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Tratamento medicamentoso para hipertensão leve na gravidez trouxe benefícios tanto para as mulheres quanto para seus bebês

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Um novo ensaio clínico ambicioso inspira a repensar uma doença comum da gravidez1, mostrando que a prática padrão de tratar apenas casos graves de pressão alta durante a gravidez1 pode ser equivocada.

Muitas mulheres grávidas desenvolvem hipertensão arterial2 crônica, o que aumenta o risco de uma série de problemas graves de saúde3 – e até a morte – tanto para a mãe quanto para o bebê. Os médicos geralmente tratam as grávidas com pressão arterial4 gravemente elevada, mas a decisão de tratar aquelas com elevação leve tem sido controversa.

Agora, está crescendo o consenso de que os médicos podem ter confiança no tratamento da hipertensão5 leve em grávidas saudáveis sem machucar seus bebês6, com base no estudo CHAP.

Neste grande estudo randomizado7, o tratamento da hipertensão arterial2 para uma meta de <140/90 mmHg resultou em melhores resultados do que os cuidados usuais, como evidenciado pela redução da incidência8 combinada de pré-eclâmpsia9 com características graves, parto prematuro clinicamente indicado com menos de 35 semanas de gestação, descolamento prematuro da placenta e morte fetal ou neonatal (30,2% vs 37,0%), relatou Alan Tita, MD, PhD, da Universidade do Alabama em Birmingham.

Notavelmente, o tratamento da hipertensão5 não pareceu prejudicar bebês6 ou mães. Os grupos de tratamento e controle do estudo não diferiram nos resultados de segurança de nascimentos pequenos para a idade gestacional abaixo do percentil 10, complicações maternas graves ou complicações neonatais graves, disse o pesquisador em uma apresentação no encontro do American College of Cardiology (ACC). Os resultados foram publicados simultaneamente no The New England Journal of Medicine.

O CHAP perseverou no difícil recrutamento para inscrever mais de 2.400 grávidas.

Saiba mais sobre "Hipertensão5 da gravidez1", "Gravidez1 de risco" e "Diferenças entre pré-eclâmpsia9 e eclâmpsia10".

Este estudo está “mudando a prática”, pois “uma das razões pelas quais não temos tantos dados em pacientes grávidas são algumas das preocupações logísticas e éticas que tivemos”, de acordo com a ex-presidente do ACC, Athena Poppas, MD, da Warren Alpert Medical School da Brown University em Providence, Rhode Island, durante o painel de discussão da sessão.

De fato, Tita observou que as principais sociedades de gravidez1 e obstetrícia já estão cientes do CHAP e trabalhando para incorporar os resultados em novas recomendações. “Nas próximas semanas, veremos algum impulso para avançar em direção a essas novas descobertas”, disse ele em uma entrevista coletiva do ACC.

No artigo, os pesquisadores afirmam como os benefícios e a segurança do tratamento da hipertensão5 crônica leve (pressão arterial4, <160/100 mmHg) durante a gravidez1 eram incertos. De modo que se fazem necessários dados sobre se uma estratégia de atingir uma pressão arterial4 inferior a 140/90 mHg reduz a incidência8 de resultados adversos da gravidez1 sem comprometer o crescimento fetal.

Neste estudo aberto, multicêntrico e randomizado11, designou-se gestantes com hipertensão5 crônica leve e fetos únicos com idade gestacional inferior a 23 semanas para receber medicamentos anti-hipertensivos recomendados para uso na gravidez1 (grupo de tratamento ativo) ou não receber tal tratamento, a menos que desenvolvessem hipertensão5 grave (pressão sistólica12, ≥160 mmHg; ou pressão diastólica13, ≥105 mmHg) (grupo controle).

O desfecho primário foi um composto de pré-eclâmpsia9 com características graves, parto prematuro com indicação médica com menos de 35 semanas de gestação, descolamento de placenta ou morte fetal ou neonatal. O desfecho de segurança foi peso ao nascer pequeno para a idade gestacional abaixo do percentil 10 para a idade gestacional. Os desfechos secundários incluíram compostos de complicações neonatais ou maternas graves, pré-eclâmpsia9 e parto prematuro.

Um total de 2.408 mulheres foram inscritas no estudo. A incidência8 de um evento de desfecho primário foi menor no grupo de tratamento ativo do que no grupo controle (30,2% vs. 37,0%), para uma razão de risco ajustada de 0,82 (intervalo de confiança [IC] de 95%, 0,74 a 0,92; P <0,001).

A porcentagem de peso ao nascer pequeno para a idade gestacional abaixo do percentil 10 foi de 11,2% no grupo de tratamento ativo e 10,4% no grupo controle (razão de risco ajustada, 1,04; 0,82 a 1,31; P = 0,76). A incidência8 de complicações maternas graves foi de 2,1% e 2,8%, respectivamente (razão de risco, 0,75; IC 95%, 0,45 a 1,26), e a incidência8 de complicações neonatais graves foi de 2,0% e 2,6% (razão de risco, 0,77; IC 95%, 0,45 a 1,30).

A incidência8 de qualquer pré-eclâmpsia9 nos dois grupos foi de 24,4% e 31,1%, respectivamente (razão de risco, 0,79; IC 95%, 0,69 a 0,89), e a incidência8 de parto prematuro foi de 27,5% e 31,4% (razão de risco, 0,87; 95% CI, 0,77 a 0,99).

O estudo concluiu que, em gestantes com hipertensão5 crônica leve, uma estratégia de atingir uma pressão arterial4 inferior a 140/90 mmHg foi associada a melhores resultados da gravidez1 do que uma estratégia de reservar o tratamento apenas para hipertensão5 grave, sem aumento no risco de peso ao nascer pequeno para idade gestacional.

Leia sobre "Mecanismos de ação dos anti-hipertensivos", "Sintomas14 da hipertensão arterial2" e "Baixo peso ao nascer: causas e consequências".

 

Fontes:
The New England Journal of Medicine, publicação em 02 de abril de 2022.
Nature, notícia publicada em 07 de abril de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 02 de abril de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Tratamento medicamentoso para hipertensão leve na gravidez trouxe benefícios tanto para as mulheres quanto para seus bebês. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1414650/tratamento-medicamentoso-para-hipertensao-leve-na-gravidez-trouxe-beneficios-tanto-para-as-mulheres-quanto-para-seus-bebes.htm>. Acesso em: 20 abr. 2024.

Complementos

1 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
2 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
3 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
4 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
5 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
6 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
7 Estudo randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle - o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
8 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
9 Pré-eclâmpsia: É caracterizada por hipertensão, edema (retenção de líquidos) e proteinúria (presença de proteína na urina). Manifesta-se na segunda metade da gravidez (após a 20a semana de gestação) e pode evoluir para convulsão e coma, mas essas condições melhoram com a saída do feto e da placenta. No meio médico, o termo usado é Moléstia Hipertensiva Específica da Gravidez. É a principal causa de morte materna no Brasil atualmente.
10 Eclâmpsia: Ocorre quando a mulher com pré-eclâmpsia grave apresenta covulsão ou entra em coma. As convulsões ocorrem porque a pressão sobe muito e, em decorrência disso, diminui o fluxo de sangue que vai para o cérebro.
11 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
12 Pressão sistólica: É a pressão mais elevada (pico) verificada nas artérias durante a fase de sístole do ciclo cardíaco. É também chamada de pressão máxima.
13 Pressão Diastólica: É a pressão mais baixa detectada no sistema arterial sistêmico, observada durante a fase de diástole do ciclo cardíaco. É também denominada de pressão mínima.
14 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
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