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Atividade física em crianças foi associada ao aumento do volume cerebral

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De acordo com um estudo publicado no JAMA Network Open, mais atividade física no final da infância está associada a um aumento no volume cerebral em regiões envolvidas na cognição1, emoção, aprendizagem e doenças psiquiátricas.

Os principais achados do estudo foram:

  • Cada 1 hora adicional por semana de participação esportiva foi associada a uma alteração maior de volume de 64,0 mm³ na substância cinzenta subcortical (P = 0,04).
  • Cada 1 hora adicional por semana de atividade física total foi associada a uma alteração maior de volume de 154,0 mm³ na substância branca total (P = 0,02).
  • A atividade física total relatada por qualquer fonte (P = 0,03) e os relatos das crianças sobre brincadeiras ao ar livre (P = 0,01) foram associados ao aumento do volume da amígdala2 ao longo do tempo.
  • A atividade física total relatada pelas crianças foi associada ao aumento do volume do hipocampo3 (P = 0,02).
Leia sobre "Desenvolvimento infantil" e "Neuroplasticidade cerebral".

Segundo os autores, a atividade física é uma das exposições ambientais mais promissoras, influenciando favoravelmente a saúde4 ao longo da vida. Este estudo complementa a literatura anterior, destacando os benefícios de neurodesenvolvimento que a atividade física pode ter na arquitetura da amígdala2 e do hipocampo3.

No artigo, os pesquisadores relatam que a atividade física pode promover o desenvolvimento saudável do cérebro5 em crianças, mas pesquisas anteriores foram predominantemente transversais e incluíram pequenas amostras, proporcionando conhecimento limitado.

O objetivo, portanto, foi investigar as associações longitudinais da atividade física com alterações morfológicas cerebrais.

Foi realizado um estudo de coorte6 longitudinal de base populacional de 4 anos em Rotterdam, Holanda, incorporado na Geração R, uma coorte7 a partir da vida fetal em diante. A partir das mulheres inscritas durante a gravidez8, foram incluídas crianças que tiveram medidas repetidas da estrutura cerebral aos 10 anos (variação de 8 a 12) e 14 anos (variação de 13 a 15).

Os dados foram coletados de março de 2013 a novembro de 2015 (linha de base) e de outubro de 2016 a janeiro de 2020 (acompanhamento). Os dados foram analisados de abril a dezembro de 2022.

Aos 10 anos de idade, tanto a criança como o seu cuidador principal relataram os níveis de atividade física da criança no que diz respeito à participação esportiva, brincadeiras ao ar livre e atividade física total. As análises primárias foram baseadas em um relatório médio de vários informantes.

A morfologia cerebral foi quantificada por ressonância magnética9. As regiões de interesse hipotéticas eram os volumes bilaterais da amígdala2 e do hipocampo3. Medidas cerebrais globais foram estudadas para testar a especificidade da hipótese.

Os dados estavam disponíveis para 1.088 crianças (566 meninas [52%]; 693 [64%] holandesas). A idade média (DP) no início do estudo era de 10,1 (0,6) anos.

Para a alteração do volume da amígdala2, foram encontradas associações positivas com relatos de múltiplos informantes sobre atividade física total (β = 2,6; IC 95%, 0,3-4,9). A atividade física total foi associada ao aumento do volume do hipocampo3 apenas quando relatada pela criança (β = 3,1; IC 95%, 0,4-5,8). Não foram encontradas associações robustas com medidas cerebrais globais.

Neste estudo de coorte6 com 1.088 crianças, mais atividade física aos 10 anos foi consistentemente associada a um aumento no volume da amígdala2 em crianças de 10 a 14 anos. A atividade física e aumentos no volume do hipocampo3 foram encontrados apenas usando relatos de atividade física das crianças.

Estes resultados sugerem que a atividade física no final da infância foi associada prospectivamente a alterações volumétricas em estruturas subcorticais específicas, mas não ao desenvolvimento global do cérebro5, desde o final da infância até ao início da adolescência.

Estas descobertas sugerem, portanto, que a atividade física pode influenciar o neurodesenvolvimento de áreas subcorticais que são plásticas e podem estar subjacentes à cognição1, emoção, aprendizagem e distúrbios psiquiátricos.

Os achados podem informar o desenvolvimento de futuras intervenções de saúde4 pública para melhor facilitar o neurodesenvolvimento com atividade física.

Veja também sobre "Definição de saúde4 cardiovascular ideal na infância".

 

Fonte: JAMA Network Open, publicação em 05 de outubro de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Atividade física em crianças foi associada ao aumento do volume cerebral. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1461099/atividade-fisica-em-criancas-foi-associada-ao-aumento-do-volume-cerebral.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
2 Amígdala: Designação comum a vários agregados de tecido linfoide, especialmente o que se situa à entrada da garganta; tonsila.
3 Hipocampo: Elevação curva da substância cinzenta, que se estende ao longo de todo o assoalho no corno temporal do ventrículo lateral (Tradução livre de Córtex Entorrinal; Via Perfurante;
4 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
5 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
6 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
7 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
8 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
9 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
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