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Descobertas podem ajudar a desenvolver teste inédito para detectar diabéticos em risco de doença renal

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Em um estudo internacional inédito liderado por pesquisadores da Monash University na Austrália, os marcadores genéticos para pessoas com diabetes1 em risco de desenvolver doença renal2 foram identificados. Os resultados foram publicados no Journal of Clinical Investigation.

O estudo abre caminho para o desenvolvimento de um teste que pode prever os adultos com diabetes tipo 13 em risco de nefropatia4 diabética antes que os sintomas5 apareçam, permitindo que os médicos introduzam intervenções em estágio inicial.

Existem mais de 500 milhões de adultos vivendo com diabetes1 e aproximadamente 1 em cada 4 adultos desenvolverá doença renal2. Mais de 80% dos casos de doença renal2 terminal são causados por diabetes1, que também é um risco para hipertensão6. Prevê-se que o número total de pessoas com diabetes1 aumente para 643 milhões em 2030 e 783 milhões em 2045.

As descobertas são do maior estudo internacional sobre diabetes tipo 13, liderado pelo professor Sam El-Osta, do Departamento de Diabetes1 da Monash University.

Saiba mais sobre "Complicações do diabetes7 mellitus" e "Nefropatia4 diabética".

O estudo testou os genes em 1.017 escandinavos e asiáticos de coortes de diabetes1, observando o processo chamado metilação, que é quando uma pequena molécula chamada grupo metil é adicionada ao DNA. De acordo com o professor El-Osta, as descobertas revelaram “indícios importantes de que a redução da metilação do DNA está intimamente associada ao aumento do risco de doenças renais relacionadas ao diabetes”, disse ele. “Essas descobertas influenciarão a forma como examinamos os pacientes com diabetes1 e melhoraremos a estratificação de risco, a previsão e o diagnóstico8 da doença”.

Atualmente, os ensaios padrão usados na prática clínica dependem da avaliação da função renal2 e do nível de dano ao rim9 causado pelo diabetes1 – no entanto, os estágios iniciais da doença geralmente não apresentam sintomas5. “Desenvolvemos um método confiável que melhora o risco preditivo e a precisão do diagnóstico”, disse o primeiro autor do estudo, Dr. Ishant Khurana, também da Monash University.

De acordo com o professor El-Osta, apesar dos enormes avanços nos testes genéticos, nenhum gene de risco para doença renal2 diabética (DRD) foi identificado. “A equipe da Monash University, usando técnicas inovadoras de sequenciamento, desenvolveu pontuações de risco de metilação de genes que estão fortemente associadas à detecção precoce e ao desenvolvimento de doença renal2 diabética”, disse ele.

Os pesquisadores esperam que o teste de rotina de metilação de genes para complicações diabéticas, como doença renal2, seja em breve uma parte padrão do plano de tratamento, como é para cânceres mais comuns.

No artigo, os pesquisadores relatam que a metilação reduzida corresponde ao risco de nefropatia4 diabética no diabetes tipo 13.

Eles contextualizam que a nefropatia4 diabética (ND) é um distúrbio poligênico com poucas variantes de risco mostrando replicação robusta em estudos de associação genômica em larga escala.

Para entender o papel da metilação do DNA, é importante ter a visão10 genômica predominante para distinguir os elementos-chave da sequência que influenciam a expressão gênica. Isso é particularmente desafiador para a ND porque os padrões de metilação do genoma são mal definidos.

Embora a metilação seja conhecida por alterar a expressão gênica, a importância dessa relação causal é obscurecida por tecnologias baseadas em matriz, uma vez que a cobertura fora das regiões promotoras é baixa.

Para superar esses desafios, foi realizado o sequenciamento de metilação usando leucócitos11 derivados de participantes (n = 39) do estudo de diabetes tipo 13 (DM1) Finnish Diabetic Nephropathy (FinnDiane) que foi posteriormente replicado em uma coorte12 de validação maior (n = 296).

As regiões relacionadas ao corpo do gene representaram >60% das diferenças de metilação e enfatizaram a importância do sequenciamento da metilação.

Observou-se genes diferencialmente metilados associados à ND em três registros independentes de DM1 originários da Dinamarca (n = 445), Hong Kong (n = 107) e Tailândia (n = 130).

A metilação reduzida do DNA nos genes CTCF e Pol2B estava fortemente conectada com as vias da ND, que incluem sinalização de insulina13, metabolismo14 lipídico e fibrose15.

Para definir o significado fisiopatológico desses achados populacionais, os índices de metilação foram avaliados em células16 renais humanas, como podócitos17 e túbulos contorcidos proximais18. A expressão de genes centrais foi associada com metilação reduzida, ligação elevada de CTCF e Pol2B e ativação de fosfoproteínas sinalizadoras de insulina13 em células16 hiperglicêmicas.

Estas observações experimentais também acompanham de perto a regulação mediada pela metilação em macrófagos19 humanos e células16 endoteliais vasculares20.

Leia sobre "Insuficiência renal21 crônica", "Diabetes Mellitus22" e "Exame genético".

 

Fontes:
The Journal of Clinical Investigation, publicação em 12 de janeiro de 2023.
Medical Xpress, notícia publicada em 18 de janeiro de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Descobertas podem ajudar a desenvolver teste inédito para detectar diabéticos em risco de doença renal. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1432500/descobertas-podem-ajudar-a-desenvolver-teste-inedito-para-detectar-diabeticos-em-risco-de-doenca-renal.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
2 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
3 Diabetes tipo 1: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada por deficiência na produção de insulina. Ocorre quando o próprio sistema imune do organismo produz anticorpos contra as células-beta produtoras de insulina, destruindo-as. O diabetes tipo 1 se desenvolve principalmente em crianças e jovens, mas pode ocorrer em adultos. Há tendência em apresentar cetoacidose diabética.
4 Nefropatia: Lesão ou doença do rim.
5 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
6 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
7 Complicações do diabetes: São os efeitos prejudiciais do diabetes no organismo, tais como: danos aos olhos, coração, vasos sangüíneos, sistema nervoso, dentes e gengivas, pés, pele e rins. Os estudos mostram que aqueles que mantêm os níveis de glicose do sangue, a pressão arterial e o colesterol próximos aos níveis normais podem ajudar a impedir ou postergar estes problemas.
8 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
9 Rim: Os rins são órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
10 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
11 Leucócitos: Células sangüíneas brancas. Compreendem tanto os leucócitos granulócitos (BASÓFILOS, EOSINÓFILOS e NEUTRÓFILOS) como os não granulócitos (LINFÓCITOS e MONÓCITOS). Sinônimos: Células Brancas do Sangue; Corpúsculos Sanguíneos Brancos; Corpúsculos Brancos Sanguíneos; Corpúsculos Brancos do Sangue; Células Sanguíneas Brancas
12 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
13 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
14 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
15 Fibrose: 1. Aumento das fibras de um tecido. 2. Formação ou desenvolvimento de tecido conjuntivo em determinado órgão ou tecido como parte de um processo de cicatrização ou de degenerescência fibroide.
16 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
17 Podócitos: Células epiteliais altamente diferenciadas na camada visceral da CÁPSULA DE BOWMAN no RIM. São formadas por um corpo celular, com EXTENSÕES DA SUPERFÍCIE CELULAR e extensões digitiformes secundárias (pedicelos). Com aquelas, envolvem os capilares do GLOMÉRULO RENAL, formando uma estrutura de filtração. Os pedicelos dos podócitos vizinhos interdigitam, deixando aberturas de filtração (ligadas a estruturas extracelulares, impermeáveis a grandes macromoléculas) denominadas diafragma de fenda (slit diaphragm), a última barreira no RIM contra perda de proteínas.
18 Proximais: 1. Que se localiza próximo do centro, do ponto de origem ou do ponto de união. 2. Em anatomia geral, significa o mais próximo do tronco (no caso dos membros) ou do ponto de origem (no caso de vasos e nervos). Ou também o que fica voltado para a cabeça (diz-se de qualquer formação). 3. Em botânica, o que fica próximo ao ponto de origem ou à base. 4. Em odontologia, é o mais próximo do ponto médio do arco dental.
19 Macrófagos: É uma célula grande, derivada do monócito do sangue. Ela tem a função de englobar e destruir, por fagocitose, corpos estranhos e volumosos.
20 Vasculares: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
21 Insuficiência renal: Condição crônica na qual o corpo retém líquido e excretas pois os rins não são mais capazes de trabalhar apropriadamente. Uma pessoa com insuficiência renal necessita de diálise ou transplante renal.
22 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
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