The Lancet: câncer ultrapassa doenças cardiovasculares como principal causa de morte em nações ricas
Até onde sabemos, nenhum estudo anterior documentou prospectivamente a incidência1 de doenças comuns e mortalidade2 relacionada em países de alta renda (HICs), países de renda média (MICs) e países de baixa renda (LICs) com abordagens padronizadas.
Essas informações são essenciais para o desenvolvimento de estratégias de saúde3 globais e específicas ao contexto.
Na análise do estudo Prospective Urban Rural Epidemiology (PURE), publicada pelo periódico The Lancet, o objetivo foi avaliar diferenças na incidência1 de doenças comuns, internações hospitalares relacionadas e mortalidade2 relacionada em uma grande coorte4 contemporânea de adultos de 21 HICs, MICs e LICs em cinco continentes pelo uso de abordagens padronizadas.
Os HICs* foram Canadá, Arábia Saudita, Suécia e Emirados Árabes Unidos.
Os MICs foram Argentina, Brasil, Chile, China, Colômbia, Irã, Malásia, Palestina, Filipinas, Polônia, Turquia e África do Sul.
Os LICs foram Bangladesh, Índia, Paquistão, Tanzânia e Zimbábue.
O estudo PURE é um estudo prospectivo5 de coorte4 de base populacional de indivíduos com idades entre 35 e 70 anos, inscritos nesses 21 países nos cinco continentes. Os principais resultados foram a incidência1 de doenças cardiovasculares6 fatais e não fatais, cânceres, lesões7, doenças respiratórias e internações hospitalares, e foi calculada a incidência1 padronizada por idade e padronizada por sexo desses eventos por 1.000 pessoas/ano.
Saiba mais sobre "Doenças cardiovasculares6" e "Câncer8".
Essa análise avalia a incidência1 de eventos em 162.534 participantes inscritos nas duas primeiras fases do estudo principal do PURE, entre 6 de janeiro de 2005 e 4 de dezembro de 2016, e avaliados por uma média de 9,5 anos (IQR 8,5–10,9).
Durante o acompanhamento, 11.307 (7,0%) participantes morreram, 9.329 (5,7%) participantes tiveram doença cardiovascular, 5.151 (3,2%) participantes tiveram câncer8, 4.386 (2,7%) participantes tiveram lesões7 que exigiram internação hospitalar, 2.911 (1,8%) participantes apresentaram pneumonia9 e 1.830 (1,1%) participantes apresentaram doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
As doenças cardiovasculares6 ocorreram com mais frequência em LICs (7,1 casos por 1.000 pessoas/ano) e em MICs (6,8 casos por 1000 pessoas/ano) do que em HICs (4,3 casos por 1.000 pessoas/ano).
No entanto, cânceres incidentes10, lesões7, DPOC e pneumonia9 foram mais comuns em HICs e menos comuns em LICs.
As taxas gerais de mortalidade2 nos LICs (13,3 mortes por 1.000 pessoas/ano) foram o dobro das em MICs (6,9 mortes por 1.000 pessoas/ano) e quatro vezes mais altas que nos HICs (3,4 mortes por 1.000 pessoas/ano). Esse padrão de maior mortalidade2 nos LICs e menor nos HICs foi observado para todas as causas de morte, exceto o câncer8, onde a mortalidade2 foi semelhante entre os diferentes níveis de renda dos países.
A doença cardiovascular foi a causa mais comum de mortes no geral (40%), mas representou apenas 23% das mortes em HICs (vs 41% em MICs e 43% em LICs), apesar de mais fatores de risco de doença cardiovascular (conforme julgado pelos escores de risco INTERHEART) nos HICs e o menor número desses fatores de risco nos LICs.
A proporção de mortes por doenças cardiovasculares6 e por câncer8 foi de 0,4 em HICs, 1,3 em MICs e 3,0 em LICs, e quatro MICs com renda superior (Argentina, Chile, Turquia e Polônia) apresentaram proporções semelhantes aos HICs.
As taxas de primeira internação hospitalar e uso de medicamentos para doenças cardiovasculares6 foram mais baixas nos LICs e mais altas nos HICs.
O estudo concluiu que, entre os adultos com idades entre 35 e 70 anos, as doenças cardiovasculares6 são a principal causa de mortalidade2 globalmente. No entanto, nos países de alta renda e em algums países de renda média superior, as mortes por câncer8 são agora mais comuns que as por doenças cardiovasculares6, indicando uma transição nas causas predominantes de mortes na meia-idade.
Conforme a doença cardiovascular diminuir em muitos países, a mortalidade2 por câncer8 provavelmente se tornará a principal causa de morte. A alta mortalidade2 nos países mais pobres não está relacionada a fatores de risco, mas pode estar relacionada ao menor acesso aos cuidados de saúde3.
Leia também sobre "Prevenção do câncer8" e "Doenças que mais matam no mundo e no Brasil".
* O estudo não incluiu os Estados Unidos, mas pesquisas anteriores mostram que o câncer8 é agora a principal causa de morte, superando as doenças cardiovasculares6, em cerca de metade dos estados, e é a principal causa de morte na população hispânica, conforme relatado pelo Medscape Medical News.
Fontes:
The Lancet, 03 de setembro de 2019.
Medscape Medical News, 03 de setembro de 2019.