Estudo revela em detalhes os efeitos duradouros da gravidez em diferentes partes do corpo
Um grande estudo sobre nascimentos, publicado na revista Science Advances, pintou o quadro mais detalhado até agora sobre o verdadeiro impacto da gravidez1 no corpo. Dados de 300.000 nascimentos revelaram como medidas biológicas essenciais são alteradas ao carregar e dar à luz um bebê, apontando, por exemplo, impactos duradouros no fígado2, rins3 e muito mais.
Como qualquer pessoa que já passou por isso sabe, a gravidez1 transforma o corpo profundamente – e agora temos o panorama mais detalhado até o momento de como ela afeta o sangue4, os órgãos e o sistema imunológico5 semanalmente. Isso pode ajudar a fornecer tratamentos pós-gravidez1, bem como revelar os riscos de desenvolver certas condições durante a gravidez1.
“Tivemos uma visão6 sem precedentes de como o corpo da mãe muda a cada semana, para compensar a carga incrível sobre ele, e quanto tempo leva para se recuperar após o parto”, diz Uri Alon, do Instituto de Ciências Weizmann em Rehovot, Israel.
Apesar de sua importância, a gravidez1 tem sido pouco estudada, diz Alon. Por exemplo, pesquisas anteriores monitoraram como cerca de 20 marcadores sanguíneos, como níveis de sal e ferro, mudam em dezenas de mulheres durante a gravidez1 até aproximadamente seis semanas após o parto, usando amostras coletadas durante o atendimento médico padrão. “Esses experimentos geralmente são realizados em um pequeno número de pacientes, e a coleta de amostras é feita apenas uma vez a cada trimestre ou em um momento específico após o parto”, diz Alon.
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Para obter uma visão6 mais abrangente, Alon e seus colegas analisaram amostras de sangue4 coletadas anteriormente de mais de 160.000 mulheres em Israel, com idades entre 25 e 31 anos, que, juntas, tiveram mais de 300.000 gestações. Juntas, essas amostras forneceram um panorama do corpo a cada semana, de 20 semanas antes da concepção8 a 18 meses após o parto, com cada mulher fornecendo dados referentes a alguns pontos no tempo. Essa abordagem fornece insights úteis sobre como o corpo geralmente muda durante a gravidez1 em nível populacional, embora rastrear as mesmas mulheres em todos os momentos forneceria uma imagem melhor das trajetórias individuais, afirma Christoph Lees, do Imperial College London.
Os pesquisadores mapearam alterações em 76 marcadores sanguíneos, como os níveis de proteínas9, gorduras e sais, que indicam a função do fígado2, rins3, sangue4, músculos10, ossos e sistema imunológico5. Eles descobriram que cada um desses marcadores variou amplamente em relação aos níveis pré-concepcionais durante a gravidez1, antes de retornar gradualmente aos níveis pré-gestacionais ou ultrapassar o limite oposto antes de se estabilizar novamente na linha de base pré-gestacional.
Notavelmente, os cientistas descobriram que, enquanto 36 dos marcadores, incluindo aqueles relacionados à coagulação11 sanguínea, se recuperaram dentro de um mês após o parto, 31 marcadores levaram mais de 10 semanas para se recuperar. Por exemplo, algumas alterações no fígado2 e no sistema imunológico5 levaram cerca de cinco meses para retornar aos níveis pré-gestacionais, e vários marcadores renais levaram cerca de meio ano. Alguns marcadores ósseos e musculares levaram ainda mais tempo. O que exatamente isso significa para a saúde12 da mulher não está claro, mas deve ser explorado em trabalhos futuros, diz Alon.
Além disso, alguns outros marcadores nunca retornaram aos níveis basais, mesmo mais de um ano após o parto. “A visão6 um tanto antiquada de que seis ou oito semanas após a gravidez1, todas estão completamente de volta ao normal está claramente errada”, diz Lees.
Por exemplo, os níveis de ferro permaneceram baixos por muito tempo após o parto. “As mulheres têm grande probabilidade de ficar anêmicas (com baixos níveis de ferro) após o parto devido à hemorragia13 e porque o feto14 em desenvolvimento consome grande parte das reservas de ferro do corpo”, diz Lees. “Normalmente, consideramos que leva de seis a 12 meses para que as reservas de ferro voltem ao normal – o estudo sugere que pode levar ainda mais tempo.”
Enquanto isso, os níveis de uma proteína chamada PCR15 permaneceram altos. “A PCR15 é afetada por vários processos diferentes, certamente a inflamação16 é um deles, mas fatores como alterações hormonais também podem afetar isso”, diz Lees. Em outra análise, a equipe analisou marcadores em mulheres que tiveram pré-eclâmpsia17 – uma condição durante a gravidez1 em que a pressão alta pode causar dores de cabeça18, problemas de visão6 e parto prematuro, além de levar a complicações fatais para a mãe e o bebê se não for tratada. Isso revelou que, antes da concepção8, as mulheres que desenvolveram pré-eclâmpsia17 apresentavam níveis elevados de fragmentos19 de células sanguíneas20 chamados plaquetas21 e de uma proteína chamada ALT, em comparação com aquelas que não desenvolveram a condição.
“Durante décadas, a ideia tem sido de que nessa condição a placenta não se implanta corretamente e, se ela não implantar corretamente, o suprimento sanguíneo é interrompido, liberando hormônios e substâncias que levam à hipertensão arterial22 na mãe”, diz Lees. “Mas alguns estudos sugerem que aquelas mulheres que desenvolvem a doença têm uma função cardiovascular diferente antes da gravidez1 – essas descobertas reforçam essa teoria.”
Se estudos adicionais mostrarem que esses marcadores pré-concepcionais realmente indicam o risco de pré-eclâmpsia17, eles poderão ser usados para identificar mulheres com alto risco. “Assim, seria possível orientá-las sobre maneiras de melhorar a saúde12 antes da gravidez1 – como por meio de exercícios e aconselhamento sobre estilo de vida – para reduzir o risco”, diz Lees.
No artigo publicado, os pesquisadores relatam a dinâmica da gravidez1 e do pós-parto revelada por milhões de exames laboratoriais.
Eles contextualizam que a gravidez1 e o parto envolvem alterações dinâmicas em muitos sistemas fisiológicos. No entanto, a dinâmica fisiológica23 durante a gravidez1 e após o parto não foi analisada sistematicamente em alta resolução temporal em uma grande população humana.
Neste estudo, apresentou-se a dinâmica de 76 exames laboratoriais com base em uma análise transversal de 44 milhões de medições de mais de 300.000 gestações. Analisou-se cada exame em intervalos semanais, de 20 semanas antes da concepção8 a 80 semanas após o parto, fornecendo perfis temporais detalhados.
Cerca de metade dos exames leva de 3 meses a um ano para retornar aos valores basais após o parto, destacando a carga fisiológica23 do parto. A precisão dos dados revelou efeitos de suplementos pré-concepcionais, excessos após o parto e respostas temporais complexas a alterações no volume sanguíneo e na taxa de filtração renal24.
Complicações na gravidez1 – diabetes gestacional25, pré-eclâmpsia17 e hemorragia13 pós-parto – mostraram alterações dinâmicas distintas. Esses resultados fornecem um retrato dinâmico abrangente da fisiologia26 sistêmica da gravidez1.
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Fontes:
Science Advances, Vol. 11, Nº 13, em 26 de março de 2025.
New Scientist, notícia publicada em 26 de março de 2025.