedPage Today, notícia publicada em 05 de fevereiro de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Mesmo com a patologia de Alzheimer, estilos de vida saudáveis podem preservar a cognição. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1466552/mesmo-com-a-patologia-de-alzheimer-estilos-de-vida-saudaveis-podem-preservar-a-cognicao.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
2 Alzheimer: Doença degenerativa crônica que produz uma deterioração insidiosa e progressiva das funções intelectuais superiores. É uma das causas mais freqüentes de demência. Geralmente começa a partir dos 50 anos de idade e tem incidência similar entre homens e mulheres.
3 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
4 Autópsia: 1. Em medicina legal, necropsia ou autópsia é o exame minucioso de um cadáver, realizado por especialista qualificado, para determinar o momento e a causa da morte. 2. Exame, inspeção de si próprio. No sentido figurado, é uma análise minuciosa; crítica severa.
5 Desempenho cognitivo: Desempenho dos processos de aprendizagem e de aquisição de conhecimento através da percepção.
6 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
7 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
8 Doença de Alzheimer: É uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecidos que acomete preferencialmente as pessoas idosas. É uma forma de demência. No início há pequenos esquecimentos, vistos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta e acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho. Tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares como alimentação, higiene, vestuário, etc..
9 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
10 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
11 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
12 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
13 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
14 Vasculares: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
15 Esclerose: 1. Em geriatria e reumatologia, é o aumento patológico de tecido conjuntivo em um órgão, que ocorre em várias estruturas como nervos, pulmões etc., devido à inflamação crônica ou por razões desconhecidas. 2. Em anatomia botânica, é o enrijecimento das paredes celulares das plantas, por espessamento e/ou pela deposição de lignina. 3. Em fitopatologia, é o endurecimento anormal de um tecido vegetal, especialemnte da polpa dos frutos.
16 Óbito: Morte de pessoa; passamento, falecimento.
17 Degenerativas: Relativas a ou que provocam degeneração.
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