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Demência de início precoce foi associada a novos fatores de risco, incluindo deficiência de vitamina D e níveis elevados de proteína C reativa

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Quatro novos fatores de risco para demência1 de início precoce foram identificados em um estudo prospectivo2 do UK Biobank, publicado no JAMA Neurology.

Hipotensão3 ortostática, deficiência de vitamina4 D, níveis elevados de proteína C reativa (PCR5) e isolamento social surgiram como novos fatores de risco para demência1 antes dos 65 anos, relataram Stevie Hendriks, PhD, da Universidade de Maastricht, na Holanda, e co-autores.

Durante 8 anos de acompanhamento, a taxa de incidência6 de demência1 de início precoce foi de 16,8 por 100.000 pessoas-ano. A incidência6 aumentou em faixas de 5 anos, dos 40 aos 64 anos, e foi maior nos homens do que nas mulheres.

Muitas pessoas com demência1 de início precoce têm entre 40 e 50 anos. Estimativas recentes sugerem que a demência1 de início precoce afeta cerca de 200.000 pessoas nos EUA.

“A demência1 de início precoce tem um impacto muito sério, porque as pessoas afetadas geralmente ainda têm emprego, filhos e uma vida ocupada”, disse Hendriks. “Muitas vezes presume-se que a causa seja genética, mas para muitas pessoas não sabemos exatamente qual é a causa”.

“Já sabíamos, através de pesquisas sobre pessoas que desenvolvem demência1 em idades mais avançadas, que existe uma série de fatores de risco modificáveis”, acrescentou. “Este estudo mostra que existem vários fatores modificáveis que também estão associados à demência1 de início precoce”.

Cerca de 40% dos casos de demência1 de início tardio podem ser prevenidos ou retardados através da modificação de 12 fatores de risco, de acordo com a Lancet Commission.

Saiba mais sobre "Demência1", "Demência1 vascular7" e "Demência1 frontotemporal".

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que há informações limitadas sobre fatores de risco modificáveis para demência1 de início precoce (DIP). O objetivo do estudo, portanto, foi examinar os fatores associados à incidência6 de DIP.

Este estudo de coorte8 prospectivo2 utilizou dados do UK Biobank, com avaliação inicial entre 2006 e 2010 e acompanhamento até 31 de março de 2021, para Inglaterra e Escócia, e 28 de fevereiro de 2018, para País de Gales. Participantes com menos de 65 anos e sem diagnóstico9 de demência1 na avaliação inicial foram incluídos neste estudo. Foram excluídos os participantes com 65 anos ou mais e aqueles com demência1 no início do estudo. Os dados foram analisados no período de maio de 2022 a abril de 2023.

Um total de 39 fatores de risco potenciais foram identificados a partir de revisões sistemáticas de fatores de risco de demência1 de início tardio e demência1 de início precoce e agrupados em domínios de fatores sociodemográficos (educação, status socioeconômico e sexo), fatores genéticos (apolipoproteína E), fatores de estilo de vida (atividade física, uso de álcool, transtorno por uso de álcool, tabagismo, dieta, atividade cognitiva10, isolamento social e casamento), fatores ambientais (óxido de nitrogênio, material particulado, pesticidas e diesel), fatores de marcadores sanguíneos (vitamina4 D, proteína C reativa, função da taxa de filtração glomerular estimada e albumina11), fatores cardiometabólicos (acidente vascular cerebral12, hipertensão13, diabetes14, hipoglicemia15, doença cardíaca, fibrilação atrial e uso de aspirina), fatores psiquiátricos (depressão, ansiedade, uso de benzodiazepínicos, delírio16 e problemas de sono) e outros fatores (lesão17 cerebral traumática, artrite reumatoide18, disfunção tireoidiana, deficiência auditiva e força de preensão manual).

A regressão multivariada de riscos proporcionais de Cox foi utilizada para estudar a associação entre os fatores de risco e a incidência6 de DIP. Os fatores foram testados passo a passo, primeiro dentro dos domínios e depois entre domínios.

Dos 356.052 participantes incluídos, 197.036 (55,3%) eram mulheres, e a idade média (DP) no início do estudo era de 54,6 (7,0) anos. Durante 2.891.409 pessoas-ano de acompanhamento, foram observados 485 casos incidentes19 de DIP (251 de 485 homens [51,8%]), produzindo uma taxa de incidência6 de 16,8 por 100.000 pessoas-ano (IC 95%, 15,4-18,3).

No modelo final, os fatores significativamente associados ao maior risco de demência1 de início precoce foram:

Maior escolaridade formal, menor fragilidade física (avaliada pela força de preensão manual) e uso de álcool foram associados a menor risco de demência1 de início precoce.

A hipotensão3 ortostática foi relatada como um fator de risco21 para demência1 de início tardio em uma revisão recente, observaram Hendriks e colegas. “Além disso, a hipotensão3 ortostática também pode ser um sinal22 precoce de demência1 de Parkinson ou demência1 por corpos de Lewy, às vezes ocorrendo anos ou décadas antes do diagnóstico9, explicando a causalidade reversa que encontramos em nossa análise de sensibilidade”.

“Descobrimos que tanto a deficiência de vitamina4 D como os níveis elevados de proteína C reativa (PCR5) estavam associados ao aumento do risco de demência1 de início precoce”, acrescentou a equipe. “Foi sugerido que a vitamina4 D atua como um neuroesteroide que protege contra processos neurodegenerativos. Notavelmente, a PCR5 só foi significativamente associada à demência1 de início precoce quando a vitamina4 D foi incluída no modelo”.

Outras descobertas podem ser influenciadas pela causalidade reversa, uma vez que a patologia23 da demência1 pode começar anos antes dos sintomas24 clínicos, reconheceram os pesquisadores. Alguns fatores de risco podem refletir uma etiologia25 subjacente, como a demência1 devido a acidente vascular cerebral12. Além disso, a coorte26 do UK Biobank está super-representada por indivíduos saudáveis e brancos, e os resultados podem não se aplicar a outras populações.

“Com a validação externa dos nossos resultados, mais fatores de risco para a demência1 de início precoce poderiam ser incorporados na estratégia de prevenção comunicada pela Lancet Comission”, escreveram Hendriks e co-autores.

Neste estudo, portanto, vários fatores, principalmente modificáveis, foram associados a um maior risco de DIP. Estes fatores de risco modificáveis devem ser incorporados em futuras iniciativas de prevenção da demência1 e levantar novas possibilidades terapêuticas para a DIP.

Leia sobre "Distúrbio neurocognitivo" e "Surdez em idosos e o risco de demência1".

 

Fontes:
JAMA Neurology, publicação em 26 de dezembro de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 26 de dezembro de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Demência de início precoce foi associada a novos fatores de risco, incluindo deficiência de vitamina D e níveis elevados de proteína C reativa. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1463432/demencia-de-inicio-precoce-foi-associada-a-novos-fatores-de-risco-incluindo-deficiencia-de-vitamina-d-e-niveis-elevados-de-proteina-c-reativa.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
2 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
3 Hipotensão: Pressão sanguínea baixa ou queda repentina na pressão sanguínea. A hipotensão pode ocorrer quando uma pessoa muda rapidamente de uma posição sentada ou deitada para a posição de pé, causando vertigem ou desmaio.
4 Vitamina: Compostos presentes em pequenas quantidades nos diversos alimentos e nutrientes e que são indispensáveis para o desenvolvimento dos processos biológicos normais.
5 PCR: Reação em cadeia da polimerase (em inglês Polymerase Chain Reaction - PCR) é um método de amplificação de DNA (ácido desoxirribonucleico).
6 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
7 Vascular: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
8 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
9 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
10 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
11 Albumina: Proteína encontrada no plasma, com importantes funções, como equilíbrio osmótico, transporte de substâncias, etc.
12 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
13 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
14 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
15 Hipoglicemia: Condição que ocorre quando há uma queda excessiva nos níveis de glicose, freqüentemente abaixo de 70 mg/dL, com aparecimento rápido de sintomas. Os sinais de hipoglicemia são: fome, fadiga, tremores, tontura, taquicardia, sudorese, palidez, pele fria e úmida, visão turva e confusão mental. Se não for tratada, pode levar ao coma. É tratada com o consumo de alimentos ricos em carboidratos como pastilhas ou sucos com glicose. Pode também ser tratada com uma injeção de glucagon caso a pessoa esteja inconsciente ou incapaz de engolir. Também chamada de reação à insulina.
16 Delírio: Delirio é uma crença sem evidência, acompanhada de uma excepcional convicção irrefutável pelo argumento lógico. Ele se dá com plena lucidez de consciência e não há fatores orgânicos.
17 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
18 Artrite reumatóide: Doença auto-imune de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite periférica, simétrica, que leva à deformidade e à destruição das articulações por erosão do osso e cartilagem. Afeta mulheres duas vezes mais do que os homens e sua incidência aumenta com a idade. Em geral, acomete grandes e pequenas articulações em associação com manifestações sistêmicas como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. Quando envolve outros órgãos, a morbidade e a gravidade da doença são maiores, podendo diminuir a expectativa de vida em cinco a dez anos.
19 Incidentes: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
20 Alelos: 1. Que ocupa os mesmos loci (locais) nos cromossomos (diz-se de gene). 2. Em genética, é cada uma das formas que um gene pode apresentar e que determina características diferentes.
21 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
22 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
23 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
24 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
25 Etiologia: 1. Ramo do conhecimento cujo objeto é a pesquisa e a determinação das causas e origens de um determinado fenômeno. 2. Estudo das causas das doenças.
26 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
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