Intervenções psicossociais e psicológicas oferecem benefícios robustos na redução do risco de recaída na esquizofrenia
Muitas intervenções psicossociais e psicológicas são usadas em pacientes com esquizofrenia1, mas sua eficácia comparativa na prevenção de recaídas não é conhecida. O objetivo deste estudo, publicado pelo The Lancet Psychiatry, foi avaliar a eficácia, aceitabilidade e tolerabilidade das intervenções psicossociais e psicológicas para a prevenção de recaídas na esquizofrenia1.
Para conduzir esta revisão sistemática e metanálise de rede, procurou-se ensaios clínicos2 randomizados publicados e não publicados que investigaram intervenções psicossociais ou psicológicas destinadas a prevenir a recaída em pacientes com esquizofrenia1.
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Foram pesquisadas as bases de dados EMBASE, MEDLINE, PsycINFO, BIOSIS, Cochrane Library, WHO International Clinical Trials Registry Platform e ClinicalTrials.gov até 20 de janeiro de 2020 e pesquisou-se a PubMed até 14 de abril de 2020.
Foram incluídos estudos abertos e mascarados feitos em adultos com esquizofrenia1 ou distúrbios relacionados. Foram excluídos estudos em que todos os pacientes estavam gravemente enfermos, tinham um distúrbio médico ou psiquiátrico concomitante, ou eram prodrômicos3 ou “em risco de psicose4”.
A seleção do estudo e a extração de dados foram feitas por dois revisores de forma independente, com base em relatórios publicados e não publicados, e por meio do contato com os autores do estudo. Foram extraídos dados sobre eficácia, tolerabilidade e aceitabilidade das intervenções; moderadores de efeitos potenciais; e qualidade e características do estudo.
O desfecho primário foi a recaída medida com critérios operacionalizados ou internações psiquiátricas em hospitais. Foi feita metanálise de rede de efeitos aleatórios para calcular odds ratios (ORs) ou diferenças médias padronizadas (DMPs) com IC de 95%.
Identificou-se 27.765 estudos por meio da busca em banco de dados e 330 por meio de referências de revisões e estudos anteriores. Foram examinados 28.000 registros depois que as duplicatas foram removidas. 24.406 registros foram excluídos por triagem de título e de resumo e 3.594 artigos de texto completo foram avaliados para elegibilidade.
Em seguida, 3.350 artigos foram excluídos por diversos motivos, e 244 artigos de texto completo, correspondendo a 85 estudos, foram incluídos na síntese qualitativa. Destes, 72 estudos com 10.364 participantes (3.939 mulheres e 5.716 homens com sexo indicado) foram incluídos na metanálise da rede.
Os ensaios clínicos2 randomizados incluídos compararam 20 intervenções psicológicas administradas principalmente como complemento de antipsicóticos. Dados de etnia não estavam disponíveis.
Intervenções familiares (OR 0,35, IC 95% 0,24–0,52), programas de prevenção de recaídas (OR 0,33, 0,14–0,79), terapia cognitivo5-comportamental (OR 0,45, 0,27–0,75), psicoeducação familiar (OR 0,56, 0,39–0,82), intervenções integradas (OR 0,62, 0,44–0,87) e psicoeducação do paciente (OR 0,63, 0,42–0,94) reduziram a recaída mais do que o tratamento usual em 1 ano.
A confiança nas estimativas variou de moderada a muito baixa. Não foi encontrada nenhuma indicação de viés de publicação.
Neste estudo, portanto, foram encontrados benefícios robustos na redução do risco de recaída para intervenções familiares, psicoeducação familiar e terapia cognitivo5-comportamental. Esses tratamentos devem ser as primeiras intervenções psicossociais a serem consideradas no tratamento de longo prazo para pacientes6 com esquizofrenia1.
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Fonte: The Lancet Psychiatry, Vol. 8, Nº 11, em 01 de novembro de 2021.