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A fumaça de cigarro induz um mecanismo que aumenta a osteoclastogênese na artrite inflamatória, exacerbando a doença inflamatória local

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A artrite reumatoide1 (AR) é uma doença inflamatória crônica caracterizada por destruição articular e morbidade2 grave. O tabagismo pode exacerbar a incidência3 e a gravidade da AR. Embora as células4 Th17 e o receptor de hidrocarboneto de arila (AhR) tenham sido implicados, o mecanismo pelo qual o tabagismo induz o desenvolvimento de AR permanece obscuro.

Em um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), pesquisadores do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) da Universidade de São Paulo revelam um mecanismo pelo qual a fumaça de cigarro pode exacerbar a doença inflamatória local. Isso significa a descoberta de uma nova via no processo inflamatório da artrite reumatoide1 associada ao dano ósseo, o que poderia abrir caminho para novas intervenções terapêuticas.

Saiba mais sobre "Artrite reumatoide1", "Tabagismo" e "Artrite5: por que acontece".

Os pesquisadores identificaram a ação de um mecanismo molecular envolvido no processo inflamatório: a liberação, por parte dos linfócitos T, de vesículas6 extracelulares carregadas de material genético (microRNAs). As vesículas6 atingem células4 do tecido ósseo7, aumentando a formação de novos osteoclastos8células4 responsáveis pela degradação da matriz óssea9 nas articulações10.

“O estudo buscou aprofundar o entendimento sobre a exacerbação de todo o processo inflamatório da artrite reumatoide1 provocada pela fumaça do cigarro. Com isso descobrimos uma via associada à lesão11 óssea. Trata-se de um achado importante, pois a dor e a inflamação12 dos pacientes têm sido tratadas com medicamentos. No entanto, a lesão11 óssea, que é também um complicador debilitante dessa doença, é praticamente irreversível”, Fernando de Queiroz Cunha, coordenador do CRID.

O tabagismo é um poluente ambiental importante que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e continua a ser de considerável interesse para as comunidades biomédicas. Na pesquisa, usando análise transcriptômica, mostrou-se que microRNA-132 (miRNA-132) é especificamente induzido em células4 Th17 na presença de um agonista13 AhR ou meio enriquecido com tabagismo. Assim, o tabagismo ativa o AhR nas células4 Th17, levando à regulação positiva do miRNA-132, que é então empacotado em vesículas6 extracelulares e atua como um mediador pró-inflamatório, induzindo a osteoclastogênese por meio da supressão de Cox2 que catalisa as prostaglandinas14.

In vivo, a derrubada de miRNA-132 articular em modelos murinos de artrite5 reduz o número de osteoclastos8 nas articulações10.

Clinicamente, os pacientes com AR expressam níveis mais elevados de miRNA-132 do que indivíduos saudáveis, e os pacientes com artrite reumatoide1 que fumam expressam um nível ainda mais alto de miRNA-132 em comparação com os pacientes com AR não fumantes.

Juntos, esses resultados revelam um mecanismo até então não reconhecido pelo qual o tabagismo poderia exacerbar a artrite reumatoide1 e aumentam a compreensão do impacto dos fatores ambientais na patogênese15 das doenças inflamatórias crônicas, podendo também fornecer um alvo potencial para intervenção terapêutica16 para doenças inflamatórias em geral e AR em particular.

Leia sobre "Osteólise", "Reumatismos inflamatórios sistêmicos17" e "Dor nas juntas".

 

Fontes:
Proceedings of the National Academy of Sciences, publicação em 05 de janeiro de 2021.
Agência FAPESP, notícia publicada em 05 de janeiro de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. A fumaça de cigarro induz um mecanismo que aumenta a osteoclastogênese na artrite inflamatória, exacerbando a doença inflamatória local. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1385905/a-fumaca-de-cigarro-induz-um-mecanismo-que-aumenta-a-osteoclastogenese-na-artrite-inflamatoria-exacerbando-a-doenca-inflamatoria-local.htm>. Acesso em: 18 mar. 2024.

Complementos

1 Artrite reumatóide: Doença auto-imune de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite periférica, simétrica, que leva à deformidade e à destruição das articulações por erosão do osso e cartilagem. Afeta mulheres duas vezes mais do que os homens e sua incidência aumenta com a idade. Em geral, acomete grandes e pequenas articulações em associação com manifestações sistêmicas como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. Quando envolve outros órgãos, a morbidade e a gravidade da doença são maiores, podendo diminuir a expectativa de vida em cinco a dez anos.
2 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
3 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
4 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
5 Artrite: Inflamação de uma articulação, caracterizada por dor, aumento da temperatura, dificuldade de movimentação, inchaço e vermelhidão da área afetada.
6 Vesículas: Lesões papulares preenchidas com líquido claro.
7 Tecido Ósseo: TECIDO CONJUNTIVO especializado, principal constituinte do ESQUELETO. O componente celular básico (principle) do osso é constituído por OSTEOBLASTOS, OSTEÓCITOS e OSTEOCLASTOS, enquanto COLÁGENOS FIBRILARES e cristais de hidroxiapatita formam a MATRIZ ÓSSEA.
8 Osteoclastos: Célula que garante a destruição do tecido ósseo.
9 Matriz Óssea:
10 Articulações:
11 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
12 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
13 Agonista: 1. Em farmacologia, agonista refere-se às ações ou aos estímulos provocados por uma resposta, referente ao aumento (ativação) ou diminuição (inibição) da atividade celular. Sendo uma droga receptiva. 2. Lutador. Na Grécia antiga, pessoa que se dedicava à ginástica para fortalecer o físico ou como preparação para o serviço militar.
14 Prostaglandinas: É qualquer uma das várias moléculas estruturalmente relacionadas, lipossolúveis, derivadas do ácido araquidônico. Ela tem função reguladora de diversas vias metabólicas.
15 Patogênese: Modo de origem ou de evolução de qualquer processo mórbido; nosogenia, patogênese, patogenesia.
16 Terapêutica: Terapia, tratamento de doentes.
17 Sistêmicos: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
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