Segurança e eficácia mosquitocida da ivermectina coadministrada com dihidroartemisinina-piperaquina em adultos com malária: estudo IVERMAL
A ivermectina está sendo considerada para a administração em massa de medicamentos para a malária, devido à sua capacidade de matar mosquitos que se alimentam de indivíduos recentemente tratados. No entanto, doses únicas padrão de 150 a 200 μg/kg usadas para oncocercose e filariose linfática têm um efeito mosquitocida de curta duração (<7 dias).
Como a ivermectina é bem tolerada até 2000 μg/kg, objetivou-se neste trabalho estabelecer a segurança, tolerabilidade e eficácia mosquitocida de ciclos de 3 dias de doses altas de ivermectina, co-administrada com um tratamento padrão para malária.
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Foi realizado um estudo randomizado1, duplo-cego, controlado por placebo2 e de superioridade no Jaramogi Oginga Odinga Teaching and Referral Hospital (Kisumu, Quênia). Adultos (com idades entre 18 e 50 anos) eram elegíveis se tivessem confirmado a malária por Plasmodium falciparum não complicada e concordassem com o cronograma de acompanhamento.
Os participantes foram distribuídos aleatoriamente (1: 1: 1) utilizando envelopes lacrados, estratificados por sexo e índice de massa corporal3 (homens: <21 vs ≥21 kg/m²; mulheres: <23 vs ≥23 kg/m²), com bloqueios permutados de três, para receber 3 dias de ivermectina 300 μg/kg por dia, ivermectina 600 μg/kg por dia, ou placebo2, todos co-administrados com 3 dias de diidroartemisinina-piperaquina.
Mosquitos Anopheles gambiae sensu stricto criados em laboratório foram alimentados com o sangue4 dos pacientes tratados nos dias 0, 2 + 4h, 7, 10, 14, 21 e 28, e a sobrevivência5 do mosquito foi avaliada diariamente durante 28 dias após a alimentação. O desfecho primário foi a mortalidade6 cumulativa de 14 dias de mosquitos alimentados 7 dias após o tratamento com ivermectina (de participantes que receberam pelo menos uma dose da medicação do estudo).
Os resultados mostram que entre 20 de julho de 2015 e 7 de maio de 2016, 741 adultos com malária foram avaliados quanto à elegibilidade, dos quais 141 foram aleatoriamente designados para receber ivermectina 600 μg/kg por dia (n=47), ivermectina 300 μg/kg por dia (n=48) ou placebo2 (n=46). 128 pacientes (91%) compareceram ao desfecho primário 7 dias após o tratamento.
Em comparação com o placebo2, a ivermectina foi associada a uma mortalidade6 de mosquitos após 14 dias, quando alimentada com sangue4 colhido 7 dias após o tratamento (ivermectina 600 μg/kg por risco-dia [RR] 2, 26, IC 95% 1,93–2,65; p<0,0001; razão de risco [HR] 6,32; 4,61–8,67, p<0,0001; ivermectina 300 μg/kg por dia RR 2,18; 1,86–2,57, p<0,0001; HR 4,21; 3,06–5,79; p<0,0001).
A mortalidade6 dos mosquitos permaneceu significativamente aumentada 28 dias após o tratamento (ivermectina 600 μg/kg por dia RR 1,23; 1,01–1,50, p=0,0374 e ivermectina 300 μg/kg por dia 1,21; 1,01–1,44, p=0,337). Cinco (11%) de 45 pacientes recebendo ivermectina 600 μg/kg por dia, dois (4%) de 48 pacientes recebendo ivermectina 300 μg/kg por dia e nenhum dos 46 pacientes que receberam placebo2 tiveram um ou mais eventos adversos relacionados ao tratamento.
Concluiu-se que a ivermectina em ambas as doses avaliadas foi bem tolerada e reduziu a sobrevivência5 do mosquito por pelo menos 28 dias após o tratamento. Ivermectina 300 μg/kg por dia, durante 3 dias, proporcionou um bom equilíbrio entre eficácia e tolerabilidade, e este fármaco7 mostra-se promissor como uma nova ferramenta potencial para a eliminação da malária.
Este estudo foi financiado pela Malaria Eradication Scientific Alliance (MESA) e pelo US Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
Fonte: The Lancet Infectious Diseases, publicado em 27 de março de 2018