COVID-19 durante a gravidez está ligada ao risco de transtornos do neurodesenvolvimento em crianças
A exposição à infecção1 por SARS-CoV-2 no útero2 foi associada a um risco 29% maior de diagnósticos de transtornos do neurodesenvolvimento em crianças aos 3 anos de idade, de acordo com um estudo de coorte3 retrospectivo4 publicado na revista Obstetrics & Gynecology.
Entre mais de 800 crianças expostas à infecção1 materna por SARS-CoV-2 durante a gravidez5, 16,3% apresentaram um diagnóstico6 de transtorno do neurodesenvolvimento aos 3 anos de idade, em comparação com 9,7% dos filhos não expostos, relataram Lydia Shook, MD, do Massachusetts General Hospital em Boston, e seus colegas.
“Estamos construindo sobre uma base bastante sólida de literatura que analisa a associação entre infecção1 materna e desfechos do neurodesenvolvimento”, disse Shook. “Consideramos a COVID-19 como uma das muitas exposições potenciais na gravidez5 que podem impactar o neurodesenvolvimento dos filhos, provavelmente por meio de uma via comum de ativação imunológica materna.”
Quase dois terços das infecções7 maternas por COVID ocorreram durante o terceiro trimestre. Nas análises de sensibilidade, os maiores efeitos foram observados nas exposições do terceiro trimestre, tanto no geral quanto entre os filhos do sexo masculino.
Parto prematuro, plano de saúde8 público materno, etnia hispânica e parto em um centro médico acadêmico em vez de um hospital comunitário foram todos associados a um risco significativamente maior de diagnósticos de transtornos do neurodesenvolvimento.
Os diagnósticos mais comuns aos 36 meses foram transtornos de fala e linguagem não especificados, diagnosticados em 9,5% das crianças nascidas de mães expostas à COVID-19, em comparação com 4,7% daquelas nascidas de mães não expostas. Transtornos da linguagem expressiva foram diagnosticados em 5,3% e 3,7%, respectivamente, enquanto transtorno da função motora foi diagnosticado em 2,7% e 1,6%. O transtorno do espectro autista foi diagnosticado em 2,7% versus 1,1%, respectivamente.
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“Sabemos que as vacinas são seguras e eficazes na prevenção de infecções7 maternas graves, hospitalização e sequelas9 da doença materna grave, incluindo o parto prematuro, que, por si só, sabemos estar associado ao risco de transtornos do neurodesenvolvimento em crianças”, disse Shook. “Talvez isso contribua para a compreensão de como a proteção contra infecções7 maternas pode trazer algum pequeno benefício para o baixo risco absoluto geral de transtornos do neurodesenvolvimento.”
Para este estudo, os pesquisadores utilizaram dados de prontuários eletrônicos de todos os nascimentos únicos e múltiplos de bebês10 vivos em dois centros médicos acadêmicos e seis hospitais comunitários, de março de 2020 a maio de 2021, um período inicial da pandemia11 de COVID-19, quando as gestantes eram, em sua maioria, não vacinadas e sem exposição prévia ao SARS-CoV-2. Todas as mulheres realizaram pelo menos um teste de PCR12 para SARS-CoV-2 durante a gravidez5.
“Parte da força desta coorte13 reside no fato de termos capturado um período em que havia testes robustos e confirmação do estado da doença, de modo que pudéssemos afirmar com segurança que uma paciente teve uma infecção1 durante a gravidez”, explicou Shook.
No artigo publicado, os pesquisadores relatam que o objetivo foi determinar se a exposição intrauterina à infecção1 materna pelo coronavírus da síndrome14 respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) está associada a um risco aumentado de desfechos neurodesenvolvimentais adversos em crianças aos 3 anos de idade.
Para isso, foi realizado um estudo de coorte3 retrospectivo4 com 18.124 nascidos vivos, de mulheres que deram à luz entre 1º de março de 2020 e 31 de maio de 2021, no sistema de saúde8 Mass General Brigham. A exposição de interesse foi a infecção1 materna por SARS-CoV-2, definida como um resultado positivo no teste de reação em cadeia da polimerase (PCR12) para SARS-CoV-2 durante a gravidez5. O desfecho de interesse foi a presença de qualquer diagnóstico6 de transtorno do neurodesenvolvimento até 36 meses após o nascimento, identificado por meio dos códigos de diagnóstico6 da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde8, Décima Revisão (CID-10).
Para avaliar a associação entre a exposição ao SARS-CoV-2 durante a gravidez5 e esses diagnósticos, utilizou-se modelos de regressão logística ajustados para idade materna, raça e etnia, tipo de seguro de saúde8, tipo de hospital e parto prematuro.
Entre as 861 mulheres com gestações expostas ao SARS-CoV-2 (4,8%), 140 filhos (16,3%) receberam um diagnóstico6 de transtorno do neurodesenvolvimento até os 36 meses após o nascimento, em comparação com 1.680 dos 17.263 filhos não expostos (9,7%) (razão de chances não ajustada 1,80, IC 95%, 1,49-2,17; razão de chances ajustada [aOR] 1,29, IC 95%, 1,05-1,57, P = 0,01).
Nas análises de sensibilidade, os maiores efeitos foram observados nas exposições do terceiro trimestre, no geral (aOR 1,36, IC 95%, 1,07-1,72, P = 0,01) e entre os filhos do sexo masculino (aOR 1,43, IC 95%, 1,05-1,91, P = 0,02).
A idade no primeiro diagnóstico6 de transtorno do neurodesenvolvimento foi semelhante entre os dois grupos de crianças. O primeiro diagnóstico6 ocorreu entre 18 e 36 meses em 60,7% das crianças cujas mães foram expostas ao SARS-CoV-2, em comparação com 58% daquelas cujas mães não foram expostas.
As limitações do estudo incluíram a falta de avaliação diagnóstica sistemática, o que pode ter levado a erros de classificação. Crianças avaliadas fora da rede de saúde8 do estudo podem ter recebido diagnósticos de transtornos do neurodesenvolvimento que não foram incluídos no conjunto de dados do estudo. Infecções7 assintomáticas durante a gravidez5 também podem não ter sido detectadas.
O estudo concluiu que a infecção1 materna por SARS-CoV-2 durante a gravidez5 foi associada a um risco aumentado de diagnósticos neurodesenvolvimentais adversos aos 3 anos de idade, com efeitos mais pronunciados após a exposição no terceiro trimestre e nos filhos do sexo masculino. Essas descobertas destacam a importância do monitoramento do neurodesenvolvimento a longo prazo para crianças expostas ao SARS-CoV-2.
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Fontes:
Obstetrics & Gynecology, publicação em 30 de outubro de 2025.
MedPage Today, notícia publicada em 31 de outubro de 2025.










