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Esperar pelo menos 2 minutos para clampear o cordão umbilical melhora as taxas de sobrevivência de prematuros

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Pouco depois do nascimento do bebê, os médicos fazem o clampeamento do cordão umbilical1 que liga o bebê à placenta, que ainda está dentro do útero2 da mãe, e depois o cortam. Uma nova pesquisa mostra que se os médicos esperarem pelo menos dois minutos após o nascimento para clampear o cordão umbilical1, melhorarão significativamente as taxas de sobrevivência3 hospitalar dos bebês4 prematuros.

Acredita-se que o clampeamento tardio do cordão umbilical1 – uma intervenção que pode ser introduzida a um custo relativamente baixo – ajuda porque permite que o sangue do cordão umbilical5, que é rico em ferro, células-tronco6 e anticorpos7, flua de volta para o bebê.

Alguns especialistas dizem que não está totalmente claro por que a estratégia parece ajudar, mas que os dados são convincentes.

Como funciona: os médicos esperam para cortar o cordão umbilical1

O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas já recomenda atrasar o clampeamento em 30 a 60 segundos para recém-nascidos a termo e prematuros.

Bebês4 prematuros são aqueles que nascem antes das 37 semanas de gestação. Em bebês4 prematuros, o clampeamento tardio leva à melhora da circulação8, menor necessidade de transfusões de sangue9 e menor incidência10 de complicações graves, como enterocolite necrosante11 ou inflamação12 do trato digestivo.

As evidências sobre se a prática é benéfica para eles têm sido inconsistentes, de acordo com Anna Lene Seidler, autora principal de dois novos artigos de revisão e pesquisadora sênior13 da Universidade de Sydney, na Austrália.

A nova pesquisa também procurou determinar o tempo ideal de espera antes do clampeamento. Os atrasos mais longos estudados foram três minutos após o nascimento.

“Descobrimos que quanto mais esperarmos, melhor é, e mais poderemos reduzir a mortalidade”, disse a Dra. Seidler. “Ficamos surpresos com a consistência das descobertas.”

Os dois novos artigos, publicados no The Lancet, analisaram dezenas de estudos envolvendo milhares de bebês4 nascidos em hospitais de vários países, incluindo Grã-Bretanha, Índia, Irã e Estados Unidos.

Saiba mais sobre "Anomalias do cordão umbilical1", "Parto prematuro" e "Prematuridade e os cuidados necessários com os prematuros"

Os números: um adiamento de dois minutos parece ideal

Uma das revisões comparou a eficácia de três técnicas: clampeamento imediato do cordão umbilical1, clampeamento tardio e ordenha de um cordão umbilical1 intacto para que mais sangue9 fluísse para o recém-nascido.

O artigo examinou 48 ensaios randomizados e analisou dados de 6.367 bebês4, descobrindo que o clampeamento tardio do cordão umbilical1 reduziu as mortes hospitalares de recém-nascidos prematuros em um terço, em comparação com o clampeamento imediato do cordão umbilical1. Não houve diferenças estatisticamente significativas entre quaisquer outras intervenções.

Uma segunda revisão e metanálise, que incluiu dados de 47 ensaios com 6.094 participantes, comparou a ordenha do cordão umbilical1 com o clampeamento imediato menos de 45 segundos após o nascimento, entre 45 segundos e até 120 segundos após o nascimento, e dois minutos ou mais após o nascimento.

A análise descobriu que o adiamento mais longo do clampeamento aumentou mais a sobrevivência3, em comparação com o clampeamento imediato. Mas os autores observaram que se o recém-nascido necessitasse de reanimação imediata, o cordão deveria ser mantido intacto apenas enquanto a reanimação pudesse ser realizada ao mesmo tempo.

Por que é importante: o clampeamento tardio pode ser implementado rapidamente

Em todo o mundo, nascem cerca de 13 milhões de bebês4 prematuros todos os anos e quase um milhão deles morre um mês após o nascimento. Uma intervenção de baixo custo e baixa tecnologia, como o clampeamento tardio do cordão umbilical1, tem o potencial de salvar muitas vidas.

Os nascimentos prematuros são uma enorme questão nos Estados Unidos, onde uma em cada 10 crianças nasce prematuramente. As taxas são mais altas entre bebês4 negros e nativos americanos do que entre bebês4 brancos e hispânicos.

O nascimento prematuro é uma das principais causas de morte entre crianças americanas. As taxas de mortalidade infantil14 aumentaram no ano passado pela primeira vez em décadas, de acordo com o Centro Nacional de Estatísticas de Saúde15. As mortes são mais comuns entre bebês4 negros.

Mas implementar uma mudança nas diretrizes para atrasar o clampeamento do cordão umbilical1 por dois minutos ou mais pode ser complicado. Muitos bebês4 prematuros nos Estados Unidos nascem de cesariana e necessitam de reanimação.

Um atraso pode significar que o equipamento necessário tenha de ser levado para a sala de cirurgia, mesmo que devesse ser mantido em um ambiente estéril, como uma unidade de terapia intensiva16 neonatal, disse o Dr. Anup Katheria, diretor de pesquisa neonatal do Hospital Sharp Mary Birch para Mulheres e Recém-nascidos em San Diego.

“Não creio que saibamos todas as ramificações que uma mudança nas diretrizes pode acarretar”, disse o Dr. Katheria. “Mas se isso realmente reduz o risco de morte, por que você cortaria o cordão umbilical1?”

Confira a seguir os resumos dos artigos.

Clampeamento tardio do cordão umbilical1, ordenha do cordão umbilical1 e clampeamento imediato do cordão umbilical1 no parto prematuro

As estratégias de clampeamento do cordão umbilical1 no parto prematuro têm o potencial de afetar importantes resultados de saúde15. O objetivo deste estudo foi comparar a eficácia do clampeamento tardio do cordão umbilical1, da ordenha do cordão umbilical1 e do clampeamento imediato do cordão umbilical1 na redução da mortalidade17 e morbidade18 neonatal no parto prematuro.

Realizou-se uma revisão sistemática e metanálise de dados individuais dos participantes. Foram pesquisados bancos de dados médicos e registros de ensaios (desde o início do banco de dados até 24 de fevereiro de 2022; atualizado em 6 de junho de 2023) para ensaios clínicos19 randomizados comparando clampeamento tardio (também conhecido como diferido), ordenha do cordão umbilical1 e clampeamento imediato do cordão umbilical1 para nascimentos prematuros (< 37 semanas de gestação).

Foram excluídos ensaios quase randomizados ou randomizados por cluster. Autores de estudos elegíveis foram convidados a aderir à colaboração iCOMP e compartilhar dados individuais dos participantes. Todos os dados foram verificados, harmonizados, recodificados e avaliados quanto ao risco de viés seguindo critérios pré-especificados.

O desfecho primário foi óbito20 antes da alta hospitalar. Realizou-se metanálises de dados de participantes individuais de um estágio com intenção de tratar, considerando a heterogeneidade para examinar os efeitos do tratamento em geral e em análises de subgrupos pré-especificados. A certeza da evidência foi avaliada com a Grading of Recommendations Assessment, Development, and Evaluation.

Identificou-se 2.369 registros, dos quais 48 ensaios randomizados forneceram dados individuais dos participantes e foram elegíveis para a análise primária. Foram incluídos dados individuais de participantes de 6.367 bebês4 (3.303 [55%] homens, 2.667 [45%] mulheres, dois intersexuais e 395 dados faltantes).

O clampeamento tardio do cordão umbilical1, em comparação com o clampeamento imediato do cordão umbilical1, reduziu a morte antes da alta (odds ratio [OR] 0,68 [IC 95% 0,51-0,91], evidência de alta qualidade, 20 estudos, n = 3.260, 232 mortes).

Para a ordenha do cordão umbilical1 em comparação com o clampeamento imediato do cordão, não foi encontrada nenhuma evidência clara de uma diferença na morte antes da alta (OR 0,73 [0,44-1,20], baixa certeza, 18 estudos, n = 1.561, 74 mortes).

Da mesma forma, para a ordenha do cordão umbilical1 em comparação com o clampeamento tardio do cordão, não foi encontrada nenhuma evidência clara de uma diferença na morte antes da alta (0,95 [0,59-1,53], baixa certeza, 12 estudos, n = 1.303, 93 mortes).

Não foram encontradas evidências de diferenças de subgrupos para o desfecho primário, inclusive por idade gestacional, tipo de parto, nascimento múltiplo, ano de estudo e mortalidade17 perinatal.

Este estudo fornece evidências de alta qualidade de que o clampeamento tardio do cordão umbilical1, em comparação com o clampeamento imediato do cordão umbilical1, reduz a morte antes da alta em bebês4 prematuros. Este efeito parece ser consistente em vários subgrupos a nível de participante e de ensaio. Estes resultados informarão as recomendações internacionais de tratamento.

Leia sobre "Prolapso21 do cordão umbilical1", "Parto normal ou cesárea?" e "Descolamento prematuro de placenta".

Adiamento curto, médio e longo do clampeamento do cordão umbilical1 em comparação com a ordenha do cordão umbilical1 e clampeamento imediato no parto prematuro

O clampeamento tardio (também conhecido como diferido) do cordão umbilical1 pode melhorar a sobrevivência3 de bebês4 nascidos prematuros (antes de 37 semanas de gestação), mas a duração ideal do adiamento permanece incerta.

Realizou-se uma revisão sistemática e metanálise de rede de dados de participantes individuais com o objetivo de comparar a eficácia das estratégias de clampeamento do cordão umbilical1 com diferentes momentos de clampeamento ou com ordenha do cordão umbilical1 para bebês4 prematuros.

Pesquisou-se bancos de dados médicos e registros de ensaios desde o início até 24 de fevereiro de 2022 (atualizado em 6 de junho de 2023) para ensaios clínicos19 randomizados comparando estratégias de clampeamento do cordão umbilical1 para bebês4 prematuros. Os dados individuais dos participantes foram harmonizados e avaliados quanto ao risco de viés e qualidade.

As intervenções foram agrupadas em clampeamento imediato, adiamento curto (≥15 segundos [s] a <45 s), adiamento médio (≥45 s a <120 s), adiamento longo (≥120 s) e ordenha de cordão intacto.

O desfecho primário foi óbito20 antes da alta hospitalar. Calculou-se a metanálise de rede de dados de participantes individuais de efeitos aleatórios bayesianos com intenção de tratar em um estágio.

Foram incluídos dados individuais de participantes de 47 ensaios com 6.094 participantes. De todas as intervenções, o adiamento prolongado foi o que mais reduziu a morte antes da alta (em comparação com o clampeamento imediato; razão de probabilidade 0,31 [intervalo de credibilidade de 95%] 0,11-0,80; certeza moderada).

O risco de viés foi baixo em 10 (33%) dos 30 ensaios, 14 (47%) apresentaram algumas preocupações e 6 (20%) foram classificados como tendo alto risco de viés. A heterogeneidade foi baixa, sem indicação de inconsistência.

Este estudo descobriu que o adiamento prolongado do clampeamento leva à redução das chances de morte antes da alta em bebês4 prematuros. Em bebês4 avaliados como necessitando de reanimação imediata, esse achado só poderá ser generalizável se houver providências para tais cuidados com o cordão intacto.

Esses resultados são baseados em dados individuais de participantes cuidadosamente limpos e verificados e podem informar diretrizes e práticas futuras.

 

Fontes:
The Lancet, publicação em 14 de novembro de 2023.
The Lancet, publicação em 14 de novembro de 2023.
The New York Times, notícia publicada em 17 de novembro de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Esperar pelo menos 2 minutos para clampear o cordão umbilical melhora as taxas de sobrevivência de prematuros. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1462332/esperar-pelo-menos-2-minutos-para-clampear-o-cordao-umbilical-melhora-as-taxas-de-sobrevivencia-de-prematuros.htm>. Acesso em: 19 nov. 2024.

Complementos

1 Cordão Umbilical: Estrutura flexível semelhante a corda, que conecta um FETO em desenvolvimento à PLACENTA, em mamíferos. O cordão contém vasos sanguíneos que transportam oxigênio e nutrientes da mãe ao feto e resíduos para longe do feto.
2 Útero: Orgão muscular oco (de paredes espessas), na pelve feminina. Constituído pelo fundo (corpo), local de IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO e DESENVOLVIMENTO FETAL. Além do istmo (na extremidade perineal do fundo), encontra-se o COLO DO ÚTERO (pescoço), que se abre para a VAGINA. Além dos istmos (na extremidade abdominal superior do fundo), encontram-se as TUBAS UTERINAS.
3 Sobrevivência: 1. Ato ou efeito de sobreviver, de continuar a viver ou a existir. 2. Característica, condição ou virtude daquele ou daquilo que subsiste a um outro. Condição ou qualidade de quem ainda vive após a morte de outra pessoa. 3. Sequência ininterrupta de algo; o que subsiste de (alguma coisa remota no tempo); continuidade, persistência, duração.
4 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
5 Sangue do Cordão Umbilical: Sangue do feto. A troca de nutrientes e de resíduos entre o sangue fetal e o materno ocorre através da PLACENTA. O sangue do cordão é o sangue contido nos vasos umbilicais (CORDÃO UMBILICAL) no momento do parto.
6 Células-tronco: São células primárias encontradas em todos os organismos multicelulares que retêm a habilidade de se renovar por meio da divisão celular mitótica e podem se diferenciar em uma vasta gama de tipos de células especializadas.
7 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
8 Circulação: 1. Ato ou efeito de circular. 2. Facilidade de se mover usando as vias de comunicação; giro, curso, trânsito. 3. Movimento do sangue, fluxo de sangue através dos vasos sanguíneos do corpo e do coração.
9 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
10 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
11 Necrosante: Que necrosa ou que sofre gangrena; que provoca necrose, necrotizante.
12 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
13 Sênior: 1. Que é o mais velho. 2. Diz-se de desportistas que já ganharam primeiros prêmios: um piloto sênior. 3. Diz-se de profissionais experientes que já exercem, há algum tempo, determinada atividade.
14 Mortalidade Infantil: A taxa de mortalidade infantil é o quociente entre os óbitos de menores de um ano ocorridos em uma determinada unidade geográfica e período de tempo, e os nascidos vivos da mesma unidade nesse período, segundo a fórmula: Taxa de Mortalidade Infantil = (Óbitos de Menores de 1 ano / Nascidos Vivos) x 1.000
15 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
16 Terapia intensiva: Tratamento para diabetes no qual os níveis de glicose são mantidos o mais próximo do normal possível através de injeções freqüentes ou uso de bomba de insulina, planejamento das refeições, ajuste em medicamentos hipoglicemiantes e exercícios baseados nos resultados de testes de glicose além de contatos freqüentes entre o diabético e o profissional de saúde.
17 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
18 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
19 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
20 Óbito: Morte de pessoa; passamento, falecimento.
21 Prolapso: Deslocamento de um órgão ou parte dele de sua localização ou aspecto normal. P.ex. prolapso da válvula mitral, prolapso uterino, etc.
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