Uma cura para a doença de Crohn em 2032?
Em Editorial do The Lancet, Séverine Vermeire e colaboradores relataram os resultados do estudo FITZROY, um ensaio controlado e randomizado1, de fase 2, que comparou o inibidor de JAK1 filgotinib com placebo2 para remissão clínica de pacientes com doença de Crohn3 moderada a grave.
Os estudiosos avaliaram que apesar do tamanho modesto, a avaliação em curto prazo e os resultados preliminares, o estudo FITZROY oferece uma esperança futura por várias razões: a abordagem diferente ao bloqueio de citocinas4, a dosagem oral, a estratificação por tratamento prévio com compostos anti-TNF e os resultados significativos relatados pelos pacientes. Quando considerado junto com um estudo recente de células-tronco5 para fístula6 perianal, ele mostra uma mudança para um pensamento mais amplo em maneiras de melhorar o tratamento da doença de Crohn3.
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O estudo FITZROY (174 doentes) avaliou o uso de filgotinib uma vez por dia versus placebo2 em pacientes com doença de Crohn3 ativa moderada a grave e ulceração7 da mucosa8. Os doentes recrutados nunca tinham usado anti-TNF ou não responderam ao anti-TNF. O estudo compreendeu duas partes, cada uma com 10 semanas de duração: a primeira parte investigou a segurança e eficácia de 200 mg de filgotinib, uma vez por dia, versus placebo2; enquanto a segunda parte do estudo investigou a continuação do tratamento até 20 semanas num estudo exploratório de observação.
O estudo FITZROY atingiu o desfecho primário da remissão clínica nas primeiras dez semanas: a percentagem de doentes que obteve uma pontuação no Índice Crohn's Disease Activity Index (CDAI) abaixo de 150 foi significativamente maior nos doentes tratados com filgotinib versus doentes que receberam placebo2. Observou-se também melhora na qualidade de vida, histopatologia9, avaliação endoscópica e biomarcadores de atividade inflamatória nas primeiras dez semanas do estudo. As respostas clínicas foram mantidas da 10ª a 20ª semanas. Os não respondedores no grupo do placebo2 das primeiras 10 semanas receberam filgotinib 100 mg durante a segunda parte do estudo e mostraram melhora na remissão clínica.
Em geral, no estudo FITZROY com 20 semanas de tratamento, filgotinib demonstrou um perfil de segurança favorável, consistente com os achados dos estudos DARWIN anteriores em pacientes com artrite reumatoide10. Um aumento na hemoglobina11 também foi observado no estudo FITZROY, sem diferença entre filgotinib e placebo2. Não foram observadas alterações clinicamente significativas a partir da linha de base nos neutrófilos12 ou nos testes de função hepática13.
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É importante lembrar que o filgotinib é uma droga de investigação e ainda não foram estabelecidas a sua eficácia e segurança.
O Editorial do The Lancet ainda observou que desde 1932, quando Burrill Crohn, Leon Ginzburg e Gordon Oppenheimer codificaram a ileíte14 regional como uma entidade clínica e patológica distinta, abordagens sucessivas aos cuidados dos portadores dessa patologia15 têm sido incapazes de alcançar o sucesso universal contra a natureza recidivante16 da doença. A investigação não está acompanhando as necessidades. A cada ano, a doença de Crohn3 prejudica a qualidade de vida de um número crescente de jovens adultos, em vários países.
Os achados do estudo FITZROY aumentam o conhecimento acumulado de fatores genéticos, ambientais, microbiológicos17, moleculares e imunológicos envolvidos na doença inflamatória intestinal. Eles devem servir para reforçar e acelerar o recente impulso na investigação sobre a doença de Crohn3 e a tradução de novos insights sobre oportunidades de prevenção e intervenção precoce.
Que melhor maneira de marcar o centenário da descrição da Doença de Crohn3 daqui há 15 anos do que oferecendo nova esperança à próxima geração de pessoas com a doença? Fazer isso requer biomarcadores mais confiáveis, que melhor se correlacionam com os achados endoscópicos e prognósticos, melhor compreensão da resposta individual, atitudes mais ousadas sobre os tratamentos, seus objetivos e mais ênfase no cuidado em ambientes de recursos limitados. Mecanismos alternativos, como a reparação de vias de sinalização desordenada e o microbioma18, também devem ser considerados.
Na contagem regressiva até 2032, o progresso real pode ser feito com um esforço concentrado e colaborativo; particularmente se pesquisadores e financiadores aspirarem para além do objetivo de remissão profunda para a possibilidade de cura da doença.
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Fonte: The Lancet, volume 389, número 10066, de 21 de janeiro de 2017