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Exposição ocupacional ao formaldeído foi relacionada ao comprometimento cognitivo

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A exposição ocupacional ao formaldeído foi associada a déficits cognitivos1 em idades relativamente jovens em um estudo de coorte2 francês. Os profissionais de saúde3 representam a maioria dos expostos.

Adultos com 45 anos ou mais tinham um risco maior de comprometimento cognitivo4 global se tivessem sido expostos ao formaldeído no trabalho, relatou Noemie Letellier, PhD, da Universidade de Montpellier, na França, e co-autores.

Esse maior risco de comprometimento abrangeu todos os domínios cognitivos1. Tanto a alta duração da exposição quanto a alta dose ao longo da vida foram associadas a uma pior cognição5, com a duração mostrando uma relação dose-efeito, escreveram os pesquisadores em estudo publicado na revista científica Neurology.

“Apesar das restrições ao uso de formaldeído devido ao melhor conhecimento de sua toxicidade6, especialmente seu efeito cancerígeno, o formaldeído ainda é amplamente utilizado em muitos setores”, disse Letellier ao MedPage Today.

“O efeito do formaldeído no cérebro7 foi demonstrado anteriormente principalmente em experimentos com animais, mas muito poucos estudos foram feitos em humanos”, acrescentou.

O formaldeído é classificado como cancerígeno para humanos pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer8. A exposição ocupacional tem sido associada à leucemia9 em alguns estudos.

Leia sobre "Distúrbio neurocognitivo" e "Substâncias cancerígenas - a importância de conhecê-las".

No artigo, os pesquisadores relatam como, até onde se sabe, nenhum estudo investigou o efeito da exposição ao formaldeído na cognição5 da população em geral. O objetivo, portanto, foi examinar a associação entre exposição ocupacional ao formaldeído e comprometimento cognitivo4 em adultos de meia-idade e mais velhos (≥45 anos).

Na coorte10 francesa CONSTANCES, a função cognitiva11 foi avaliada com uma bateria padronizada de sete testes cognitivos1 para avaliar a função cognitiva11 global, memória verbal episódica, habilidades de linguagem e funções executivas (por exemplo, Teste de Substituição de Símbolos por Dígitos, TSSD).

Uma pontuação cognitiva11 global foi criada usando a análise de componentes principais. O comprometimento cognitivo4 foi avaliado com referência às normas da bateria neuropsicológica de acordo com idade, sexo e escolaridade. A exposição ao longo da vida ao formaldeído foi avaliada usando uma matriz francesa de exposição de trabalho criada no âmbito do projeto Matgéné.

Após realizar a imputação múltipla, modelos de regressão de Poisson modificados separados foram usados ​​para avaliar a associação entre comprometimento cognitivo4 (<25º percentil) e exposição ao formaldeído (exposto/nunca exposto), duração da exposição, índice de exposição cumulativa (IEC) e combinação de IEC e tempo da última exposição.

Entre 75.322 participantes (idade mediana: 57,5 ​​anos, mulheres: 53%), 8% foram expostos ao formaldeído durante sua vida profissional. Esses participantes estavam em maior risco de comprometimento cognitivo4 global (para pontuação cognitiva11 global: risco relativo ajustado, aRR, 1,17, intervalo de confiança [IC] de 95%: 1,11-1,23), após ajuste para fatores de confusão (idade, sexo, educação, renda, exposição a solvente, Desequilíbrio Esforço-Recompensa, trabalho noturno, repetitivo e barulhento). Eles estavam em maior risco de comprometimento cognitivo4 para todos os domínios cognitivos1 explorados.

Maior duração da exposição e alto IEC foram associados ao comprometimento cognitivo4, com relação dose-efeito para duração da exposição. A exposição recente foi associada ao comprometimento em todos os domínios cognitivos1. O tempo não atenuou totalmente os déficits cognitivos1 associados ao formaldeído, especialmente em indivíduos altamente expostos (para TSSD - alta exposição passada: aRR 1,23, IC 95%: 1,11-1,36; alta exposição recente: aRR 1,24, IC 95%: 1,13-1,35).

Trabalhadores expostos ao formaldeído por 22 anos ou mais tiveram um risco 21% maior de comprometimento cognitivo4 global do que aqueles nunca expostos (aRR 1,21, IC 95% 1,11-1,32). Trabalhadores com a maior exposição cumulativa ao formaldeído tiveram um risco 19% maior de comprometimento cognitivo4 em comparação com aqueles não expostos (aRR 1,19, IC 95% 1,09-1,28).

“Participantes que foram expostos no passado (ou seja, exposição antes de 2001) tiveram um risco menor de comprometimento cognitivo4 em comparação com aqueles recentemente expostos (ou seja, exposição após 2002), sugerindo uma potencial reversibilidade do efeito da exposição ao formaldeído no desempenho cognitivo12, como mostrado em um trabalho anterior sobre exposição ocupacional a solventes na coorte10 CONSTANCES”, notaram Letellier e co-autores.

“No entanto, nossas descobertas também sugerem que os déficits cognitivos1 associados ao formaldeído persistem após a exposição ocupacional, mesmo para exposição moderada ao longo da vida”, escreveram eles.

Esses resultados destacam o efeito prejudicial a longo prazo da exposição ao formaldeído na saúde3 cognitiva11 em uma população relativamente jovem.

Veja também sobre "Quando a perda de memória não é normal" e "Demência13".

 

Fontes:
Neurology, publicação em 22 de dezembro de 2021.
MedPage Today, notícia publicada em 22 de dezembro de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Exposição ocupacional ao formaldeído foi relacionada ao comprometimento cognitivo. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1408245/exposicao-ocupacional-ao-formaldeido-foi-relacionada-ao-comprometimento-cognitivo.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
2 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
3 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
4 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
5 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
6 Toxicidade: Capacidade de uma substância produzir efeitos prejudiciais ao organismo vivo.
7 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
8 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
9 Leucemia: Doença maligna caracterizada pela proliferação anormal de elementos celulares que originam os glóbulos brancos (leucócitos). Como resultado, produz-se a substituição do tecido normal por células cancerosas, com conseqüente diminuição da capacidade imunológica, anemia, distúrbios da função plaquetária, etc.
10 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
11 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
12 Desempenho cognitivo: Desempenho dos processos de aprendizagem e de aquisição de conhecimento através da percepção.
13 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
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