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Tratamento bioeletrônico não invasivo da dor pós-cesariana diminui em até 47% o uso de opioides

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Estratégias aprimoradas são necessárias para diminuir o uso de opioides após o parto cesáreo, mas ainda controlar adequadamente a dor pós-operatória.

Embora os dispositivos de estimulação elétrica transcutânea tenham se mostrado eficazes no controle da dor após outros procedimentos cirúrgicos, eles não foram testados como parte de um protocolo analgésico1 multimodal após cesariana, o procedimento cirúrgico mais comum nos Estados Unidos.

O objetivo deste estudo, publicado no JAMA Network Open, foi determinar se o tratamento com um dispositivo de estimulação elétrica não invasivo de alta frequência diminui o uso de opioides e a dor após o parto cesáreo.

Leia sobre "Parto normal ou cesárea?" e "Diferenças entre anestesia2, analgesia e sedação3".

Este ensaio clínico randomizado4, triplo-cego e controlado por simulação foi conduzido de 18 de abril de 2022 a 31 de janeiro de 2023, na unidade de trabalho de parto de um único centro médico acadêmico terciário em Ohio, EUA. As mulheres eram elegíveis para o estudo se tivessem gestação única ou gemelar e fossem submetidas a parto cesáreo. Das 267 pessoas elegíveis para o estudo, 134 (50%) foram incluídas.

As participantes foram distribuídas aleatoriamente em uma proporção de 1:1 para um grupo de dispositivo de estimulação elétrica de alta frequência (20.000 Hz) ou para um grupo de dispositivo simulado de aparência idêntica e receberam três aplicações no local da incisão5 nas primeiras 20 a 30 horas de pós-operatório.

O desfecho primário foi o uso de opioides no pós-operatório durante a internação, medido em equivalentes de miligramas de morfina (EMM). Os desfechos secundários incluíram pontuações de dor, medidas com o questionário Brief Pain Inventory (escala de 0 a 10, com 0 representando ausência de dor), EMM prescrito na alta e recebimento de prescrições adicionais de opioides no período pós-parto.

Dados normalmente distribuídos foram avaliados por meio de testes t; caso contrário, através de testes de Mann-Whitney ou χ2, conforme apropriado. As análises foram concluídas seguindo os princípios da intenção de tratar.

Das 134 mulheres no pós-parto que foram submetidas a parto cesáreo (idade média [DP] de 30,5 [4,6] anos; idade gestacional média [DP] no parto de 38 semanas e 6 dias [8 dias]), 67 foram designadas aleatoriamente para o grupo de dispositivo funcional e 67 para o grupo de dispositivo simulado.

A maioria era multípara6, tinha índice de massa corporal7 pré-gestacional superior a 30, tinha seguro privado de saúde8 e recebeu raquianestesia. Uma participante do grupo de dispositivo simulado retirou o consentimento antes do tratamento.

As participantes designadas para o dispositivo funcional usaram significativamente menos medicação opioide antes da alta (mediana [IQR], 19,75 [0-52,50] EMM) do que as pacientes no grupo do dispositivo simulado (mediana [IQR], 37,50 [7,50-67,50] EMM; P = 0,046) e relataram taxas semelhantes de dor moderada a intensa (85% vs 91%; risco relativo [RR], 0,77 [IC 95%, 0,55-1,29]; P = 0,43) e de pontuações médias de dor (3,59 [IC 95%, 3,21-3,98] vs 4,46 [IC 95%, 4,01-4,92]; P = 0,004).

As participantes do grupo do dispositivo funcional receberam menos EMM na alta (mediana [IQR], 82,50 [0-90,00] EMM vs 90,00 [75,00-90,00] EMM; P <0,001). Elas também tiveram maior probabilidade de receber alta sem prescrição de opioides (25% vs 10%; RR, 1,58 [IC 95%, 1,08-2,13]; P = 0,03) em comparação com o grupo do dispositivo simulado.

Nenhum evento adverso relacionado ao tratamento ocorreu em nenhum dos grupos.

Neste ensaio clínico randomizado4 de pacientes no pós-operatório de parto cesáreo, aquelas tratadas com um dispositivo de estimulação elétrica de alta frequência como parte de um protocolo de analgesia multimodal usaram 47% menos medicação opioide durante a internação e receberam menos opioides na alta.

Esses achados sugerem que o uso deste dispositivo pode ser um complemento útil para diminuir o uso de opioides sem comprometer o controle da dor após o parto cesáreo.

Veja também sobre "Como é a cesárea", "Raquianestesia: o que é" e "Oxicodona: remédio ou droga?"

 

Fonte: JAMA Network Open, publicação em 20 de outubro de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Tratamento bioeletrônico não invasivo da dor pós-cesariana diminui em até 47% o uso de opioides. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1461214/tratamento-bioeletronico-nao-invasivo-da-dor-pos-cesariana-diminui-em-ate-47-o-uso-de-opioides.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Analgésico: Medicamento usado para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
2 Anestesia: Diminuição parcial ou total da sensibilidade dolorosa. Pode ser induzida por diferentes medicamentos ou ser parte de uma doença neurológica.
3 Sedação: 1. Ato ou efeito de sedar. 2. Aplicação de sedativo visando aliviar sensação física, por exemplo, de dor. 3. Diminuição de irritabilidade, de nervosismo, como efeito de sedativo. 4. Moderação de hiperatividade orgânica.
4 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
5 Incisão: 1. Corte ou golpe com instrumento cortante; talho. 2. Em cirurgia, intervenção cirúrgica em um tecido efetuada com instrumento cortante (bisturi ou bisturi elétrico); incisura.
6 Multípara: Diz-se da mulher que já teve mais de um parto.
7 Índice de massa corporal: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
8 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
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