Pneumonia em crianças que necessitam de internação hospitalar: vírus são responsáveis por mais de 60% dos casos em estudo realizado em 7 países e publicado no The Lancet
A pneumonia1 é a principal causa de morte entre crianças menores de 5 anos. Neste estudo, estimou-se as causas de pneumonia1 em crianças jovens africanas e asiáticas, utilizando novos métodos analíticos aplicados a achados clínicos e microbiológicos2.
Leia sobre "Pneumonia1 na infância", "Bronquiolite" e "Taquipneia3 e Bradipneia".
O estudo internacional de caso-controle em vários locais (nove locais de estudo em sete países: Bangladesh, Gâmbia, Quênia, Mali, África do Sul, Tailândia e Zâmbia) foi realizado em todos os locais inscritos ao longo de 24 meses. Os casos foram crianças com idades entre 1 e 59 meses, internadas em hospital, com pneumonia1 grave. Os controles foram crianças pareadas por grupos de idade selecionadas aleatoriamente em comunidades próximas aos locais de estudo.
Nasofaringe4 e orofaringe5 (NP-OP), urina6, sangue7, expectoração8 induzida, aspirado pulmonar, líquido pleural e aspirados gástricos foram testados com culturas, PCR9 multiplex ou ambos. Análises primárias foram restritas a casos sem infecção10 por HIV11 e com radiografias torácicas anormais e a controles sem infecção10 por HIV11. Aplicou-se uma análise bayesiana de classe latente parcial para estimar as probabilidades de agentes etiológicos nos níveis individual e populacional, incorporando dados de caso e controle.
Entre 15 de agosto de 2011 e 30 de janeiro de 2014, foram registrados 4.232 casos e 5.119 controles comunitários. O grupo de análise primária foi composto por 1.769 (41,8% dos 4.232) casos sem infecção10 pelo HIV11 e com radiografias de tórax12 positivas e 5.102 (99,7% dos 5.119) controles comunitários sem infecção10 pelo HIV11.
Sibilância estava presente em 555 (31,7%) de 1.752 casos (intervalo por local 10,6-97,3%). A relação de casos fatais em 30 dias foi de 6,4% (114 de 1.769 casos). As hemoculturas foram positivas em 56 (3,2%) dos 1.749 casos, e o Streptococcus pneumoniae foi a bactéria13 mais comumente isolada (19 [33,9%] de 56).
Quase todos os casos (98,9%) e controles (98,0%) tiveram pelo menos um patógeno detectado por PCR9 na amostra NP-OP. A detecção do vírus14 sincicial respiratório (RSV), parainfluenza vírus14, metapneumovírus humano, vírus14 influenzae, S.pneumoniae, Haemophilus influenzae tipo B (Hib), H.influenzae não tipo B e Pneumocystis jirovecii em espécimes de NP-OP foi associada ao status do caso.
A análise etiológica estimou que os vírus14 representaram 61,4% das causas (intervalo credível de 95% [CrI] 57,3-65,6), enquanto as bactérias representaram 27,3% (23,3-31,6) e a Mycobacterium tuberculosis 5,9% (3,9-8,3).
Os vírus14 foram menos comuns (54,5%, CrI 95% de 47,4-61,5 vs 68,0%, 62,7-72,7) e as bactérias mais comuns (33,7%, 27,4‐40,8 vs 22,8%, 18,3–27,6) em casos de pneumonias muito graves do que nos casos graves. O RSV teve a maior fração etiológica (31,1%, CrI 95% 28,4-34,2) de todos os patógenos. O rinovírus humano, o metapneumovírus humano A ou B, o vírus14 parainfluenza humano, o S.pneumoniae, o M.tuberculosis e o H.influenzae representaram, cada um, 5% ou mais da distribuição etiológica.
Foram observadas diferenças na fração etiológica por idade para Bordetella pertussis, parainfluenza tipos 1 e 3, parecovírus-enterovírus15, P.jirovecii, RSV, rinovírus, Staphylococcus aureus e S.pneumoniae, e diferenças por gravidade para RSV, S.aureus, S.pneumoniae e parainfluenza tipo 3.
Os dez principais patógenos de cada local representaram 79% ou mais da fração etiológica do local.
Neste estudo, financiado pela Bill & Melinda Gates Foundation, um pequeno conjunto de patógenos foi responsável pela maioria dos casos de pneumonia1 que necessitaram de internação hospitalar. Prevenir e tratar um subgrupo de patógenos pode afetar substancialmente os resultados da pneumonia1 infantil.
Fonte: The Lancet, em 27 de junho de 2019.