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Associação entre periodontite e fibrilação atrial foi aprofundada por achados histológicos

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Evidências crescentes sugerem que a periodontite é um possível fator de risco1 modificável para fibrilação atrial (FA), embora permaneça a questão de saber se a melhoria da saúde2 bucal pode ajudar nos resultados clínicos.

Uma associação histológica3 entre doença inflamatória da gengiva e fibrose4 atrial foi confirmada em um pequeno estudo prospectivo5 mostrando que pessoas exibindo sinais6 de periodontite – sangramento à sondagem, profundidade de sondagem periodontal7 de 4 mm ou mais e maior área de superfície inflamada periodontal7 (ASIP) – tendiam a ter fibrose4 atrial com base em seus apêndices atriais esquerdos (AAE) ressecados.

A ASIP foi significativamente associada à fibrose4 atrial após o ajuste multivariável.

Com a substituição fibrótica do miocárdio8 atrial conhecida por contribuir para o desenvolvimento de fibrilação atrial, essas descobertas aumentam a evidência de uma ligação entre doença oral e sistêmica, de acordo com Yukiko Nakano, MD, PhD, da Universidade de Hiroshima no Japão, e colegas.

Saiba mais sobre "Gengivite9" e "Periodontite - como evitar".

“Este estudo fornece evidências básicas de que a periodontite pode agravar a fibrose4 atrial e, assim, levar ao aparecimento e persistência de fibrilação atrial”, afirmaram no estudo publicado no JACC: Clinical Electrophysiology. “Mais estudos clínicos prospectivos são necessários para esclarecer se a intervenção periodontal7 sozinha pode inibir a fibrose4 atrial e melhorar o resultado da FA.” As descobertas estão programadas para inclusão na reunião anual da American Heart Association de 2022.

“Estudos agora precisam mostrar que o tratamento da periodontite crônica é um protetor atrial”, concordou Andreas Goette, MD, do St. Vincenz Hospital em Paderborn, Alemanha, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

Há décadas de pesquisa relacionando infecções10 orais com condições como diabetes mellitus11, aterosclerose12, doenças cardiovasculares13 e cerebrovasculares e artrite reumatoide14. O que Nakano e seus colegas fizeram foi “adicionar uma pequena peça no quebra-cabeça15 para entender o papel da inflamação16 crônica no desenvolvimento de fibrose4 atrial, fibrilação atrial e AVC”, comentou Goette.

“É importante ressaltar que cerca de 50% da população de meia-idade é afetada por diferentes estágios de periodontite. Assim, é de potencial importância clínica avaliar se processos inflamatórios orais crônicos podem contribuir para o desenvolvimento de patologias atriais”, disse Goette.

No artigo publicado, os pesquisadores investigaram a relação entre periodontite e fibrose4 atrial na fibrilação atrial.

Eles contextualizam que a fibrose4 atrial contribui para o aparecimento e persistência da fibrilação atrial (FA) e do AVC relacionado à FA. A periodontite, uma doença infecciosa e inflamatória comum, agrava algumas doenças sistêmicas. No entanto, a associação de periodontite com FA e com fibrose4 atrial permanece não esclarecida.

O objetivo, portanto, foi elucidar a relação entre periodontite e fibrose4 atrial por meio do estudo de apêndices atriais esquerdos (AAE) ressecados.

Setenta e seis pacientes com FA (55 com FA não paroxística, 25 com regurgitação17 da valva mitral18, 18 com trombo19 do AAE) que estavam programados para serem submetidos à excisão do AAE durante cirurgia cardíaca foram incluídos prospectivamente.

Todos os pacientes foram submetidos a um exame bucal, e o número remanescente de dentes, sangramento à sondagem, profundidade de sondagem periodontal7 e área de superfície inflamada periodontal7 (ASIP) foram avaliados como parâmetros de periodontite. O grau de fibrose4 em cada AAE foi quantificado pela coloração Azan-Mallory.

Sangramento à sondagem (R = 0,48; P <0,0001), profundidade de sondagem periodontal7 ≥4 mm (R = 0,26; P = 0,02) e ASIP (R = 0,46; P <0,0001) foram positivamente correlacionados com fibrose4 atrial.

Entre os pacientes com mais de 10 dentes remanescentes, a ASIP foi positiva e fortemente correlacionada com a fibrose4 atrial (R = 0,57; P <0,0001).

Após ajustes para idade, duração da FA, IMC20, regurgitação17 da válvula mitral e escore CHADS₂ (insuficiência cardíaca congestiva21, hipertensão22, idade, diabetes23, AVC anterior/ataque isquêmico24 transitório), a ASIP foi significativamente associada à fibrose4 atrial (β = 0,016; P = 0,0002).

Esses achados revelaram histologicamente a associação de periodontite com fibrose4 atrial. Isso indica que a periodontite, que é modificável, é provavelmente um fator de risco1 para fibrilação atrial.

Leia sobre "Fibrilação atrial", "Arritmia25 cardíaca" e "Doenças cardiovasculares13".

 

Fontes:
JACC: Clinical Electrophysiology, publicação em 31 de outubro de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 31 de outubro de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Associação entre periodontite e fibrilação atrial foi aprofundada por achados histológicos. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1430360/associacao-entre-periodontite-e-fibrilacao-atrial-foi-aprofundada-por-achados-histologicos.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
2 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
3 Histológica: Relativo à histologia, ou seja, relativo à disciplina biomédica que estuda a estrutura microscópica, composição e função dos tecidos vivos.
4 Fibrose: 1. Aumento das fibras de um tecido. 2. Formação ou desenvolvimento de tecido conjuntivo em determinado órgão ou tecido como parte de um processo de cicatrização ou de degenerescência fibroide.
5 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
6 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
7 Periodontal: Relativo ao ou próprio do tecido em torno dos dentes, o periodonto. O periodonto é o tecido conjuntivo que fixa o dente no alvéolo.
8 Miocárdio: Tecido muscular do CORAÇÃO. Composto de células musculares estriadas e involuntárias (MIÓCITOS CARDÍACOS) conectadas, que formam a bomba contrátil geradora do fluxo sangüíneo. Sinônimos: Músculo Cardíaco; Músculo do Coração
9 Gengivite: Condição em que as gengivas apresentam-se com sinais inflamatórios e sangramentos.
10 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
11 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
12 Aterosclerose: Tipo de arteriosclerose caracterizado pela formação de placas de ateroma sobre a parede das artérias.
13 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
14 Artrite reumatóide: Doença auto-imune de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite periférica, simétrica, que leva à deformidade e à destruição das articulações por erosão do osso e cartilagem. Afeta mulheres duas vezes mais do que os homens e sua incidência aumenta com a idade. Em geral, acomete grandes e pequenas articulações em associação com manifestações sistêmicas como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. Quando envolve outros órgãos, a morbidade e a gravidade da doença são maiores, podendo diminuir a expectativa de vida em cinco a dez anos.
15 Cabeça:
16 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
17 Regurgitação: Presença de conteúdo gástrico na cavidade oral, na ausência do reflexo de vômito. É muito freqüente em lactentes.
18 Valva Mitral: Válvula localizada entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo do coração.
19 Trombo: Coágulo aderido à parede interna de uma veia ou artéria. Pode ocasionar a diminuição parcial ou total da luz do mesmo com sintomas de isquemia.
20 IMC: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
21 Insuficiência Cardíaca Congestiva: É uma incapacidade do coração para efetuar as suas funções de forma adequada como conseqüência de enfermidades do próprio coração ou de outros órgãos. O músculo cardíaco vai diminuindo sua força para bombear o sangue para todo o organismo.
22 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
23 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
24 Isquêmico: Relativo à ou provocado pela isquemia, que é a diminuição ou suspensão da irrigação sanguínea, numa parte do organismo, ocasionada por obstrução arterial ou por vasoconstrição.
25 Arritmia: Arritmia cardíaca é o nome dado a diversas perturbações que alteram a frequência ou o ritmo dos batimentos cardíacos.
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