Antipsicóticos são cada vez mais prescritos para transtorno de personalidade, indo contra diretrizes de saúde no Reino Unido
Os antipsicóticos têm sido prescritos com frequência, cada vez mais e por longos períodos para pessoas com transtorno de personalidade diagnosticado, mas sem histórico de doença mental grave, descobriu um estudo analisando dados da atenção primária à saúde1 do Reino Unido.
Pesquisadores da University College London analisaram 46.210 pessoas que tiveram transtorno de personalidade registrado em seu prontuário médico entre janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2016. Destes, 15.562 (34%) receberam prescrição de antipsicóticos.
O estudo, publicado no BMJ Open, também descobriu que 36.875 pessoas com histórico de transtorno de personalidade não tinham histórico de doença mental grave. Apesar disso, um quarto recebeu prescrição de antipsicóticos.
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O objetivo do estudo foi investigar a extensão da prescrição de antipsicóticos para pessoas com transtorno de personalidade (TP) diagnosticado na atenção primária do Reino Unido e os fatores associados a essa prescrição.
O estudo de coorte2 retrospectivo3 foi realizado em consultórios de clínica geral que contribuem para o banco de dados de cuidados primários da The Health Improvement Network em todo o Reino Unido.
46.210 pessoas possuíam registro em consultórios participantes e tinham um diagnóstico4 de TP em seus prontuários médicos. 1.358 (2,9%) pessoas com informações de privação ausentes foram excluídas das análises de regressão; nenhum outro dado estava ausente.
Os principais desfechos do estudo foram prescrições de antipsicóticos nos registros de clínica geral e duração de tempo do recebimento de prescrições de antipsicóticos.
Das 46.210 pessoas com TP diagnosticado, 15.562 (34%) receberam prescrição de antipsicóticos. Entre o subgrupo de 36.875 pessoas com TP diagnosticado, mas sem doença mental grave, 9.208 (25%) receberam prescrição de antipsicóticos; a prescrição foi menor em áreas menos carentes (razão de taxa ajustada (aRR) comparando o quintil5 menos ao mais carente: 0,56, IC 95% 0,48 a 0,66, p <0,001), foi maior no sexo feminino (aRR:1,25, IC 95% 1,16 a 1,34, p<0,001) e maior em pessoas com história de experiências adversas na infância (aRR:1,44, IC 95% 1,28 a 1,56, p<0,001).
O tempo médio de prescrição de antipsicóticos foi de 605 dias (IQR 197-1.639 dias). A frequência de prescrição aumentou ao longo do tempo.
O estudo concluiu que, ao contrário do que recomendam as diretrizes atuais do Reino Unido, os antipsicóticos são frequentemente e cada vez mais prescritos por longos períodos para pessoas com transtorno de personalidade diagnosticado, mas sem histórico de doença mental grave.
É necessária uma revisão urgente da prática clínica, incluindo a eficácia de tal prescrição e a necessidade de monitorar os efeitos adversos, incluindo complicações metabólicas.
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Fonte: BMJ Open, publicação em 09 de março de 2022.