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Exposição a múltiplos vegetais versus exposição a vegetal único funciona melhor para aumentar a ingestão em crianças pequenas

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A baixa aceitação é uma razão fundamental para a baixa ingestão de vegetais entre as crianças. Os vegetais são menos doces e mais amargos do que a maioria dos alimentos. Estas propriedades predispõem a uma baixa aceitação devido a gostos e desgostos inatos. No entanto, as preferências alimentares são largamente aprendidas, sendo a infância uma fase crítica para este aprendizado.

A rejeição é uma das principais razões pelas quais os pais deixam de oferecer ou não servir aos seus filhos certos alimentos, o que pode indicar que os pais desconhecem a plasticidade das preferências alimentares, embora outros fatores também desempenhem um papel importante, incluindo o fato de não quererem desperdiçar alimentos ou dinheiro. Uma maior neofobia alimentar1 entre os 3 e 6 anos de idade amplifica a evasão alimentar e pode aumentar a ansiedade dos pais em face2 à recusa da criança em consumir vegetais.

O alto consumo de vegetais está associado a um menor risco de doenças crônicas e mortalidade3. As diretrizes australianas recomendavam 2 porções de vegetais/dia para crianças de 4 a 7 anos, que foram recentemente aumentadas para 4,5 porções/dia para crianças de 4 a 8 anos (uma porção representando 75g de vegetais, incluindo batatas), enquanto observa-se uma ingestão real de vegetais nessa faixa etária de apenas 1,2 porções.

A exposição repetida é um método bem conhecido para aumentar a aceitação e ingestão de vegetais pelas crianças em seu pico de neofobia alimentar1. Essa técnica é baseada no referencial teórico da mera exposição, que é a observação de que a exposição repetida a um estímulo por si só aumenta as avaliações afetivas desse estímulo.

A maioria dos estudos com crianças em seu pico de neofobia alimentar1 utilizou vegetais únicos como alvo de exposição e encontrou aumentos na ingestão dos vegetais específicos estudados. Já a exposição múltipla a vegetais tem sido menos estudada e os resultados foram inconclusivos até agora. Sendo que um estudo não encontrou nenhum efeito e o outro encontrou um efeito positivo.

Dentro do conhecimento dos autores do presente estudo, publicado pelo Journal of Nutrition Education and Behavior, até o momento nenhum estudo comparou a exposição única com a exposição múltipla a vegetais em crianças em seu pico de neofobia alimentar1. Para isso, com o objetivo de avaliar a eficácia da exposição repetida a vários vegetais versus a exposição a um vegetal alvo para o aumento da ingestão em crianças pequenas, foi realizada a presente pesquisa.

O estudo piloto, randomizado4 e controlado (crianças de 4 a 6 anos, n = 32) expôs as crianças 15 vezes durante 5 semanas a um vegetal (alvo único) ou três (alvo múltiplo) em jantares feitos em casa. Um grupo de comparação não mudou os hábitos alimentares. A ingestão de vegetais foi medida por (1) uma refeição consumida no centro de pesquisa, (2) registros alimentares de três dias e (3) ingestão habitual de vegetais (relatório dos pais). As medidas foram coletadas no início e imediatamente após a intervenção (1), no seguimento de três meses (3) ou em ambos (2).

Não houve diferenças entre os grupos na ingestão de vegetais na linha de base. A ingestão usual de vegetais aumentou no grupo “alvo múltiplo” de 0,6 para 1,2 porções/dia e não mudou nos outros grupos (P = 0,02). Os dados dos registros alimentares não foram significativos, mas com pouca potência. A ingestão de vegetais nas refeições (jantar) não foi significativamente diferente entre os grupos.

Concluiu-se nesta pesquisa que a exposição a vários vegetais simultaneamente pode ser mais eficaz do que a exposição a um único vegetal para aumentar a ingestão em crianças pequenas. Recomenda-se uma pesquisa em larga escala para confirmar a eficácia da oferta de variedade na exposição e aprimorar a compreensão dos mecanismos envolvidos.

Leia sobre "Alimentação infantil", "Alimentação saudável" e "Dicas para melhorar a alimentação".

 

Fonte: Journal of Nutrition Education and Behavior, de setembro de 2019, volume 51, número 8.

 

NEWS.MED.BR, 2019. Exposição a múltiplos vegetais versus exposição a vegetal único funciona melhor para aumentar a ingestão em crianças pequenas. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1347133/exposicao-a-multiplos-vegetais-versus-exposicao-a-vegetal-unico-funciona-melhor-para-aumentar-a-ingestao-em-criancas-pequenas.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.

Complementos

1 Neofobia alimentar: É literalmente o “medo de alimentos novosâ€. Este comportamento é caracterizado por uma resistência individual em comer e/ou experimentar “novos†alimentos, ou seja, alimentos diferentes do padrão habitual de consumo. Ela é comum em crianças e adolescentes, mas pode permanecer em adultos e idosos e sofre interação de fatores genéticos e ambientais.
2 Face: Parte anterior da cabeça que inclui a pele, os músculos e as estruturas da fronte, olhos, nariz, boca, bochechas e mandíbula.
3 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
4 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
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