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BMJ: diabetes materno durante a gravidez e início precoce de doença cardiovascular na prole

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Avaliar as associações entre diabetes1 materno diagnosticado antes ou durante a gravidez2 e doença cardiovascular (DCV) de início precoce na prole durante as primeiras quatro décadas de vida foi o objetivo deste estudo publicado pelo British Medical Journal.

O estudo de coorte3 de base populacional, com dados de registros nacionais de saúde4 da Dinamarca, teve como participantes todas as 2.432.000 crianças nascidas vivas sem cardiopatia congênita5 na Dinamarca durante o período 1977-2016. O acompanhamento começou ao nascimento e continuou até o primeiro diagnóstico6 de DCV, morte, emigração ou até o dia 31 de dezembro de 2016, o que ocorresse primeiro.

Diabetes1 pré-gestacional, incluindo diabetes1 tipo 1 (n=22.055) e diabetes tipo 27 (n=6.537) e diabetes gestacional8 (n=26.272) eram as exposições dos estudos observacionais.

O desfecho primário foi DCV de início precoce (excluindo cardiopatias congênitas9) definido pelo diagnóstico6 hospitalar. Foram estudadas associações entre diabetes1 materno e riscos de DCV de início precoce na prole. A regressão de Cox foi usada para avaliar se uma história materna de DCV ou complicações diabéticas maternas afetaram essas associações. Ajustes foram feitos para o ano civil, sexo, status único, fatores maternos (paridade, idade, tabagismo, educação, coabitação, residência no parto, histórico de DCV antes do parto) e histórico paterno de DCV antes do parto. A incidência10 cumulativa foi calculada em todos os indivíduos e os fatores foram ajustados ao tratar mortes por outras causas além das DCV como eventos concorrentes.

Durante até 40 anos de seguimento, 1.153 filhos de mães com diabetes1 e 91.311 filhos de mães que não tinham diabetes1 foram diagnosticados com DCV. Os filhos de mães com diabetes1 tiveram uma taxa geral de DCV de início precoce aumentada em 29% (taxa de risco 1,29 [intervalo de confiança de 95% 1,21 a 1,37]; incidência10 cumulativa entre os filhos não expostos ao diabetes1 materno aos 40 anos de idade 13,07% [12,92% a 13,21 %], diferença na incidência10 cumulativa entre filhos expostos e não expostos 4,72% [2,37% a 7,06%]).

O projeto de irmãos produziu resultados semelhantes aos do projeto não pareado, com base em toda a coorte11. Tanto o diabetes1 pré-gestacional (1,34 [1,25 a 1,43]) quanto o diabetes gestacional8 (1,19 [1,07 a 1,32]) foram associados ao aumento das taxas de DCV na prole.

Também foram observadas variadas taxas aumentadas de DCVs específicas de início precoce, particularmente insuficiência cardíaca12 (1,45 [0,89 a 2,35]), doença hipertensiva (1,78 [1,50 a 2,11]), trombose venosa profunda13 (1,82 [1,38 a 2,41]) e embolia14 pulmonar (1,91 [1,31 a 2,80]).

Taxas aumentadas de DCV foram observadas em diferentes faixas etárias, desde a infância à idade adulta até os 40 anos. As taxas aumentadas foram mais pronunciadas entre os filhos de mães com complicações diabéticas (1,60 [1,25 a 2,05]).

Uma maior incidência10 de DCV de início precoce em filhos de mães com diabetes1 e DCV comórbida (1,73 [1,36 a 2,20]) foi associada à influência adicional de DCV comórbida, mas não devido à interação entre diabetes1 e DCV na escala multiplicativa (valor de P para interação 0,94).

Concluiu-se neste trabalho que os filhos de mães com diabetes1, especialmente aquelas com histórico de DCV ou complicações diabéticas, têm taxas aumentadas de DCV de início precoce da infância ao início da idade adulta. Se o diabetes1 materno tiver uma associação causal com o aumento da taxa de DCV na prole, a prevenção, a triagem e o tratamento do diabetes1 em mulheres em idade fértil podem ajudar a reduzir o risco de DCV na próxima geração.

Leia sobre "Doenças cardiovasculares15", "Diabetes gestacional8" e "Diabetes Mellitus16".

 

Fonte: British Medical Journal (BMJ), em 4 de dezembro de 2019.

 

NEWS.MED.BR, 2019. BMJ: diabetes materno durante a gravidez e início precoce de doença cardiovascular na prole. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1354403/bmj-diabetes-materno-durante-a-gravidez-e-inicio-precoce-de-doenca-cardiovascular-na-prole.htm>. Acesso em: 10 out. 2024.

Complementos

1 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
2 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
3 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
4 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
5 Congênita: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
6 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
7 Diabetes tipo 2: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada tanto por graus variáveis de resistência à insulina quanto por deficiência relativa na secreção de insulina. O tipo 2 se desenvolve predominantemente em pessoas na fase adulta, mas pode aparecer em jovens.
8 Diabetes gestacional: Tipo de diabetes melito que se desenvolve durante a gravidez e habitualmente desaparece após o parto, mas aumenta o risco da mãe desenvolver diabetes no futuro. O diabetes gestacional é controlado com planejamento das refeições, atividade física e, em alguns casos, com o uso de insulina.
9 Congênitas: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
10 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
11 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
12 Insuficiência Cardíaca: É uma condição na qual a quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as demandas normais de oxigênio e de nutrientes do organismo. Refere-se à diminuição da capacidade do coração suportar a carga de trabalho.
13 Trombose Venosa Profunda: Caracteriza-se pela formação de coágulos no interior das veias profundas da perna. O que mais chama a atenção é o edema (inchaço) e a dor, normalmente restritos a uma só perna. O edema pode se localizar apenas na panturrilha e pé ou estar mais exuberante na coxa, indicando que o trombo se localiza nas veias profundas dessa região ou mais acima da virilha. Uma de suas principais conseqüências a curto prazo é a embolia pulmonar, que pode deixar seqüelas ou mesmo levar à morte. Fatores individuais de risco são: varizes de membros inferiores, idade maior que 40 anos, obesidade, trombose prévia, uso de anticoncepcionais, terapia de reposição hormonal, entre outras.
14 Embolia: Impactação de uma substância sólida (trombo, colesterol, vegetação, inóculo bacteriano), líquida ou gasosa (embolia gasosa) em uma região do circuito arterial com a conseqüente obstrução do fluxo e isquemia.
15 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
16 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
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