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A droga psicodélica psilocibina se mostrou tão boa na redução dos sintomas de depressão quanto o tratamento convencional em um pequeno estudo

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A psilocibina pode ter propriedades antidepressivas, mas faltam comparações diretas entre essa substância e os tratamentos estabelecidos para a depressão.

Agora, em um pequeno estudo em estágio inicial, publicado no The New England Journal of Medicine, a droga psicodélica psilocibina, encontrada em cogumelos alucinógenos, se mostrou tão boa na redução dos sintomas1 de depressão quanto o tratamento convencional. E, quando se trata de melhorar ativamente o bem-estar e a capacidade das pessoas de sentir prazer, a psilocibina pode ter tido um efeito mais poderoso.

Os psicodélicos estão sendo estudados para uma série de condições de saúde2 mental. Mas os especialistas alertam que este é um pequeno ensaio, sendo necessárias mais pesquisas.

Nas últimas três décadas, desde que o Prozac chegou ao mercado, novos medicamentos para depressão e ansiedade geralmente são variações do mesmo tema. No entanto, para um número considerável de pessoas, eles causam efeitos colaterais3 indesejáveis, param de funcionar com o tempo ou não funcionam em primeiro lugar.

Os líderes do estudo da psilocibina disseram que havia apetite por “novos” tratamentos que adotassem uma abordagem diferente.

Saiba mais sobre "Depressão maior", "Saúde2 mental - como reconhecer se algo anda errado" e "Alucinógenos".

No ensaio clínico duplo-cego, randomizado4 e controlado de fase 2, envolvendo pacientes com transtorno depressivo maior de longa duração moderado a grave, comparou-se a psilocibina com o escitalopram, um inibidor seletivo da recaptação da serotonina, por um período de 6 semanas.

Os pacientes foram designados em uma proporção de 1:1 para receber duas doses separadas de 25 mg de psilocibina com 3 semanas de intervalo mais 6 semanas de placebo5 diário (grupo de psilocibina) ou duas doses separadas de 1 mg de psilocibina com 3 semanas de intervalo mais 6 semanas de escitalopram oral diário (grupo escitalopram); todos os pacientes receberam apoio psicológico.

O desfecho primário foi a mudança da linha de base na pontuação no Inventário Rápido de Sintomatologia Depressiva – Autorrelato de 16 itens (QIDS-SR-16; as pontuações variam de 0 a 27, com pontuações mais altas indicando maior depressão) na semana 6. Houve 16 desfechos secundários, incluindo resposta do QIDS-SR-16 (definida como uma redução na pontuação >50%) e remissão do QIDS-SR-16 (definida como uma pontuação ≤5) na semana 6.

Um total de 59 pacientes foram inscritos; 30 foram atribuídos ao grupo da psilocibina e 29 ao grupo do escitalopram.

As pontuações médias no QIDS-SR-16 no início do estudo foram 14,5 no grupo da psilocibina e 16,4 no grupo do escitalopram. As alterações médias (± EP [erro padrão]) nas pontuações desde o início até a semana 6 foram −8,0 ± 1,0 pontos no grupo da psilocibina e −6,0 ± 1,0 no grupo do escitalopram, para uma diferença entre os grupos de 2,0 pontos (intervalo de confiança [IC] de 95%, −5,0 a 0,9) (P = 0,17).

Uma resposta do QIDS-SR-16 ocorreu em 70% dos pacientes no grupo da psilocibina e em 48% daqueles no grupo do escitalopram, para uma diferença entre os grupos de 22 pontos percentuais (IC 95%, −3 a 48); remissão do QIDS-SR-16 ocorreu em 57% e 28%, respectivamente, para uma diferença entre os grupos de 28 pontos percentuais (IC 95%, 2 a 54).

Outros desfechos secundários geralmente favorecem a psilocibina em relação ao escitalopram, mas as análises não foram corrigidas para comparações múltiplas. A incidência6 de eventos adversos foi semelhante nos grupos de ensaio.

Com base na mudança nos escores de depressão no QIDS-SR-16 na semana 6, este estudo não mostrou uma diferença significativa nos efeitos antidepressivos entre a psilocibina e o escitalopram em um grupo selecionado de pacientes.

Os desfechos secundários geralmente favorecem a psilocibina em relação ao escitalopram, mas as análises desses desfechos carecem de correção para comparações múltiplas. Ensaios maiores e mais longos são necessários para comparar a psilocibina com os antidepressivos estabelecidos.

Leia sobre "O que saber sobre antidepressivos", "Uso excessivo de antidepressivos" e "Depressões".

 

Fontes:
The New England Journal of Medicine, publicação em 15 de abril de 2021.
BBC News, notícia publicada em 15 de abril de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. A droga psicodélica psilocibina se mostrou tão boa na redução dos sintomas de depressão quanto o tratamento convencional em um pequeno estudo. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1392815/a-droga-psicodelica-psilocibina-se-mostrou-tao-boa-na-reducao-dos-sintomas-de-depressao-quanto-o-tratamento-convencional-em-um-pequeno-estudo.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
2 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
3 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
4 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
5 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
6 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
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