Mais tempo de tela foi associado ao atraso no desenvolvimento em bebês, conclui estudo
Crianças de um ano expostas a mais tempo de tela por dia – seja televisão, videogames ou telefones celulares e outros dispositivos eletrônicos – experimentaram atrasos no desenvolvimento de habilidades de comunicação e resolução de problemas aos 2 e 4 anos, de acordo com um estudo publicado no JAMA Pediatrics.
Em comparação com menos de uma hora por dia de tempo de tela ao 1 ano de idade, o atraso no desenvolvimento da comunicação aos 2 anos de idade foi 61% mais provável para aqueles que tiveram até 2 horas de tempo de tela por dia, duas vezes mais provável com 2 horas a menos de 4 horas por dia e quase cinco vezes mais provável com 4 ou mais horas de tela por dia.
Para habilidades motoras finas, 4 ou mais horas por dia em frente a uma tela foi associada a um risco 74% maior de atraso no desenvolvimento aos 2 anos de idade, em comparação com assistir menos de uma hora por dia ao 1 ano de idade.
Atrasos na resolução de problemas foram observados de 2 a menos de 4 horas por dia e de 4 ou mais horas por dia versus menos de 1 hora por dia. Atrasos nas habilidades pessoais e sociais foram duas vezes mais prováveis com 4 ou mais versus menos de 1 hora por dia.
As associações significativas persistiram até os 4 anos de idade para atraso no desenvolvimento da comunicação e na resolução de problemas.
“A recente proliferação de dispositivos digitais concentrou a atenção na ligação entre tempo de tela e o desenvolvimento infantil”, disse um dos autores do estudo, Taku Obara, PhD, da Tohoku University em Sendai, Japão.
No entanto, ele advertiu: “O ponto mais importante é que estes resultados representam uma associação, não uma causa. Portanto, os médicos e/ou os pais não precisam limitar o tempo de tela das crianças com base nos nossos resultados”.
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Ainda assim, é plausível que o tempo de tela possa estar causalmente ligado a atrasos no desenvolvimento, comentou Jason Nagata, MD, da Universidade da Califórnia em São Francisco.
“As telas podem atrapalhar ou deslocar as interações com os cuidadores e limitar as oportunidades de trocas verbais, o que pode prejudicar a comunicação e as habilidades sociais”, disse Nagata. “O tempo passivo de tela, como assistir televisão ou vídeos sem pensar, pode não permitir que as crianças pratiquem habilidades interativas de resolução de problemas. Quando o uso da tela não tem um componente interativo ou físico, as crianças são sedentárias e podem não ser capazes de praticar suas habilidades motoras grossas.”
David J. Lewkowicz, psicólogo do desenvolvimento do Yale Child Study Center, concorda, e disse que a interação face1 a face1 entre pais e filhos é crucial para dar aos bebês2 um rico conjunto de informações, inclusive sobre como as expressões faciais, palavras, tom de voz e o feedback físico se combinam para transmitir linguagem e significado.
“Isso não acontece quando você está olhando para a tela”, disse ele, acrescentando que não ficou surpreso com os resultados da pesquisa.
As descobertas, conduzidas por estudiosos no Japão, foram extraídas de questionários sobre desenvolvimento e tempo de tela, aplicados a pais de mais de 7 mil crianças pequenas. Em geral, descobriu-se que os bebês2 expostos a níveis mais elevados de tempo de tela eram filhos de mães de primeira viagem, mais jovens, com rendimentos e níveis de escolaridade familiares mais baixos, e que sofriam de depressão pós-parto.
O estudo observou uma “associação dose-resposta” entre o tempo de tela e atrasos no desenvolvimento: quanto mais tempo de tela os bebês2 recebiam, maior era a probabilidade de apresentarem atrasos no desenvolvimento.
Os pesquisadores também apontaram para o limite de 1 hora por dia de tempo de tela recomendado pela Organização Mundial da Saúde3 e pela Academia Americana de Pediatria (AAP) para crianças de 2 a 5 anos, para garantir que elas pratiquem atividade física e obtenham um sono adequado para um crescimento saudável e bem-estar. As diretrizes da AAP também recomendam nenhum tempo de tela antes dos 18 meses de idade. Mas uma metanálise recente descobriu que apenas uma minoria de crianças cumpre estas diretrizes.
No novo estudo, os pesquisadores relatam que ainda não se sabe se alguns domínios do desenvolvimento infantil estão especificamente associados ao tempo de tela e se a associação continua com a idade.
O objetivo, portanto, foi examinar a associação entre a exposição ao tempo de tela entre crianças de 1 ano e 5 domínios de atraso no desenvolvimento (comunicação, coordenação motora grossa, coordenação motora fina, resolução de problemas e habilidades pessoais e sociais) aos 2 e 4 anos de idade.
Este estudo de coorte4 foi conduzido no âmbito do Estudo de Coorte4 de Nascimento e Três Gerações do Projeto Tohoku Medical Megabank. Grávidas em 50 clínicas obstétricas e hospitais nas províncias de Miyagi e Iwate, no Japão, foram recrutadas para o estudo entre julho de 2013 e março de 2017. As informações foram coletadas prospectivamente e 7.097 pares mãe-filho foram incluídos na análise. A análise dos dados foi realizada em 20 de março de 2023.
Quatro categorias de exposição ao tempo de tela foram identificadas para crianças de 1 ano (<1, 1 a <2, 2 a <4 ou ≥4 horas por dia [h/d]).
Atrasos no desenvolvimento nos 5 domínios para crianças de 2 e 4 anos foram avaliados usando a versão japonesa do Ages & Stages Questionnaires, Third Edition. Cada domínio variou de 0 a 60 pontos. O atraso no desenvolvimento foi definido se a pontuação total de cada domínio fosse inferior a 2 DPs da sua pontuação média.
Das 7.097 crianças deste estudo, 3.674 eram meninos (51,8%) e 3.423 eram meninas (48,2%). Com relação ao tempo de exposição a telas por dia, 3.440 crianças (48,5%) tiveram menos de 1 hora, 2.095 (29,5%) tiveram de 1 a menos de 2 horas, 1.272 (17,9%) tiveram de 2 a menos de 4 horas e 290 (4,1%) tinham 4 horas ou mais.
O tempo de tela das crianças foi associado a um maior risco de atraso no desenvolvimento aos 2 anos de idade nos domínios de comunicação (odds ratio [OR], 1,61 [IC 95%, 1,23-2,10] para 1 a <2 h/d; 2,04 [1,52-2,74 ] para 2 a <4 h/d; 4,78 [3,24-7,06] para ≥4 h/d vs <1 h/d), coordenação motora fina (1,74 [1,09-2,79] para ≥4 h/d vs <1 h/d), resolução de problemas (1,40 [1,02-1,92] para 2 a <4 h/d; 2,67 [1,72-4,14] para ≥4 h/d vs <1 h/d) e habilidades pessoais e sociais (2,10 [1,39-3,18] para ≥4 h/d vs <1 h/d).
Em relação ao risco de atraso no desenvolvimento aos 4 anos, foram identificadas associações nos domínios de comunicação (OR, 1,64 [IC 95%, 1,20-2,25] para 2 a <4 h/d; 2,68 [1,68-4,27] para ≥4 h/d vs <1 h/d) e resolução de problemas (1,91 [1,17-3,14] para ≥4 h/d vs <1 h/d).
Neste estudo, o maior tempo de tela para crianças de 1 ano foi associado a atrasos no desenvolvimento na comunicação e na resolução de problemas nas idades de 2 e 4 anos. Estas descobertas sugerem que os domínios do atraso no desenvolvimento devem ser considerados separadamente em discussões futuras sobre o tempo de tela e o desenvolvimento infantil.
Leia: "Manual de orientação MENOS TELAS, MAIS SAÚDE3 (SBP)".
Fontes:
JAMA Pediatrics, publicação em 21 de agosto de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 21 de agosto de 2023.
The New York Times, notícia publicada em 21 de agosto de 2023.