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Antibiótico para apendicite aguda não complicada: resultados do acompanhamento de 5 anos do ensaio clínico APPAC

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Qual é a taxa de recorrência1 a longo prazo em pacientes com apendicite2 aguda não complicada tratados com antibióticos? Neste seguimento observacional de 5 anos, dos 257 pacientes inicialmente tratados com antibióticos para apendicite2 aguda não complicada, a incidência3 cumulativa de apendicite2 recorrente em 1, 2, 3, 4 e 5 anos foi de 27,3% em 1 ano; 34,0% em 2; 35,2% em 3; 37,1% em 4 e 39,1% em 5 anos. Os dados sugerem que o tratamento inicial com antibióticos, em vez de cirurgia, pode ser uma alternativa viável.

Saiba mais sobre "Apendicite2".

O ensaio clínico randomizado4 multicêntrico Appendicitis Acuta (APPAC) determinou a taxa de recorrência1 tardia de apendicite2 após antibioticoterapia para o tratamento da apendicite2 aguda não complicada.

Houve um acompanhamento observacional por cinco anos de 530 pacientes, com idades entre 18 e 60 anos, com apendicite2 aguda não complicada confirmada por tomografia computadorizada5. Eles foram randomizados para se submeter a uma apendicectomia (n=273) ou receber antibioticoterapia (n=257). O teste inicial foi realizado de novembro de 2009 a junho de 2012 na Finlândia; o último acompanhamento foi em 6 de setembro de 2017. Esta análise atual focou-se na avaliação dos resultados de 5 anos para o grupo de pacientes tratados apenas com antibióticos.

As intervenções avaliadas foram a apendicectomia aberta vs antibioticoterapia com Ertapenem intravenoso por 3 dias, seguido por 7 dias de levofloxacina oral e metronidazol. Os desfechos secundários pré-especificados relatados em 5 anos de seguimento incluíram recorrência1 tardia da apendicite2 (após 1 ano) após tratamento com antibiótico, complicações, tempo de internação e licença por doença.

Dos 530 pacientes (201 mulheres; 329 homens) inscritos no estudo, 273 pacientes (mediana de idade de 35 anos [IQR, 27-46]) foram randomizados para serem submetidos à apendicectomia e 257 (idade média de 33 anos [IQR, 26-47]) foram randomizados para receber antibioticoterapia.

Além de 70 pacientes que inicialmente receberam antibióticos, mas foram submetidos à apendicectomia no primeiro ano (27,3% [IC 95%, 22,0%-33,2%]; 70/256), 30 pacientes tratados com antibióticos adicionais (16,1% [IC 95% ,11,2% -22,2%], 30/186) foram submetidos à apendicectomia entre 1 e 5 anos.

A incidência3 cumulativa de recorrência1 de apendicite2 foi de 34% (IC 95%, 28,2% - 40,1%; 87/256) aos 2 anos; 35,2% (IC 95%, 29,3% - 41,4%; 90/256) aos 3 anos; 37,1 % (IC 95%, 31,2% - 43,3%; 95/256) aos 4 anos e 39,1% (IC 95%, 33,1% - 45,3%; 100/256) aos 5 anos.

Dos 85 pacientes no grupo de antibióticos que subsequentemente foram submetidos à apendicectomia por apendicite2 recorrente, 76 tiveram apendicite2 não complicada, 2 tiveram apendicite2 complicada e 7 não tiveram apendicite2. Aos 5 anos, a taxa de complicação geral (infecções6 do sítio cirúrgico, hérnias7 incisionais, dor abdominal e sintomas8 obstrutivos) foi de 24,4% (IC 95%, 19,2% -30,3%) (n=60/246) no grupo apendicectomia e 6,5% (IC 95%, 3,8%-10,4%) (n=16/246) no grupo de antibióticos (P<0,001), que representa 17,9 pontos percentuais (IC 95%, 11,7-24,1) a menos do que após a cirurgia. Não houve diferença entre os grupos quanto ao tempo de internação, mas houve uma diferença significativa nas licenças médicas (11 dias a mais para o grupo que fez apendicectomia).

Concluiu-se que entre os pacientes que foram inicialmente tratados com antibióticos, a probabilidade de recorrência1 tardia dentro de 5 anos foi de 39,1%. Este acompanhamento a longo prazo apoia a viabilidade do tratamento apenas com antibióticos como uma alternativa à cirurgia para apendicite2 aguda não complicada.

Veja também sobre "Tratamento da apendicite2", "Apendagite", "Adenite mesentérica9", "Dor abdominal" e "Apêndice10 pode ter a função de recolonizar o cólon11 após diarreias ou tratamentos com antibióticos".

 

Fonte: The Journal of the American Medical Association (JAMA) Network, em 25 de setembro de 2018

 

NEWS.MED.BR, 2018. Antibiótico para apendicite aguda não complicada: resultados do acompanhamento de 5 anos do ensaio clínico APPAC. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1324733/antibiotico-para-apendicite-aguda-nao-complicada-resultados-do-acompanhamento-de-5-anos-do-ensaio-clinico-appac.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.

Complementos

1 Recorrência: 1. Retorno, repetição. 2. Em medicina, é o reaparecimento dos sintomas característicos de uma doença, após a sua completa remissão. 3. Em informática, é a repetição continuada da mesma operação ou grupo de operações. 4. Em psicologia, é a volta à memória.
2 Apendicite: Inflamação do apêndice cecal. Manifesta-se por abdome agudo, e requer tratamento cirúrgico. Sua complicação mais freqüente é a peritonite aguda.
3 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
4 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
5 Tomografia computadorizada: Exame capaz de obter imagens em tons de cinza de “fatias†de partes do corpo ou de órgãos selecionados, as quais são geradas pelo processamento por um computador de uma sucessão de imagens de raios X de alta resolução em diversos segmentos sucessivos de partes do corpo ou de órgãos.
6 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
7 Hérnias: É uma massa circunscrita formada por um órgão (ou parte de um órgão) que sai por um orifício, natural ou acidental, da cavidade que o contém. Por extensão de sentido, excrescência, saliência.
8 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
9 Mesentérica: Relativo ao mesentério, ou seja, na anatomia geral o mesentério é uma dobra do peritônio que une o intestino delgado à parede posterior do abdome.
10 Apêndice: Extensão do CECO, em forma de um tubo cego (semelhante a um verme).
11 Cólon:
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