Gostou do artigo? Compartilhe!

Inibidores da bomba de prótons foram associados a risco de infecção grave em crianças

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

Os inibidores da bomba de prótons (IBPs) foram fortemente associados ao risco de infecção1 grave entre bebês2 e crianças pequenas num grande estudo nacional francês, sugerindo cautela na prescrição.

Em mais de um milhão de crianças acompanhadas durante aproximadamente 4 anos, o uso de IBPs foi associado a um aumento de 34% no risco de infecções3 que requerem hospitalização, afirmaram os investigadores liderados por Marion Lassalle, PhD, da Agência Nacional Francesa para a Segurança de Medicamentos e Produtos de Saúde4 em Saint-Denis.

O excesso de risco estendeu-se a infecções3 no trato digestivo; esfera do ouvido, nariz5 e garganta6; trato respiratório inferior; rins7 ou trato urinário8; e sistema nervoso9, o grupo relatou no artigo publicado no JAMA Pediatrics.

O risco de infecções3 bacterianas foi 56% maior e o risco de infecções3 virais foi 30% maior em crianças que receberam IBPs em comparação com aquelas que não receberam.

“Até onde sabemos, este é o primeiro estudo que investiga o risco de infecções3 graves associadas ao uso de IBP em crianças pequenas para vários locais e patógenos”, disseram os pesquisadores. “Os inibidores da bomba de prótons não devem ser usados sem uma indicação clara nesta população”.

Leia sobre "Refluxo gastroesofágico10" e "Refluxo gastroesofágico10 em bebês2 prematuros".

O uso de IBPs em crianças pequenas tem aumentado, observaram Lassalle e colegas. Na França, 6,1% das crianças com menos de 2 anos de idade receberam IBPs em 2019, um aumento em relação aos 3,6% em 2010. Em outros países, como a Suécia, a Noruega e a Dinamarca, o uso de IBPs em crianças aumentou de três a cinco vezes desde 2000, disseram eles.

O grupo de Lassalle discutiu alguns mecanismos potenciais para a ligação entre IBPs e infecções3 em crianças. Ao alterar o pH gástrico, os IBPs podem alterar a microbiota11 gástrica de uma forma que promove infecções3 entéricas. Na infância, a microbiota11 intestinal sofre grandes mudanças e a exposição ao IBP pode ter um impacto significativo, disseram.

Além disso, os IBPs podem levar a infecções3 respiratórias através da microaspiração de fluido gástrico enriquecido em bactérias ou, alternativamente, através do eixo intestino-pulmão12. E os IBPs também podem interferir nas funções do sistema imunológico13, incluindo várias funções dos neutrófilos14, sugeriram os pesquisadores.

Em um editorial que acompanhou a publicação do estudo, Jay Berry, MD, e Jonathan Mansbach, MD, ambos do Boston Children's Hospital, disseram que os médicos estão usando cada vez mais IBPs para tratar bebês2 saudáveis com refluxo gastroesofágico10 (RGE), que apresentam choro excessivo e regurgitação15.

“Os médicos também estão usando IBPs em crianças com problemas de saúde4 crônicos e complexos para tratar suspeitas de DRGE”, que é o RGE com complicações, escreveram eles. “Embora o subconjunto destas crianças com função oromotora prejudicada tenha maior probabilidade de ter DRGE do que crianças saudáveis, não há evidências fortes que apoiem o uso de IBPs em qualquer uma das populações. Pior: pode haver danos”.

Dados estes resultados “convincentes”, bem como os mecanismos plausíveis, “é hora de limitar o uso de IBP em lactentes16 e crianças, especialmente quando são saudáveis e até que uma investigação mais aprofundada distinga quem tem a relação risco-benefício mais favorável”, Berry e Mansbach aconselharam.

No artigo, os pesquisadores relatam que o uso de inibidor da bomba de prótons (IBP) pode levar a infecções3 por alteração da microbiota11 ou ação direta no sistema imunológico13. No entanto, apenas alguns estudos foram realizados em crianças, com resultados conflitantes.

O objetivo, portanto, foi avaliar as associações entre o uso de IBP e infecções3 graves em crianças, em geral e por local de infecção1 e patógeno.

Este estudo de coorte17 nacional foi baseado no Registro Mãe-Filho EPI-MERES construído a partir do Sistema Francês de Dados de Saúde4 (SNDS). Foram incluídas todas as crianças nascidas entre 1º de janeiro de 2010 e 31 de dezembro de 2018, que receberam tratamento para doença do refluxo gastroesofágico10 ou outros distúrbios relacionados ao ácido gástrico18, nomeadamente IBPs, antagonistas dos receptores H2 da histamina19 ou antiácidos20/alginato.

A data índice foi definida como a primeira data em que qualquer um desses medicamentos foi dispensado. As crianças foram acompanhadas até a admissão no hospital por infecção1 grave, perda de acompanhamento, óbito21 ou 31 de dezembro de 2019.

O estudo avaliou a exposição ao IBP ao longo do tempo.

As associações entre infecções3 graves e o uso de IBP foram estimadas por taxas de risco ajustadas (aHR) e ICs de 95% usando modelos de Cox. O uso de IBP foi introduzido como variável no tempo. Um intervalo de 30 dias foi aplicado para minimizar a causalidade reversa. Os modelos foram ajustados para dados sociodemográficos, características da gravidez22, comorbidades23 infantis e utilização de cuidados de saúde4.

A população do estudo compreendeu 1.262.424 crianças (acompanhamento mediano [IQR], 3,8 [1,8-6,2] anos), incluindo 606.645 que receberam IBP (323.852 do sexo masculino [53,4%]; idade mediana [IQR] na data do índice, 88 [44-282] dias) e 655.779 que não receberam IBP (342.454 do sexo masculino [52,2%]; idade mediana [IQR], 82 [44-172] dias).

A exposição ao IBP foi associada a um risco aumentado de infecções3 graves em geral (aHR, 1,34; IC 95%, 1,32-1,36). Também foram observados riscos aumentados para infecções3 no trato digestivo (aHR, 1,52; IC 95%, 1,48-1,55); esfera de ouvido, nariz5 e garganta6 (aHR, 1,47; IC 95%, 1,41-1,52); trato respiratório inferior (aHR, 1,22; IC 95%, 1,19-1,25); rins7 ou trato urinário8 (aHR, 1,20; IC 95%, 1,15-1,25); e sistema nervoso9 (aHR, 1,31; IC 95%, 1,11-1,54) e tanto para infecções3 bacterianas (aHR, 1,56; IC 95%, 1,50-1,63) quanto virais (aHR, 1,30; IC 95%, 1,28-1,33).

Neste estudo, o uso de IBP foi associado ao aumento do risco de infecções3 graves em crianças pequenas. Os inibidores da bomba de prótons não devem ser usados sem uma indicação clara nesta população.

Veja também sobre "Diferenças entre inflamação24 e infecção1" e "Sistema imunológico13".

 

Fontes:
JAMA Pediatrics, publicação em 14 de agosto de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 14 de agosto de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Inibidores da bomba de prótons foram associados a risco de infecção grave em crianças. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1443720/inibidores-da-bomba-de-protons-foram-associados-a-risco-de-infeccao-grave-em-criancas.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
2 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
3 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
4 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
5 Nariz: Estrutura especializada que funciona como um órgão do sentido do olfato e que também pertence ao sistema respiratório; o termo inclui tanto o nariz externo como a cavidade nasal.
6 Garganta: Tubo fibromuscular em forma de funil, que leva os alimentos ao ESÔFAGO e o ar à LARINGE e PULMÕES. Situa-se posteriormente à CAVIDADE NASAL, à CAVIDADE ORAL e à LARINGE, extendendo-se da BASE DO CRÂNIO à borda inferior da CARTILAGEM CRICÓIDE (anteriormente) e à borda inferior da vértebra C6 (posteriormente). É dividida em NASOFARINGE, OROFARINGE e HIPOFARINGE (laringofaringe).
7 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
8 Trato Urinário:
9 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
10 Refluxo gastroesofágico: Presença de conteúdo ácido proveniente do estômago na luz esofágica. Como o dito órgão não está adaptado fisiologicamente para suportar a acidez do suco gástrico, pode ser produzida inflamação de sua mucosa (esofagite).
11 Microbiota: Em ecologia, chama-se microbiota ao conjunto dos microrganismos que habitam um ecossistema, principalmente bactérias, protozoários e outros microrganismos que têm funções importantes na decomposição da matéria orgânica e, portanto, na reciclagem dos nutrientes. Fazem parte da microbiota humana uma quantidade enorme de bactérias que vivem em harmonia no organismo e auxiliam a ação do sistema imunológico e a nutrição, por exemplo.
12 Pulmão: Cada um dos órgãos pareados que ocupam a cavidade torácica que tem como função a oxigenação do sangue.
13 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
14 Neutrófilos: Leucócitos granulares que apresentam um núcleo composto de três a cinco lóbulos conectados por filamenos delgados de cromatina. O citoplasma contém grânulos finos e inconspícuos que coram-se com corantes neutros.
15 Regurgitação: Presença de conteúdo gástrico na cavidade oral, na ausência do reflexo de vômito. É muito freqüente em lactentes.
16 Lactentes: Que ou aqueles que mamam, bebês. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
17 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
18 Ácido Gástrico: Ácido clorídrico presente no SUCO GÁSTRICO.
19 Histamina: Em fisiologia, é uma amina formada a partir do aminoácido histidina e liberada pelas células do sistema imunológico durante reações alérgicas, causando dilatação e maior permeabilidade de pequenos vasos sanguíneos. Ela é a substância responsável pelos sintomas de edema e irritação presentes em alergias.
20 Antiácidos: É uma substância que neutraliza o excesso de ácido, contrariando o seu efeito. É uma base que aumenta os valores de pH de uma solução ácida.
21 Óbito: Morte de pessoa; passamento, falecimento.
22 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
23 Comorbidades: Coexistência de transtornos ou doenças.
24 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
Gostou do artigo? Compartilhe!