Anticorpos em bebês nascidos de mães com pneumonia por COVID-19
Os testes de anticorpos1 IgG e IgM para o coronavírus da síndrome2 respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) foram disponibilizados em fevereiro de 2020. Em 4 de março de 2020, a sétima edição do Novo Protocolo de Controle e Prevenção de Pneumonia3 por Coronavírus da nova doença de coronavírus 2019 (COVID-19) foi divulgado pela Comissão Nacional de Saúde4 da República Popular da China e acrescentou critérios de diagnóstico5 sorológico.
Um estudo anterior de nove grávidas e seus bebês6 não encontrou transmissão materno-infantil de SARS-CoV-2 com base em reação em cadeia da transcriptase-polimerase (RT-PCR7). Nessa pesquisa publicada pelo JAMA aplicou-se esses novos critérios a seis gestantes com COVID-19 confirmada e seus bebês6, porque os critérios sorológicos permitiriam uma investigação mais detalhada da infecção8 em recém-nascidos.
Os registros clínicos e os resultados laboratoriais foram revisados retrospectivamente para 6 grávidas com COVID-19 internadas no Hospital Zhongnan da Universidade de Wuhan, de 16 de fevereiro a 6 de março de 2020, confirmadas com base em sintomas9, tomografia computadorizada10 de tórax11 e resultados positivos de RT-PCR7.
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Amostras de sangue13 foram coletadas das mães no momento do parto e amostras de sangue13 e garganta14 de recém-nascidos foram coletadas no nascimento. Realizou-se RT-PCR7 quantitativa para ácido nucleico SARS-CoV-2 (Kit RT-PCR7, BioGerm) em amostras de soro15 e garganta14 neonatais. As citocinas16 inflamatórias (Kit II CBA humano de citocina17 Th1/Th2, BD Biosciences) foram testadas em soro15 neonatal. Amostras de soro15 materno e neonatal foram usadas para testar anticorpos1 IgG e IgM.
Todos os testes foram realizados por 2 pesquisadores (Y.T. e Q.D.), com amostras de IgG e IgM para SARS-CoV-2 dos bebês6 verificados duas vezes (Kit de ensaios CLIA, YHLO). A coleta, processamento e teste laboratorial das amostras seguiram as orientações da Organização Mundial da Saúde4. A sensibilidade e especificidade relatadas pelo fabricante para IgM são 88,2% e 99,0%, respectivamente, e para IgG são 97,8% e 97,9% .
Este estudo foi aprovado pelo conselho de revisão institucional do Hospital Zhongnan da Universidade de Wuhan, que dispensou o consentimento informado, porque os dados deste estudo retrospectivo18 foram recuperados dos prontuários médicos.
Todas as 6 mães apresentaram manifestações clínicas leves. Todas tiveram parto cesáreo no terceiro trimestre em salas de isolamento de pressão negativa. Todas as mães usavam máscaras e toda a equipe médica usava roupas de proteção e máscaras duplas. Os bebês6 foram isolados de suas mães imediatamente após o parto.
Todos os 6 bebês6 tiveram escores de Apgar de 1 minuto de 8 de 9 e escores de Apgar de 5 minutos de 9 a 10. Amostras de sangue13 e da garganta14 neonatais apresentaram resultados negativos nos testes de RT-PCR7.
Todos os 6 bebês6 tiveram anticorpos1 detectados no soro15. Dois bebês6 apresentaram concentrações de IgG e IgM superiores ao nível normal (<10 AU/mL). Um bebê teve um nível de IgG de 125,5 e um nível de IgM de 39,6 AU/mL; o segundo bebê apresentou nível de IgG de 113,91 AU/mL e nível de IgM de 16,25 AU/mL.
As mães também apresentaram níveis elevados de IgG e IgM. Três bebês6 tiveram níveis elevados de IgG (75,49; 73,19; 51,38 AU/mL), mas níveis normais de IgM; todas as três mães apresentaram níveis elevados de IgG e duas também apresentaram níveis elevados de IgM.
A citocina17 inflamatória IL-6 estava significativamente aumentada em todos os bebês6. Nenhum dos bebês6 apresentou sintomas9 em 8 de março de 2020.
Entre 6 mães com COVID-19 confirmada, o SARS-CoV-2 não foi detectado na coleta de amostra da garganta14 ou no soro15 por RT-PCR7 em nenhum de seus recém-nascidos. No entanto, anticorpos1 específicos para o vírus19 foram detectados em amostras de soro15 neonatal.
As concentrações de IgG foram elevadas em 5 crianças. A IgG é transferida passivamente através da placenta da mãe para o feto20 a partir do final do segundo trimestre e atinge altos níveis no momento do nascimento. No entanto, a IgM, que foi detectada em 2 bebês6, geralmente não é transferida da mãe para o feto20 por causa de sua estrutura macromolecular maior.
Em um estudo de mães com SARS, as placentas de duas mulheres convalescentes da infecção8 por SARS-CoV no terceiro trimestre de gravidez12 apresentaram pesos e patologia21 anormais. Não se sabe se as placentas das mulheres neste estudo foram danificadas ou anormais. Como alternativa, a IgM poderia ter sido produzida pelo bebê se o vírus19 atravessasse a placenta.
Este estudo é limitado pelo pequeno tamanho da amostra, falta de sangue do cordão umbilical22, líquido amniótico23 e leite materno e por informações incompletas sobre o resultado dos bebês6. Esses achados são importantes para a compreensão das características sorológicas de bebês6 cujas mães estão infectadas com SARS-CoV-2 e é necessário um estudo mais aprofundado.
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Fonte: JAMA, publicação em 26 de março de 2020.