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Nova terapia de siRNA para hipertensão interrompe a síntese hepática de angiotensinogênio

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Pacientes com hipertensão1 diminuíram com sucesso seus níveis de angiotensinogênio e tiveram reduções duradouras na pressão arterial2 (PA) após uma injeção3 de uma terapia experimental de pequeno RNA interferente (siRNA), de acordo com um estudo de fase I publicado no The New England Journal of Medicine.

Neste primeiro estudo controlado por placebo4 em humanos, os pacientes que receberam zilebesiran apresentaram reduções dependentes da dose nos níveis séricos de angiotensinogênio e na PA ambulatorial de 24 horas após uma única dose subcutânea5, relataram Akshay Desai, MD, do Brigham and Women's Hospital e da Harvard University em Boston, e colegas.

Doses mais altas resultaram em quedas de pelo menos 10 mmHg na PA sistólica e 5 mmHg na PA diastólica na semana 8, que persistiram até a semana 24, e as mudanças foram consistentes ao longo do dia.

Os eventos adversos ocorreram em 72% e 88% dos grupos de zilebesiran e placebo4, respectivamente, e os eventos mais comuns foram dor de cabeça6, reação no local da injeção3 e infecção7 do trato respiratório superior, principalmente de gravidade leve ou moderada. Não houve relatos de hipotensão8, hipercalemia9 ou piora da função renal10 resultando em intervenção médica em nenhum dos grupos, relataram Desai e sua equipe.

Saiba mais sobre "O que vem a ser pressão arterial2" e "Sintomas11 da hipertensão arterial12".

“No geral, esses dados preliminares sobre eficácia e segurança apoiam o potencial para estudos adicionais da administração trimestral ou semestral de zilebesiran como tratamento para pacientes13 com hipertensão1”, escreveram eles, observando que a investigação do zilebesiran continua em dois ensaios de fase II: KARDIA-1 e KARDIA-2.

Zilebesiran é um agente de interferência de RNA que inibe a síntese hepática14 de angiotensinogênio, o precursor de todos os metabólitos15 da angiotensina. Acredita-se que essa inibição do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) a montante tenha a vantagem de superar a ativação compensatória do SRAA, que é uma preocupação com os anti-hipertensivos existentes.

“A supressão do angiotensinogênio no fígado16 pelo siRNA é um meio novo e empolgante de atingir o sistema renina-angiotensina: oferece especificidade, eficácia a longo prazo e redução sustentada da pressão arterial”, comentou Rhian Touyz, PhD, do Centro de Saúde17 da Universidade McGill em Montreal, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

“Embora o zilebesiran ofereça novas possibilidades como agente anti-hipertensivo, ele também pode ter benefícios terapêuticos em outras condições associadas à ativação do sistema renina-angiotensina, como doenças renais e cardíacas”, escreveu ela.

Touyz observou que a ativação aguda do sistema renina-angiotensina pode ser necessária em alguns casos de emergência18, como choque19 e gravidez20. No entanto, a atividade do siRNA pode ser revertida usando a plataforma dedicada REVERSIR ou, com o objetivo de aliviar a inibição do angiotensinogênio, optando-se por vasopressores, sal e fludrocortisona.

A pressão alta é muito comum e é um importante fator de risco21 para doenças cardíacas e AVCs. Segundo uma estimativa, quase metade dos adultos americanos têm hipertensão1, definida como pressão arterial2 acima de 130/80 mmHg ou uso de medicamentos para hipertensão1. Os avanços no controle da pressão arterial2 em nível populacional tiveram retrocessos nos últimos anos.

“Fatores que contribuem para o controle subótimo da hipertensão1 incluem baixa adesão, necessidade de múltiplos medicamentos anti-hipertensivos, dificuldade em adotar estilos de vida saudáveis, disparidades de saúde17 e apatia22 do médico”, observou Touyz.

“Agentes terapêuticos de RNA são particularmente interessantes no contexto de não adesão, porque podem ser administrados como uma única injeção3 a cada poucos meses”, acrescentou ela.

No artigo, os pesquisadores relatam que o angiotensinogênio é o único precursor dos peptídeos da angiotensina e tem um papel fundamental na patogênese23 da hipertensão1. O zilebesiran, um agente terapêutico experimental de interferência de RNA com duração de ação prolongada, inibe a síntese hepática14 de angiotensinogênio.

Neste estudo de fase 1, os pacientes com hipertensão1 foram distribuídos aleatoriamente em uma proporção de 2:1 para receber uma única dose subcutânea5 ascendente de zilebesiran (10, 25, 50, 100, 200, 400 ou 800 mg) ou placebo4 e foram acompanhados por 24 semanas (Parte A). A Parte B avaliou o efeito da dose de 800 mg de zilebesiran na pressão arterial2 em condições de dieta com pouco ou muito sal, e a Parte E o efeito dessa dose quando co-administrada com irbesartan.

Os desfechos incluíram segurança, características farmacocinéticas e farmacodinâmicas e a alteração da linha de base na pressão arterial sistólica24 e diastólica, medida por monitoramento ambulatorial da pressão arterial2 de 24 horas.

Dos 107 pacientes inscritos, 5 tiveram reações leves e transitórias no local da injeção3. Não houve relatos de hipotensão8, hipercalemia9 ou piora da função renal10 resultando em intervenção médica.

Na Parte A, os pacientes que receberam zilebesiran tiveram reduções nos níveis séricos de angiotensinogênio que foram correlacionados com a dose administrada (r = -0,56 na semana 8; intervalo de confiança de 95%, -0,69 a -0,39).

Doses únicas de zilebesiran (≥200 mg) foram associadas a reduções na pressão arterial sistólica24 (>10 mmHg) e pressão arterial diastólica25 (>5 mmHg) na semana 8; essas mudanças foram consistentes ao longo do ciclo diurno e foram mantidas em 24 semanas.

Os resultados das Partes B e E foram consistentes com a atenuação do efeito na pressão arterial2 por uma dieta rica em sal e com um efeito aumentado por meio da co-administração com irbesartana, respectivamente.

O estudo demonstrou que as reduções dependentes da dose nos níveis séricos de angiotensinogênio e na pressão arterial2 ambulatorial de 24 horas foram mantidas por até 24 semanas após uma dose única subcutânea5 de zilebesiran de 200 mg ou mais; foram observadas reações leves no local da injeção3.

Leia sobre "Mecanismos de ação dos anti-hipertensivos" e "Dieta para hipertensos".

 

Fontes:
The New England Journal of Medicine, publicação em 20 de julho de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 19 de julho de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Nova terapia de siRNA para hipertensão interrompe a síntese hepática de angiotensinogênio. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1442485/nova-terapia-de-sirna-para-hipertensao-interrompe-a-sintese-hepatica-de-angiotensinogenio.htm>. Acesso em: 28 abr. 2024.

Complementos

1 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
2 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
3 Injeção: Infiltração de medicação ou nutrientes líquidos no corpo através de uma agulha e seringa.
4 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
5 Subcutânea: Feita ou situada sob a pele; hipodérmica.
6 Cabeça:
7 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
8 Hipotensão: Pressão sanguínea baixa ou queda repentina na pressão sanguínea. A hipotensão pode ocorrer quando uma pessoa muda rapidamente de uma posição sentada ou deitada para a posição de pé, causando vertigem ou desmaio.
9 Hipercalemia: É a concentração de potássio sérico maior que 5.5 mmol/L (mEq/L). Uma concentração acima de 6.5 mmol/L (mEq/L) é considerada crítica.
10 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
11 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
12 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
13 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
14 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
15 Metabólitos: Qualquer composto intermediário das reações enzimáticas do metabolismo.
16 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
17 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
18 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
19 Choque: 1. Estado de insuficiência circulatória a nível celular, produzido por hemorragias graves, sepse, reações alérgicas graves, etc. Pode ocasionar lesão celular irreversível se a hipóxia persistir por tempo suficiente. 2. Encontro violento, com impacto ou abalo brusco, entre dois corpos. Colisão ou concussão. 3. Perturbação brusca no equilíbrio mental ou emocional. Abalo psíquico devido a uma causa externa.
20 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
21 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
22 Apatia: 1. Em filosofia, para os céticos e os estoicos, é um estado de insensibilidade emocional ou esmaecimento de todos os sentimentos, alcançado mediante o alargamento da compreensão filosófica. 2. Estado de alma não suscetível de comoção ou interesse; insensibilidade, indiferença. 3. Em psicopatologia, é o estado caracterizado por indiferença, ausência de sentimentos, falta de atividade e de interesse. 4. Por extensão de sentido, é a falta de energia (física e moral), falta de ânimo; abatimento, indolência, moleza.
23 Patogênese: Modo de origem ou de evolução de qualquer processo mórbido; nosogenia, patogênese, patogenesia.
24 Pressão arterial sistólica: É a pressão mais elevada (pico) verificada nas artérias durante a fase de sístole do ciclo cardíaco, é também chamada de pressão máxima.
25 Pressão arterial diastólica: É a pressão mais baixa detectada no sistema arterial sistêmico, observada durante a fase de diástole do ciclo cardíaco. É também denominada de pressão mínima.
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