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Delirium pós-operatório em idosos foi associado a um declínio cognitivo 40% mais rápido

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Um novo estudo de pesquisadores da Harvard Medical School no Hebrew SeniorLife sugere que o delirium1 – a complicação pós-operatória mais comum em idosos – está associado a uma taxa 40% mais rápida de declínio cognitivo2 naqueles que desenvolvem delirium1 em relação aos que não desenvolvem.

O estudo, que inclui co-autores da HMS, da Warren Alpert Medical School da Brown University e da University of Maryland, foi publicado no JAMA Internal Medicine.

“Este estudo tem o período de acompanhamento mais longo de qualquer estudo que examina pessoas com delirium1 após a cirurgia”, disse Sharon Inouye, professora de medicina da HMS no Hebrew SeniorLife, autora sênior3 e investigadora principal do estudo.

“Embora estudos futuros sejam necessários, este estudo levanta a possibilidade de que o delirium1 possa predispor ao declínio cognitivo2 permanente e potencialmente à demência4. Isso destaca a importância da prevenção do delirium1 para preservar a saúde5 do cérebro6 em idosos que se submetem a cirurgias”, disse ela.

Inouye também é diretora do Aging Brain Center no Hinda and Arthur Marcus Institute for Aging Research.

“O delirium1 está associado a um declínio cognitivo2 mais rápido”, disse o primeiro autor Zachary Kunicki, da Warren Alpert Medical School da Brown University. “Se o delirium1 causa essa taxa mais rápida de declínio ou é simplesmente um marcador daqueles que correm o risco de experimentar taxas mais rápidas de declínio, ainda não foi determinado”.

Leia sobre "Delirium1 ou estado confusional em idosos", "Confusão mental - como evitar" e "Distúrbio neurocognitivo".

O Estudo do Envelhecimento Bem-sucedido após Cirurgia Eletiva7 (SAGES) acompanhou uma coorte8 de 560 adultos com 70 anos ou mais, medindo sua cognição9 a cada seis meses por 36 meses, depois anualmente por até seis anos.

Usando uma bateria cognitiva10 detalhada de 11 testes diferentes, os pesquisadores descobriram que as mudanças cognitivas após a cirurgia são complexas e que o delirium1 influencia todos os pontos do tempo.

As mudanças cognitivas médias observadas após a cirurgia incluem uma queda abrupta em um mês após a cirurgia, um aumento em dois meses após a cirurgia, um período estável de seis a 30 meses após a cirurgia e, em seguida, declínio constante três a seis anos após a cirurgia.

O delirium1 está associado a uma queda mais acentuada em um mês, maior recuperação em dois meses e declínio mais rápido em todos os períodos de seis meses a seis anos.

Os resultados sugerem que o próprio delirium1 pode contribuir para o declínio cognitivo2 após a cirurgia ou que o delirium1 pode servir para identificar aqueles em risco de declínio cognitivo2 mais rápido no futuro.

Mais pesquisas são necessárias para examinar se uma ou ambas as hipóteses explicam melhor a relação entre delirium1 e declínio cognitivo2.

No estudo, o objetivo foi examinar os padrões e o ritmo do declínio cognitivo2 até 72 meses (6 anos) em uma coorte8 de idosos após delirium1.

Para tanto, foi realizado um estudo de coorte11 observacional prospectivo12 com acompanhamento de longo prazo, incluindo 560 idosos residentes na comunidade (com mais de 70 anos) que faziam parte do Estudo do Envelhecimento Bem-sucedido após Cirurgia Eletiva7 em andamento, iniciado em 2010. Os dados foram analisados de 2021 a 2022.

A exposição do estudo foi o desenvolvimento de delirium1 incidente13 após cirurgia eletiva7 de grande porte.

O delirium1 foi avaliado diariamente durante a hospitalização usando o Confusion Assessment Method, que foi complementado com a revisão do prontuário. O desempenho cognitivo14 usando uma bateria abrangente de testes neuropsicológicos foi avaliado no pré-operatório e em vários pontos no pós-operatório de 72 meses de acompanhamento.

Avaliou-se a mudança cognitiva10 longitudinal usando uma medida composta de desempenho neuropsicológico chamada desempenho cognitivo14 geral (DCG), que é dimensionada de forma que 10 pontos no DCG sejam equivalentes a 1 DP da população. Os efeitos do reteste foram ajustados usando resultados de testes cognitivos15 em um grupo de comparação não cirúrgico.

Os 560 participantes (326 mulheres [58%]; idade média [DP], 76,7 [5,2] anos) forneceram um total de 2.637 pessoas-anos de acompanhamento. Cento e trinta e quatro participantes (24%) desenvolveram delirium1 pós-operatório.

A mudança cognitiva10 após a cirurgia foi complexa: encontrou-se evidências de diferenças nas mudanças agudas, pós-curto prazo, intermediárias e de longo prazo desde o momento da cirurgia que foram associadas ao desenvolvimento de delirium1 pós-operatório.

A mudança cognitiva10 de longo prazo, que foi ajustada para efeitos de prática e recuperação, ocorreu em um ritmo de cerca de -1,0 unidade no DCG (IC 95%, -1,1 a -0,9) por ano (cerca de 0,10 unidades de DP da população por ano).

Os participantes com delirium1 mostraram mudanças cognitivas de longo prazo significativamente mais rápidas com -0,4 unidades no DCG adicionais (IC 95%, -0,1 a -0,7) ou -1,4 unidades por ano (cerca de 0,14 unidades de DP da população por ano).

Este estudo de coorte11 descobriu que o delirium1 foi associado a uma aceleração de 40% no declive do declínio cognitivo2 até 72 meses após a cirurgia eletiva7. Como este é um estudo observacional, não se pode ter certeza se o delirium1 causa diretamente o declínio cognitivo2 subsequente ou se os pacientes com doença cerebral pré-clínica têm maior probabilidade de desenvolver delirium1.

Pesquisas futuras são necessárias para entender o caminho causal entre delirium1 e declínio cognitivo2.

Veja também sobre "Diferenças entre delírio16, delirium1 e delirium tremens17" e "Principais síndromes geriátricas".

 

Fontes:
JAMA Internal Medicine, publicação em 20 de março de 2023.
Harvard Medical School, notícia publicada em 20 de março de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Delirium pós-operatório em idosos foi associado a um declínio cognitivo 40% mais rápido. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1436180/delirium-pos-operatorio-em-idosos-foi-associado-a-um-declinio-cognitivo-40-mais-rapido.htm>. Acesso em: 10 out. 2024.

Complementos

1 Delirium: Alteração aguda da consciência ou da lucidez mental, provocado por uma causa orgânica. O delirium tem causa orgânica e cessa se a causa orgânica cessar. Ele pode acontecer nos traumas cranianos, nas infecções etc. Os exemplos mais típicos são o delirium do alcoólatra crônico e o delirium febril.
2 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
3 Sênior: 1. Que é o mais velho. 2. Diz-se de desportistas que já ganharam primeiros prêmios: um piloto sênior. 3. Diz-se de profissionais experientes que já exercem, há algum tempo, determinada atividade.
4 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
5 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
6 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
7 Eletiva: 1. Relativo à eleição, escolha, preferência. 2. Em medicina, sujeito à opção por parte do médico ou do paciente. Por exemplo, uma cirurgia eletiva é indicada ao paciente, mas não é urgente. 3. Cujo preenchimento depende de eleição (diz-se de cargo). 4. Em bioquímica ou farmácia, aquilo que tende a se combinar com ou agir sobre determinada substância mais do que com ou sobre outra.
8 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
9 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
10 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
11 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
12 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
13 Incidente: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
14 Desempenho cognitivo: Desempenho dos processos de aprendizagem e de aquisição de conhecimento através da percepção.
15 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
16 Delírio: Delirio é uma crença sem evidência, acompanhada de uma excepcional convicção irrefutável pelo argumento lógico. Ele se dá com plena lucidez de consciência e não há fatores orgânicos.
17 Delirium tremens: Variedade de delírio associado ao consumo ou abstinência de álcool.
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