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Descoberta ligação entre distúrbios hipertensivos na gravidez e demência mais tarde na vida

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Mulheres grávidas com hipertensão1 gestacional e pré-eclâmpsia2/eclâmpsia3 tiveram um risco maior de demência4 vascular5 mais tarde na vida, embora não tenham apresentado risco excessivo significativo para a doença de Alzheimer6, de acordo com um estudo que acompanhou mulheres retrospectivamente por um período de 80 anos.

Entre quase 20.000 mulheres com histórico de distúrbios hipertensivos da gravidez7 (DHG), o risco de demência4 vascular5 foi maior naquelas com pré-eclâmpsia2/eclâmpsia3 (HR 1,58, IC 95% 1,11-2,24, P = 0,011) e naquelas com hipertensão1 gestacional (HR 2,75, IC 95% 0,90-8,40, P = 0,077) em comparação com aquelas sem DHG, relatou Karen Schliep, PhD, da Escola de Medicina da Universidade de Utah em Salt Lake City, durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer8.

O risco de demência4 por todas as causas também foi maior com essas condições (HR 1,38, IC 95% 1,26-1,50 e HR 1,36, IC 95% 1,03-1,79, respectivamente).

Até 61% do excesso de risco pode ser explicado por distúrbios cardíacos e mentais na meia-idade, disse Schliep ao MedPage Today. “Isso inclui infarto do miocárdio9, doença isquêmica do coração10, insuficiência cardíaca11, acidente vascular cerebral12, doença renal13 crônica, diabetes14, hipertensão1 e depressão. Esta é uma informação importante, pois aponta para onde podemos intervir para prevenir a demência4 ou pelo menos atrasá-la.”

Mulheres com pré-eclâmpsia2/eclâmpsia3 também foram mais propensas a desenvolver outras demências / demências não especificadas (HR 1,51, IC 95% 1,36-1,68, P <0,001) em comparação com mulheres sem DHG, mas o excesso de risco para aquelas com hipertensão1 gestacional não atingiu significância estatística (HR 1,31, IC 95% 0,96-1,80, P = 0,093).

Depois de controlar para fatores como idade da mãe no primeiro nascimento indexado, os pesquisadores não encontraram ligação significativa entre qualquer tipo de DHG e doença de Alzheimer6 (P = 0,70 para pré-eclâmpsia2/eclâmpsia3 e P = 0,691 para hipertensão1 gestacional). Isso pode ser porque Alzheimer8 e outras demências têm fisiopatologias diferentes, disse Schliep.

Saiba mais sobre "Sintomas15 da hipertensão1", "Hipertensão1 da gravidez7" e "Diferenças entre pré-eclâmpsia2 e eclâmpsia3".

Com o estudo, os pesquisadores buscavam descobrir quais subtipos estão impulsionando a associação entre distúrbios hipertensivos da gravidez7 e demência4.

Foi descoberto recentemente que as mulheres com, versus sem, história de DHG tinham um risco maior de demência4 por todas as causas, demência4 vascular5 (DV) e outras demências / demências não especificadas, mas não de doença de Alzheimer6 (DA). No novo estudo, portanto, avaliou-se associações de subtipos de DHG com demências na vida adulta.

Foi realizado um estudo de coorte16 retrospectivo17 entre mulheres com pelo menos 1 gravidez7 única (1939-2019) em Utah. A classificação do DHG foi feita por meio de certidões de nascimento (sequência de texto, 1939-1977; códigos CID-9, 1978-1988; e caixas de seleção com texto adicional, 1989-2013), com atestados de óbito18 e registros de internação usados para validação. A classificação da demência4 foi avaliada usando códigos CID-9/10 por meio de registros de óbito18, de internação e do Medicare.

As mulheres expostas a DHG (n = 19.989) foram pareadas 1:2 com mulheres não expostas (n = 39.679) por faixas etárias de 5 anos, ano do parto e paridade no momento da gravidez7. Modelos de regressão de Cox foram usados para estimar as razões de risco ajustadas (aHR) e IC 95% para subtipos de DHG com demências por todas as causas e demências específicas.

As gestações com DHG foram compostas por pré-eclâmpsia2/eclâmpsia3 (65,9%) e hipertensão1 gestacional (33,5%). Os demais casos de DHG foram devidos à síndrome19 HELLP (0,6%), que não foi avaliada no estudo devido à pequena contagem de casos.

A incidência20 de demência4 durante o acompanhamento (1979-2019) foi de 4,1%; destas, 70% eram outras demências / demências não especificadas, 24% eram DA e 6% eram DV.

Mulheres com história de pré-eclâmpsia2/eclâmpsia3, em comparação com mulheres não expostas, tiveram um risco 1,38 maior de demência4 por todas as causas, enquanto as mulheres com hipertensão1 gestacional tiveram um risco 1,36 maior.

Dividindo por subtipos de demência4, as mulheres com histórico de pré-eclâmpsia2/eclâmpsia3 tiveram um risco 1,51 maior de outra demência4 / demência4 não especificada, enquanto as mulheres com hipertensão1 gestacional tiveram um risco 1,31 maior.

A força de associação da hipertensão1 gestacional com a DV foi de 2,75, quase o dobro da pré-eclâmpsia2/eclâmpsia3, que foi de 1,58. Os subtipos de DHG não foram associados à DA.

Esses resultados estão de acordo com o maior estudo até o momento realizado na Dinamarca que descobriu a pré-eclâmpsia2 mais fortemente associada à demência4 vascular5 em comparação com outros subtipos de demência4.

Os resultados sugerem ainda que o risco de demência4 vascular5 pode ser tão alto para mulheres com histórico de hipertensão1 gestacional quanto para aqueles que tiveram pré-eclâmpsia2.

Leia sobre "Demência4", "Demência4 vascular5" e "Mal de Alzheimer8".

 

Fontes:
Alzheimer’s Association International Conference, apresentação em 03 de agosto de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 04 de agosto de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Descoberta ligação entre distúrbios hipertensivos na gravidez e demência mais tarde na vida. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1422755/descoberta-ligacao-entre-disturbios-hipertensivos-na-gravidez-e-demencia-mais-tarde-na-vida.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
2 Pré-eclâmpsia: É caracterizada por hipertensão, edema (retenção de líquidos) e proteinúria (presença de proteína na urina). Manifesta-se na segunda metade da gravidez (após a 20a semana de gestação) e pode evoluir para convulsão e coma, mas essas condições melhoram com a saída do feto e da placenta. No meio médico, o termo usado é Moléstia Hipertensiva Específica da Gravidez. É a principal causa de morte materna no Brasil atualmente.
3 Eclâmpsia: Ocorre quando a mulher com pré-eclâmpsia grave apresenta covulsão ou entra em coma. As convulsões ocorrem porque a pressão sobe muito e, em decorrência disso, diminui o fluxo de sangue que vai para o cérebro.
4 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
5 Vascular: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
6 Doença de Alzheimer: É uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecidos que acomete preferencialmente as pessoas idosas. É uma forma de demência. No início há pequenos esquecimentos, vistos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta e acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho. Tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares como alimentação, higiene, vestuário, etc..
7 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
8 Alzheimer: Doença degenerativa crônica que produz uma deterioração insidiosa e progressiva das funções intelectuais superiores. É uma das causas mais freqüentes de demência. Geralmente começa a partir dos 50 anos de idade e tem incidência similar entre homens e mulheres.
9 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
10 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
11 Insuficiência Cardíaca: É uma condição na qual a quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as demandas normais de oxigênio e de nutrientes do organismo. Refere-se à diminuição da capacidade do coração suportar a carga de trabalho.
12 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
13 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
14 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
15 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
16 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
17 Retrospectivo: Relativo a fatos passados, que se volta para o passado.
18 Óbito: Morte de pessoa; passamento, falecimento.
19 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
20 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
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