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Risco de demência foi associado à terapia hormonal na menopausa, mesmo em mulheres com 55 anos ou menos

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A terapia hormonal na menopausa1 foi associada à demência2 e à doença de Alzheimer3, mesmo em mulheres que receberam tratamento aos 55 anos ou menos de idade, sugeriu um grande estudo observacional na Dinamarca, publicado no The British Medical Journal.

Mulheres de 50 a 60 anos que receberam terapia com estrogênio-progesterona tiveram um risco aumentado de demência2 por todas as causas em comparação com mulheres que nunca usaram o tratamento, relataram Nelsan Pourhadi, MD, do Hospital da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e co-autores.

As razões de risco aumentaram com durações de uso mais longas, de 1,21 para 1 ano ou menos para 1,74 para mais de 12 anos.

As associações persistiram em mulheres que receberam tratamento aos 55 anos ou menos, ou quando limitadas à demência2 de início tardio ou doença de Alzheimer3.

O que as descobertas significam não está claro. “Mais estudos são necessários para determinar se esses achados representam um efeito real da terapia hormonal na menopausa1 no risco de demência2 ou se refletem uma predisposição subjacente em mulheres que precisam desses tratamentos”, escreveram Pourhadi e seus colegas.

Saiba mais sobre "Menopausa1", "Terapia de Reposição Hormonal ou TRH" e "Doenças degenerativas4".

Kejal Kantarci, MD, da Mayo Clinic em Rochester, EUA, que é co-autora de um editorial que acompanhou a publicação do estudo, concordou.

“Uma relação entre terapia hormonal e demência2 não significa que a terapia hormonal na menopausa1 cause demência”, disse Kantarci. “Embora esse possa ser um dos motivos, existem muitos outros fatores que podem contribuir para essa relação.”

“Por exemplo, as mulheres que procuram terapia hormonal por razões como dificuldades cognitivas, distúrbios do sono ou sintomas5 vasomotores podem já estar propensas à demência2 mais tarde na vida”, continuou Kantarci.

“Os ensaios clínicos6 fornecem a evidência mais forte de causalidade”, enfatizou ela. “Ensaios clínicos recentes indicam que as mulheres que recebem terapias hormonais durante a transição da menopausa1 não correm risco de declínio cognitivo”.

Embora a análise não prove um nexo causal, “a possibilidade de um nexo causal é aumentada pela nova descoberta (já que melhores registros estavam disponíveis) de que quanto mais tempo as pessoas tomavam esse tipo de TRH (terapia de reposição hormonal), maior a probabilidade de desenvolverem demência”, observou Gill Livingston, PhD, da University College London, na Inglaterra.

“Além disso, a prescrição de TRH precedeu a demência2 em muitos anos”, afirmou Livingston. “Ademais, os pesquisadores levaram em consideração na análise outros fatores de risco para demência”.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que o objetivo do estudo foi avaliar a associação entre o uso de terapia hormonal na menopausa1 e o desenvolvimento de demência2 de acordo com o tipo de tratamento hormonal, duração do uso e idade de uso.

Foi realizado um estudo de caso-controle aninhado nacional, na Dinamarca, utilizando registros nacionais.

5.589 casos incidentes7 de demência2 e 55.890 controles pareados por idade foram identificados entre 2000 e 2018 de uma população de todas as mulheres dinamarquesas com idades entre 50 e 60 anos em 2000, sem histórico de demência2 ou contraindicações para o uso de terapia hormonal na menopausa1.

A principal medida de resultado foi as razões de risco ajustadas com intervalos de confiança de 95% para demência2 por todas as causas, definida pelo primeiro diagnóstico8 ou pelo uso de medicação específica para demência2 pela primeira vez.

Em comparação com pessoas que nunca usaram tratamento, as pessoas que receberam terapia com estrogênio-progesterona tiveram uma taxa aumentada de demência2 por todas as causas (razão de risco 1,24 [intervalo de confiança de 95% 1,17 a 1,33]).

Durações crescentes de uso resultaram em razões de risco mais altas, variando de 1,21 (1,09 a 1,35) para um ano ou menos de uso a 1,74 (1,45 a 2,10) para mais de 12 anos de uso.

A terapia com estrogênio-progesterona foi positivamente associada ao desenvolvimento de demência2 tanto para regimes contínuos (1,31 [1,18 a 1,46]) quanto cíclicos (1,24 [1,13 a 1,35]).

As associações persistiram em mulheres que receberam tratamento com 55 anos ou menos (1,24 [1,11 a 1,40]). Os achados persistiram quando restritos à demência2 de início tardio (1,21 [1,12 a 1,30]) e à doença de Alzheimer3 (1,22 [1,07 a 1,39]).

O estudo concluiu que a terapia hormonal na menopausa1 foi positivamente associada ao desenvolvimento de demência2 por todas as causas e doença de Alzheimer3, mesmo em mulheres que receberam tratamento com 55 anos de idade ou menos. O aumento da taxa de demência2 foi semelhante entre o tratamento contínuo e cíclico.

Mais estudos são necessários para determinar se esses achados representam um efeito real da terapia hormonal na menopausa1 no risco de demência2 ou se refletem uma predisposição subjacente em mulheres que precisam desses tratamentos.

Leia sobre "Climatério9 e menopausa1: como são", "Reposição hormonal com hormônios bioidênticos" e "Demência2".

 

Fontes:
The British Medical Journal, publicação em 28 de junho de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 29 de junho de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Risco de demência foi associado à terapia hormonal na menopausa, mesmo em mulheres com 55 anos ou menos. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1441555/risco-de-demencia-foi-associado-a-terapia-hormonal-na-menopausa-mesmo-em-mulheres-com-55-anos-ou-menos.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.

Complementos

1 Menopausa: Estado fisiológico caracterizado pela interrupção dos ciclos menstruais normais, acompanhada de alterações hormonais em mulheres após os 45 anos.
2 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
3 Doença de Alzheimer: É uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecidos que acomete preferencialmente as pessoas idosas. É uma forma de demência. No início há pequenos esquecimentos, vistos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta e acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho. Tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares como alimentação, higiene, vestuário, etc..
4 Degenerativas: Relativas a ou que provocam degeneração.
5 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
6 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
7 Incidentes: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
8 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
9 Climatério: Conjunto de mudanças adaptativas que são produzidas na mulher como conseqüência do declínio da função ovariana na menopausa. Consiste em aumento de peso, “calores” freqüentes, alterações da distribuição dos pêlos corporais, dispareunia.
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