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Estudo de mais de 60 mil casos de COVID-19 encontrou associações bidirecionais entre COVID-19 e transtorno psiquiátrico

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As consequências adversas da COVID-19 para a saúde1 mental, incluindo ansiedade e depressão, foram amplamente previstas, mas ainda não foram medidas com precisão. Existem vários fatores de risco para a saúde1 física da COVID-19, mas não se sabe se também existem fatores de risco psiquiátricos.

Publicado pelo The Lancet Psychiatry, estudo de coorte2 de rede de registros eletrônicos de saúde1 usando dados de 69 milhões de indivíduos, 62.354 dos quais tinham um diagnóstico3 de COVID-19, avaliou-se um diagnóstico3 de COVID-19 (em comparação com outros eventos de saúde1) estava associado a taxas aumentadas de diagnósticos psiquiátricos, e se os pacientes com história de doença psiquiátrica correm maior risco de serem diagnosticados com COVID-19.

Leia sobre "SARS-CoV-2 prejudica a viabilidade neuronal", "Transtorno de ansiedade generalizada" e "Depressão maior".

Foi utilizada a TriNetX Analytics Network, uma rede federada global que captura dados anônimos de registros eletrônicos de saúde1 em 54 organizações de saúde1 nos EUA, totalizando 69,8 milhões de pacientes. O TriNetX incluiu 62.354 pacientes com diagnóstico3 de COVID-19 entre 20 de janeiro e 1º de agosto de 2020.

Foram criadas coortes de pacientes que foram diagnosticados com COVID-19 ou uma série de outros eventos de saúde1. Usou-se a correspondência do escore de propensão para controlar a confusão por fatores de risco para COVID-19 e para a gravidade da doença. Mediu-se a incidência4 e as razões de risco (HRs) para transtornos psiquiátricos, demência5 e insônia, durante os primeiros 14 a 90 dias após o diagnóstico3 de COVID-19.

Em pacientes sem história psiquiátrica anterior, um diagnóstico3 de COVID-19 foi associado ao aumento da incidência4 de um primeiro diagnóstico3 psiquiátrico nos 14 a 90 dias seguintes em comparação com seis outros eventos de saúde1:

  • HR 2,1; IC 95% 1,8–2,5 vs influenza6;
  • HR 1,7; 1,5–1,9 vs outras infecções7 do trato respiratório;
  • HR 1,6; 1,4–1,9 vs infecção8 da pele9;
  • HR 1,6; 1,3–1,9 vs colelitíase10;
  • HR 2,2; 1,9–2,6 vs urolitíase, e
  • HR 2,1; 1,9–2,5 vs fratura11 de um grande osso; todos p <0,0001.

A HR foi maior para transtornos de ansiedade, insônia e demência5. Observou-se achados semelhantes, embora com HRs menores, quando foram medidos recaídas e novos diagnósticos.

A incidência4 de qualquer diagnóstico3 psiquiátrico nos 14 a 90 dias após o diagnóstico3 de COVID-19 foi de 18,1% (IC de 95% 17,6-18,6), incluindo 5,8% (5,2-6,4) que foram um primeiro diagnóstico3.

A incidência4 de um primeiro diagnóstico3 de demência5 nos 14 a 90 dias após o diagnóstico3 de COVID-19 foi de 1,6% (IC de 95% 1,2–2,1) em pessoas com mais de 65 anos.

Um diagnóstico3 psiquiátrico no ano anterior foi associado a uma maior incidência4 de diagnóstico3 de COVID-19 (risco relativo 1,65, IC 95% 1,59–1,71; p <0,0001). Este risco foi independente dos fatores de risco para a saúde1 física conhecidos para COVID-19, mas não se pode excluir uma possível confusão residual por fatores socioeconômicos.

Pode-se interpretar do estudo que sobreviventes de COVID-19 parecem estar em risco aumentado de sequelas12 psiquiátricas, e um diagnóstico3 psiquiátrico pode ser um fator de risco13 independente para COVID-19. Embora preliminares, os resultados têm implicações para os serviços clínicos, e estudos de coorte14 prospectivos são necessários.

Veja também sobre "Manifestações neurológicas da COVID-19", "Demência5" e "Saúde1 mental".

 

Fonte: The Lancet Psychiatry, publicação em 09 de novembro de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. Estudo de mais de 60 mil casos de COVID-19 encontrou associações bidirecionais entre COVID-19 e transtorno psiquiátrico. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1383428/estudo-de-mais-de-60-mil-casos-de-covid-19-encontrou-associacoes-bidirecionais-entre-covid-19-e-transtorno-psiquiatrico.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
2 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
3 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
4 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
5 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
6 Influenza: Doença infecciosa, aguda, de origem viral que acomete o trato respiratório, ocorrendo em epidemias ou pandemias e frequentemente se complicando pela associação com outras infecções bacterianas.
7 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
8 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
9 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
10 Colelitíase: Formação de cálculos no interior da vesícula biliar.
11 Fratura: Solução de continuidade de um osso. Em geral é produzida por um traumatismo, mesmo que possa ser produzida na ausência do mesmo (fratura patológica). Produz como sintomas dor, mobilidade anormal e ruídos (crepitação) na região afetada.
12 Sequelas: 1. Na medicina, é a anomalia consequente a uma moléstia, da qual deriva direta ou indiretamente. 2. Ato ou efeito de seguir. 3. Grupo de pessoas que seguem o interesse de alguém; bando. 4. Efeito de uma causa; consequência, resultado. 5. Ato ou efeito de dar seguimento a algo que foi iniciado; sequência, continuação. 6. Sequência ou cadeia de fatos, coisas, objetos; série, sucessão. 7. Possibilidade de acompanhar a coisa onerada nas mãos de qualquer detentor e exercer sobre ela as prerrogativas de seu direito.
13 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
14 Estudos de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
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